domingo, 23 de fevereiro de 2014

TROPEIROS DA BORBOREMA

Ouvir Luiz Gonzaga, que além de cantor foi um dos melhores compositores de música popular brasileira, ainda me provoca grande emoção. Sua voz, com o típico sotaque pernambucano, entoando canções que falam da "alma do nordestino", me remete ao sertão e a sua gente.
Uma das músicas que gosto muito muito é, sem dúvida, TROPEIROS DA BORBOREMA.
   
Estala relho "marvado'
Recordar hoje é meu tema
Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema
São tropas de burros que vêm do sertão
Trazendo seus fardos de pele e algodão
O passo moroso só a fome galopa
Pois tudo atropela os passos da tropa
O duro chicote cortando seus lombos
Os cascos feridos nas pedras aos tompos
A sede e a poeira o sol que desaba
Rolando caminho que nunca se acaba
Estala relho marvado
Recordar hoje é meu tema
Quero é rever os antigos tropeiros da Borborema
Assim caminhavam as tropas cansadas
E os bravos tropeiros buscando pousada
Nos ranchos e aguadas dos tempos de outrora
Saindo mais cedo que a barra da aurora
Riqueza da terra que tanto se expande
E se hoje se chama de Campina Grande
Foi grande por eles que foram os primeiros
Ó tropas de burros, ó velhos tropeiros"
Impossível ouvir a música acima sem fazer uma "viagem" ao passado, no tempo em que a TROPA era o mais importante meio de transporte do Brasil, praticamento o único para cargas.
A TROPA nada mais era que um número variável de mulas em cujo lombo se colocava a carga.
Os tropeiros, homens que conduziam a tropa, tinham um trabalho árduo e penoso durante a viagem que poderia durar de dias ou meses.
Era no lombo das mulas que chegavam do sertão os produtos ali produzidos, Era no lombo das mulas que o sertão era abastecido com os produtos do litoral.
Assim, o papel dos tropeiros era fundamental para a vida econômica, tanto no período colonial como no Império.
Quase toda a "riqueza" era transportada pelas tropas.
A dificuldade dos caminhos, o mau tempo, as passagens dos rios, a travessia de serras, o tratamento diário com os animais, os atoleiros, a falta de pastagens e de água eram as preocupações diárias.
A rotina diária. A cada pernoite era necessário desmontar a carga para que os animais descansassem e se alimentarem. Dependendo do tamanho da tropa (que podia chegar até a duzentos animais) era trabalho para mais de duas horas. No dia seguinte, montar de novo a tropa para seguir viagem.
Geralmente, a marcha diária, dependendo do terreno a ser percorrido, era de três a cinco léguas, ou seja, cerca de 18 a 30 Km.
Assim, por todas as dificuldades o custo do transporte era bem elevado.     
Além do chefe da tropa, existiam os arrieiros e camaradas, todos portando arma de fogo e facões para garantirem a segurança da carga e dos animais.
No início, os próprios tropeiros construíam "ranchos" na beira dos caminhos. Com o passar do tempo muitos destes ranchos se tornaram povoados e, posteriormente, vilas e cidades. Os antigos caminhos se transformaram em estradas carroçáveis, depois estradas.
Até a metade do século passado ainda se podia ver no Nordeste as tropas. Não tenho conhecimento que nos dias atuais ainda é utilizado naquela região tal meio de transporte. Sei da existência de pequenas tropas em Minas Gerais, em regiões serranas, de difícil acesso.