Extraído do livro
GENEALOGIA SERTANEJA – Capítulo IV
Precisei estudar os
hábitos dos nordestinos para entender como era a vida dos meus ancestrais.
É sabido que nos
séculos XVIII e XIX no Nordeste,
como em todo o Brasil, os hábitos e
costumes eram, para nós que vivemos no século XXI, realmente aterrorizantes.
Principalmente quando se trata do papel da mulher
naquela sociedade, que se resumia tão somente em ficar dentro da casa, sempre
ocupada com os serviços domésticos, ou seja, cozinhando, lavando, passando e
costurando, cuidando dos filhos (geralmente mais de dez), subordinadas sempre
ao pai ou ao marido, e, não raro, submetidas a maus tratos (era comum o marido bater
na mulher para “corrigi-la”)..
A mulher tinha na
sociedade um papel de submissão e de inferioridade em relação ao homem.
É bom salientar que
mal a menina atingia doze anos era considerada uma “moça”, pronta para se
casar. Os pais lhes “arrumavam” o marido, e o casamento ocorria quando tinham
entre 12 e 16 anos. Se atingissem 20 anos de idade eram consideradas “moças
velhas” que estavam no “caritó”.
As “solteironas” viravam “babás” dos sobrinhos.
Segundo Horácio de
Almeida* , “... os
casamentos precoces e mais particularmente os casamentos consanguíneos, à força
de repetidos, acabaram por constituir norma adotada a preceito pelas gerações
passadas. Eram frequentes as uniões consanguíneas, sobretudo de tios com
sobrinhas, não só pelo preconceito de branquidade, como pelo receio de dar ingresso
a estranhos no seio da família... os casamentos davam certo, talvez mais do que
hoje, mas isso se devia acima de tudo a um fator preponderante, que era a submissão
da mulher – peça silenciosa do lar – sem noção de personalidade e tampouco sem
possibilidades econômicas que lhe assegurassem independência. Reduzida a um ser
humano protegido, resignava-se a desempenhar a função de procriar e às vezes
até de criar filhos naturais do marido.”
Fiquei realmente
chocada quando descobri que algumas de minhas ancestrais se casaram no início
da adolescência, umas com apenas catorze anos de idade.
Mas, este era o
costume da época.
Naquela época (entre os séculos XVII e XIX) ser mulher
era difícil. Ser homem era bem mais fácil.
Em uma sociedade
machista os homens eram privilegiados: podiam escolher
a profissão
(geralmente igual à do pai) e suas futuras esposas. Os homens mandavam nas suas
esposas, nos seus filhos e nos seus escravos.
Longe da “Corte” o
nordestino do século XIX desconhecia o que se passava no Rio de Janeiro. Falava
português arcaico, enriquecido de inúmeros vocábulos indígenas. Estima-se que
hoje, temos mais de dez mil palavras oriundas do tupi, entre as quais aquelas
já utilizadas naqueles tempos como beiju, tapioca, tipoia, arapuca, pindaíba,
peteca, capim, cipó, mingau, toca e outras tantas de
origem africana como maribondo, mocotó, mangar e xingar.
No Nordeste, como em
todo o Brasil, a influência indígena na geografia é impressionante: rios (Abiaí, Guajú, Potengi e Inhobim),
cidades (Itaporanga, Juripiranga, Parnamirim
e Sipiúba), nome de serras (Borborema,
Jabitacá e Mogiqui), tudo deriva da língua indígena, até os nomes de alguns
estados como PARAÍBA, PIAÚI E PERNAMBUCO.
Os nordestinos
dormiam em redes. As camas eram raras. Em muitas casas havia cabos de madeira
fincados no chão para pendurar as redes, pois as paredes das casas (geralmente
de taipa) não aguentavam o peso.
Até a metade do século XIX, não existiam privadas ou banheiros. Nas casas de pessoas
com melhores condições financeiras usava-se o penico (também chamado de urinol), que era um recipiente
arredondado e fundo (parecendo uma grande xícara), o qual era mantido nos
quartos debaixo da cama para ser usado principalmente à noite, quando era
perigoso sair de casa e arriscar-se no mato a fim de satisfazer as necessidades
fisiológicas.
O penico foi usado
até a década de 70 do século XX, em áreas rurais onde não existiam banheiros ou
privadas, ou estas eram localizadas no quintal da residência e não em seu
interior.
Até a metade do
século XIX a maioria das mulheres não usava nenhum tipo de roupa íntima.
Calcinhas eram usadas somente por prostitutas. Desconheciam os métodos de
concepção e por isso as famílias eram grandes, somando-se a isso a precocidade
das mulheres nos casamentos.
Para deixar a roupa
mais lisa, usava-se a “goma” de mandioca e água, daí até hoje se usar a
expressão “engomar a roupa”.
Antigamente muitos
sertanejos possuíam, além de suas moradias regulares (sítios ou fazendas,) as “casas de rua”, que eram ocupadas
nas “festas do ano” (festa da
padroeira, Natal e Semana Santa) e, já no final do século XIX, também eram
ocupadas nos dias de feira (esse costume dura até hoje). Em Santa Cruz/RN, aos sábados – dia da
feira – até hoje muitos ocupam suas casas na cidade para “fazer a feira”
retornando para seus sítios na zona rural no final do domingo.
Até o século XIX, nas
ribeiras encontravam-se quase sempre membros de uma mesma família, em média 40
pessoas, sem contar os escravos. As povoações e vilas eram quase sempre
formadas do mesmo clã, sendo hábito comum o casamento entre primos, que é
explicado em parte pela proximidade dos membros da família.
Pude comprovar que
vários membros da minha família se casaram entre si com certa frequência, o que
facilitou minha pesquisa, pois reduziu em muito o número de meus
ancestrais.
Neste aspecto, é
importante salientar que muitos dos cristãos-novos, que se estabeleceram na
Paraíba, se dedicaram ao cultivo de tabaco e café. O que mais diferenciava um
cristão-novo é que tinham duas ou mais atividades diferentes e mantinham residência
em uma vila ou povoação, mas circulavam pela região onde a rede de parentesco
era reforçada pelos casamentos entre membros da mesma família, o que me faz
acreditar que a origem da família PINTO seja mesmo de algum cristão-novo.
* Horácio de Almeida - vide postagem sobre bibliografia
2 comentários:
Quais eram as principais religiões e crenças?
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