domingo, 15 de fevereiro de 2015

O RIO GRANDE DO NORTE EM 1839

O RIO GRANDE DO NORTE EM 1839
Sem dúvida, o relatório apresentado à Assembleia Legislativa da província do RN em 7/9/1839, pelo presidente da província Manoel de Assis Mascarenhas, é uma fonte de dados que não pode ser descartada por qualquer pesquisador.

É sempre bom lembrar que a partir de 1831 o país sofreu imensas mudanças. No chamado Período Regencial (1831 até 1840), onde D. Pedro II aguardava a maioridade, ou seja, alcançar a idade exigida para governar o país, muitas transformações ocorreram na esfera politica/administrativa, com destaque para o Ato Adicional de 1834, que concedia maior autonomia às províncias, já que poderiam formar suas próprias Assembleias Legislativas, que além de criarem leis ainda tinham o poder de nomear os funcionários.

Outra medida criada pelo Ato Adicional foi o estabelecimento da Guarda Nacional (vide postagem no blog), que deveria manter a ordem vigente, mas acabou nas mãos dos grandes proprietários de terras e que levou ao “coronelismo”, que no Nordeste foi um dos fatores que contribui para a pobreza e desigualdade social, com a exclusão de grande parte da população.

Antes do Ato Adicional, em 1832, foi aprovado o Código de Processo Criminal, que definia como seria exercida a justiça. Determinava eleições locais para juízes de paz, medida que dava autonomia às províncias a área judicial.
Assim, o relatório apresentado por MANOEL DE ASSIS MASCARENHAS, em 1839, com mapas estatísticos e considerações a respeito dos mesmos oferece uma visão do que acontecia na província na época.

O relatório começa com um mapa dos empregados da Secretaria do governo da Província:
Secretário: João Carlos Wanderley
Oficial: Manoel Joaquim Pereira do Lago
1° escriturário: Luís Pedro Alvares França
2° escriturário: José Martiniano da Costa Monteiro
Amanuense: José Rodrigues Pinheiro
                      João Ferreira Nobre
Porteiro: Manoel Joaquim Sucena
Contínuo: José Francisco de Paula Moreira  

Sobre a segurança pública dá notícia do “bando de salteadores” liderado por Wenceslau Alves de Almeida, conhecido no Ceará desde a década anterior por ter sido capanga de um dos maiores matadores, depois criado seu próprio bando. Ele e seu bando atacavam em Portalegre e Apodi, mas com intervenção do governo teria fugido para o interior do Ceará.

Quanto à educação o relatório dá notícia de 22 escolas de primeiras letras (instrução primária), com professores, sendo 3 de meninas.
Total de 712 alunos (meninos) e 75 alunas (meninas).
As professoras eram: 10 Em Natal: Josefa Soares da Câmara com 34 alunas; Villa de São José: Florinda Joaquina Alvares com 16 alunas e Villa da Princeza Maria Joaquina da Trindade com 25 alunas.

Destaques para os professores José Bento da Fonseca em Natal com 112 alunos, Antônio Felix de Cantalício em Papari com 52 alunos. Francisco de Paula Furtado em Serra dos Martins com 48 alunos.

sábado, 14 de fevereiro de 2015

SIGNIFICADO DE ALGUMAS PALAVRAS USADAS NA GENEALOGIA

SIGNIFICADO DE ALGUMAS PALAVRAS USADAS NA GENEALOGIA

Agnação - Parentesco de consanguinidade por linha masculina.
Alcunha – É um apelido que se põe a qualquer pessoa e pelo qual fica sendo conhecida durante sua vida.
Apelido – É o sobrenome de família; alcunha.
Arquiavô - Avô muito remoto, bem afastado.
Árvore de costados –  É a descrição, com ou sem desenhos ou gráficos, das relações de parentesco dos quatro avós de uma pessoa.
Árvore genealógica –  Parte de uma árvore de costados abrangendo os ascendentes ou descendentes.. O mesmo que árvore de costados.
Ascendência - Série de gerações anteriores a um indivíduo.
Ascendente - Antepassado; de quem se descende.
Avô -- Pai do pai ou da mãe; (plural avós ou avôs, este pouco usado); 
Banho - Proclama de casamento. Mais usado no plural : banhos..
Batizado - Cerimônia do sacramento do batismo.
Bisavô - Pai do avô ou da avó.
Bisneto – Filho do neto.
Casamento - União legítima entre homem e mulher.
Cognação – Parentesco por consanguinidade; parentesco pelo sangue, de todos os membros de uma família natural ou civil, que tem um antepassado comum
Colateral -  Parente, mas não em linha reta..
Concunhado –  Diz-se de um homem em relação a outro quando as respectivas esposas são irmãs.
Cônjuge -- Cada um dos casados em relação ao outro.
Consanguinidade –  Vínculo entre pessoas unidas pelo mesmo sangue proveniente de um tronco próximo.
Costado - Cada um dos quatro avós de cada indivíduo.
Cunhado - Irmão de um dos cônjuges em relação ao outro e vice-versa..
Decavô –  - Décimo avô.
Descendência - Pessoas que descendem de um mesmo tronco.
Dispensa matrimonial – - Licença canônica para casamento entre parentes consanguíneos .
Dodecavô –  Décimo segundo avô. O mesmo que duodécimo avô.
Duodécimo avô - Décimo segundo avô, o mesmo que dodecavô.
Eneavô  -Nono avô.
Enteado - Nome dado ao indivíduo em relação ao seu padrasto ou madrasta..
Exposto – Criança que, ao nascer, foi abandonada pelos pais e acolhida em casa de outras pessoas.
Filho adulterino -- Filho havido por uma pessoa, casada no tempo da concepção, de outra que não seja o esposo.
Filho bastardo - Veja bastardo e filho natural. Havido fora do casamento.
Filho natural -- O havido de pais solteiros, entre os quais não haja, ao tempo da concepção ou do parto, impedimento matrimonial..
Genealogia - Série de antepassados; estudo da origem das famílias; estirpe; linhagem; procedência.
Geração - conjunto de pessoas nascidas mais ou menos na mesma época descendentes do mesmo tronco familiar..
Grau de parentesco Número de gerações entre a pessoa em causa e o tronco a que se liga.
Heptavô –– Sétimo avô.
Hexavô – Sexto avô.
Impedimento dirimente – Impedimento que, se infringido, acarreta nulidade do casamento.
Inventário - Relação dos bens deixados por alguém que morreu.
Irmãos - Filhos do mesmo pai e da mesma mãe, ou só do mesmo pai, ou só da mesma mãe
Irmãos gêmeos - Que nasceram do mesmo parto.
Irmãos germanos - Que procedem do mesmo pai e da mesma  mãe
Linha ascendente – Sequência de ascendentes do pai para o avô, bisavô, etc.
Linha colateral - Parentesco entre pessoas de um só tronco, mas que não descendem umas das outras. Exemplos: irmãos, primos, tios, sobrinhos..
Linha descendente a –Sequência de descendentes do pai para o neto, bisneto, etc. O mesmo que linha reta descendente..
Meio irmão - Irmão só por parte do pai, ou só por parte da mãe. Antônimo - Irmão germano.
Nome de família– Nome com que são apelidados os descendentes através das gerações.
Nome de guerra –  Pseudônimo sob o qual alguém se torna mais conhecido em qualquer esfera de atividade.
Nome pessoal –Nome próprio privativo de uma determinada pessoa.
Nominata -  lista de nomes. Lista onomástica..
Octavô – Oitavo avô.
Onomástica -Lista de nomes próprios; explicação dos nomes próprios; 
Parente - Indivíduo que, em relação a outro ou a outros, pertence à mesma família.  Que tem parentesco, que pertence à mesma família..
Parentesco - Qualidade de parente; laços de sangue ou civil.
Partilha - Repartição dos bens de uma herança..
Patriarca - Chefe de família dos povos antigos; chefe de uma grande família de filhos, netos, bisnetos. O feminino é matriarca..
Patronímico - Relativo ao pai, especialmente a respeito de nomes de família
Pentavô – Quinto avô..
Perfilhar - Receber legalmente como filho; reconhecer voluntariamente um filho ilegítimo, no próprio termo do nascimento, mediante escritura pública ou por testamento.
Prenome - Nome que precede o nome de família (sobrenome).
Primo em segundo grau - Primo tio ou primo sobrinho.
Primos cruzados -- Designação da relação de parentesco entre primo e prima, filhos de irmão e irmã.
Primos irmãos – Os primos filhos de dois irmãos.
Primos segundos -– Primos tios ou primos sobrinhos.
Sobrenome - Nome que segue ao primeiro de batismo; apelido.
Tataraneto - Quarto neto. Variante de tetraneto. Evitar porque se confunde com trineto.
Tataravô  -Variante de tetravô.
Tetraneto –do trisavô ou da trisavó. Variante, tataraneto.
Tio-avô -  Irmão dos avós em relação aos netos destes. Feminino é tia-avó;
Trineto -Terceiro neto, filho do bisneto.
Trisavô - Pai do bisavô ou da bisavó.



domingo, 8 de fevereiro de 2015

ANCESTRAIS DA FAMÍLIA AUDEBERT

FAMÍLIA AUDEBERT
Infelizmente, no Brasil o sobrenome está desaparecendo. Poucos são os descendentes que ainda o carregam, cerca de 20 pessoas, que não o transmitiram para seus descendentes, uma vez que o herdaram pela linha materna e o possuem juntamente com outro herdado pela linha paterna.

No entanto, no Perigòrd (França) ainda existem muitos descendentes.
Para registro, eis aqui 5 gerações ancestrais. Lembrando, que no Brasil, existem mais 7 gerações documentadas na árvore genealógica que possuo, o que significa aproximadamente mais de 600 descendentes. Contudo, a maioria desconhece a origem de seus ancestrais.
1 – François AUDEBERT, nascido antes de 1769.
      Casado com Marie FAURE.
   2 – Jean AUDEBERT, nascido aproximadamente em 1797.
          Faleceu em 14/01/1857 em Exorpebey.
          Casado com Jeanne BARDET em 2/01/1817 em Tourtoirac.
      3 – François AUDEBERT, nascido em Lês Charreaux em 1819
            Casado com Gabrielle REYNAUD (27/10/1847)
            Filhos
            4 – François AUDEBERT, nascido em Lês Charreaux em 30/03/1849
           4 – Antoinette AUDEBERT, nascida em Lês Charreaux em 28/07/1850
           4 – Anne AUDEBERT, nascida em 1851 em Lês Charreaux
           4 – François AUDEBERT, nascido em Lês Charreaux em 7/04/1852                 
              Casou-se em 15/02/1878 em Tourtoirac com Jeanne DUCAMUS  
           4 – Gabrielle AUDEBERT nascida em Lês Charreaux em 27/04/1854.              
               Faleceu em 13/06/1871.
           4 – Guillaume AUDEBERT nascido em Lês Charreaux em 10/03/1856.
                 Casou em 30/11/1878 em Naillac com Marie FAVARD.
                 Faleceu no Rio de Janeiro em 27/12/1912.
                    5 – Pierre AUDEBERT nascido em Lês Charreaux em 22/09/1879.               
                          Falecido no Rio de Janeiro em 26/11/1944
                           * vide postagem no blog
                    5 – Gabrielle AUDEBERT nascida em Lês Charreaux em   
                          13/06/1882. * vide postagem no blog
                    5 – Aurora AUDEBERT, nascida em Valença/RJ em 10.12.1899.                   
                             Falecida no Rio de Janeiro em 4/12/1984
                            * vide postagem no blog
            4 – Catherine AUDEBERT nascida em Lês Charreaux em 2/4/1858.      
                  Falecida em 3/6/1858
            4 – Catherine AUDEBERT nascida em 6/09/1859 em Lês Charreaux.              
                  Falecida em 25/10/1859.
            4 – Catherine AUDEBERT nascida em 21/08/1860.
                  Casou-se em 6/11/1881 em Hautefort com Pierre GORGES
            4 – Henri AUDEBERT nascido em 28/06/1863 em Lês Charreaux.      
                     Casou-se em 7/09/1884 em Hautefort com Jeanne Honorine
                     DUCAMUS * vide postagem no Blog
            4 - Gabrielle AUDEBERT nascida em 2/05/1866 em Lês Charreaux
            4 –  Anne AUDEBERT nascida em 7/10/1868 em Lês Charreaux,           
                 Casada com Jean LAMBERT * vide postagem no blog.
      3 – Catherine AUDEBERT nascida em 1822, falecida em 19/11/1825
      3 – Jean AUDEBERT nascido em 1824
            Casou-se em 18/02/1849 com Marie VENAYRE
      3 – Jean AUDEBERT nascido em 1827
   2 –  Suzane AUDEBERT nascida em 30/11/1801 em Tourtoirac
   2 – François AUDEBERT nascido em 6/08/1804 em Tourtoirac.
         Falecido em 27/10/1867. Casado com Jeanne GENESTE
   2 – Françoise AUDEBERT nascida em 12/08/1807 em Tourtoirac
   2 – Jean AUDEBERT nascido em 9/02/1811 em Tourtoirac
         Falecido em 1/11/1835 em Military Hospital Wissembourg.

  

sábado, 7 de fevereiro de 2015

DAGMAR PEREIRA GOMES AUDEBERT

DAGMAR PEREIRA GOMES AUDEBERT
Dagmar em 1932 aos 15 anos de idade - foto arquivo pessoal

Segunda filha do casal Elvira Pereira Gomes e Pierre Audebert, nasceu no dia 10/03/1917 e foi registrada no dia 11/03/1917, no cartório da sétima pretoria Civil, da Freguesia de Inhaúma (hoje 12).
Seu irmão mais velho LUDGERO, nascido em 26/03/1909, tinha 8 anos.

Eis o registro de nascimento:
Aos onze dias do mês de março de mil novecentos e dezessete nesta cidade do Rio de Janeiro no Cartório da sétima pretoria cível da freguesia de Inhaúma, compareceu Pedro Audebert, francez, com trinta e sete anos de idade, pedreiro, casado com Dona Elvira Pereira Gomes, natural do Estado do Rio de Janeiro, com trinta anos de idade, morador na travessa Henriqueta número vinte e dois e perante as testemunhas abaixo assinadas, declarou que em sua residência no dia dez do corrente mez às treze horas e trinta minutos sua senhora deu a luz a uma criança do sexo feminino de cor branca, que deverá chamar DAGMAR, filha legítima e a primeira com este nome, neta paterna de Guilherme Audebert e de Dona Maria Favares, ele falecido e materna de Manoel Pereira Gomes e de Dona Maria das Mercês Pereira Gomes, portugueses e falecidos. E, para constar lavrei este termo que lido e achado conforme assinem o declarante e as testemunhas Gabriel de Abreu Guimarães e Jorge Elandio Guimarães e de uma escrevente juramentada.”

Sua mãe queria que se chamasse MARIA, em homenagem às suas avós. Elvira chegou a bordar o enxoval com letra M, pois se a criança fosse do sexo masculino também receberia um nome com a mesma inicial, mas quando Pierre foi registrar a criança passou por uma rua (Dagmar da Fonseca) e achou o nome bonito.
Ao chegar ao cartório não deu outra coisa: fez o registro como DAGMAR.

Foi batizada na Igreja Nossa Senhora da Piedade, sendo sua madrinha Nossa Senhora da Conceição, uma vez que a madrinha anteriormente escolhida havia falecido poucos dias antes do batismo – suicidou-se tomando veneno.

Quando criança, Dagmar morou até os quatro anos de idade na Rua da Capela (Bairro da Piedade no Rio de Janeiro). Mudou-se para o bairro do Engenho de Dentro e, depois para a Rua Venâncio Ribeiro 133, onde permaneceu até 1941.
Sua mãe Elvira faleceu, vítima de tuberculose, no dia 22/09/1927, quando Dagmar tinha 10 anos.
 A doença de Elvira começou por volta de julho de 1926, logo após der dado luz ao seu terceiro filho – VIRGÍLIO PEREIRA GOMES AUDEBERT, nascido em 6/6/1926, quando teria ido visitar seus irmãos em Niterói/RJ e, na volta, tomou uma forte chuva, e, como ainda estava debilitada do parto recente e com baixa imunidade adquiriu uma forte gripe, que não curada em pouco tempo adquiriu a tuberculose.
Naquela época não existiam os antibióticos. A tuberculose era uma epidemia no Rio de Janeiro, onde as condições sanitárias não eram boas.
Elvira, mesmo acamada se preocupava com os filhos. Morria de medo de transmitir a doença para um deles. Virgílio, ainda bebê, ficou aos cuidados de sua irmã. Dagmar iria para Niterói viver com o tio JOÃO PEREIRA GOMES. Mas, Dagmar não aceitou e continuou na casa junto com sua mãe, cuidando da mesma até a sua morte.
Com o diagnóstico da doença de Elvira, todos fizeram os exames obrigatórios da época. Segundo Dagmar, o médico disse aos seus pais que a menina não fora afetada e tinha os “pulmões fortes”, mas que devia tomar remédio para “raquitismo”, pois se aproximava dos 10 anos, no entanto sua complexão física era de uma criança de 5 anos.
Na verdade, Dagmar nasceu com baixo peso – cerca de 1,5 Kg. Era muito pequena e quase não sobreviveu. Ela não sabia dizer se era prematura ou se de termo com baixo peso.
Seus pais contavam que foi feita em uma caixa de sapatos uma pequena incubadora, com muito algodão e panos, onde a criança ficava aquecida.
Em razão do raquitismo, Dagmar fez um tratamento a base de vitaminas, banhos de sol e conseguiu em pouco tempo (cerca de 2 anos) afastar o raquitismo, se tornando uma pessoa com estatura normal (atingiu na fase adulta 1,64m de altura).
Melhor sorte não teve seu irmão VIRGÍLIO, que na época era estudante do primeiro ano de medicina e tinha 18 anos. Ele, a exemplo da sua mãe, também adquiriu tuberculose e faleceu em 1928.

Viúvo aos 49 anos, Pierre se casou em 1928 com ANTONIA GIMENEZ HERNANDEZ,  brasileira, filha de espanhóis, nascida por volta e 1900.
Com o casamento do pai, o seu irmão mais novo, com pouco mais de dois anos Virgílio foi dado em adoção. Tal fato abalou profundamente Dagmar que viveu a vida toda tentando encontrar seu irmão e com mágoa da madrasta, que não queria criar a criança.
A infância de Dagmar não foi das melhores. Aos onze anos havia concluindo o antigo primário (as cinco primeiras séries do ensino da época). Havia feito a prova para o ginásio e fora reprovada por ter feito uma caligrafia diferente. Segundo contava escreveu todas as letras “t” em forma de um guarda-chuva. Ria muito quando contava tal fato, pois afirmava que não sabia explicar o motivo que fez tal coisa. Apenas que “deu vontade”.
Do colégio de freira em que fez o primário, as mortes da mãe e do irmão, o casamento do pai, a adoção do irmão, tudo ocorreu em curto espaço de tempo em que as tragédia ocorriam. A reprovação no ginásio foi à gota d’água.
A madrasta colocou a menina de 12 anos para lavar, passar e ainda costurar pregando botões em camisas de homem que trazia de uma fábrica para fazer o serviço em casa. Eram muitas camisas e Dagmar nunca viu o dinheiro.
Na adolescência ficou mais próxima da prima HELENA MARQUES MENDES, filha de Aurora, sua tia paterna. As idas para Niterói, os passeios na praia ou na Quinta da Boa Vista trouxeram grandes recordações no futuro.
Dagmar gostava do carnaval. Das fantasias nos blocos de rua. Seu pai, apesar de um tanto conservador, nunca proibiu Dagmar de brincar o carnaval. Até emprestava algumas de suas roupas, para que ele pulasse fantasiada de homem, com direito até a chapéu e gravata.
Trabalhou em vários lugares. Foi até sócia de uma tinturaria.
Dagmar em 1934 - aos 17 anos de idade - foto arquivo pessoal
Quando tinha 17 anos conheceu ARTHUR, um militar nascido no Amazonas que tinha sido transferido para o Rio. O namoro foi rápido, Arthur ficou doente e foi para Campos de Jordão se tratar (salvo engano de tuberculose). Lá faleceu.
Dagmar contava que estava em casa e havia acabado de acordar quando foi até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, quando viu a imagem de Arthur refletida em um espelho e na hora pensou que era um “aviso” dele dizendo que tinha falecido. E foi o que tinha acontecido.

Por volta de 1938, conheceu MÁRIO DOMINGOS, português, nascido em 21/12/1900, filho de João Domingos e Rita de Jesus, que morava na Rua Francisca Meyer 173, esquina da Rua Maria Paula, que mais tarde recebeu o nome de Catulo Cearense.
Moravam bem próximos um do outro e o namoro virou noivado em pouco tempo. Na verdade, o namoro tinha hora e dia marcados pelo pai de Dagmar que ficava na sala sempre em companhia do casal.

Seu pai ficou doente e pediu para que o casamento fosse realizado logo para que pudesse ver. Assim, no dia 30/06/1941 o casamento ocorreu em um cartório. Sem festa, vestido de noiva tradicional ou qualquer pompa, mas com o pai presente e alguns familiares. Passou a chamar DAGMAR AUDEBERT DOMINGOS
Seu pai faleceu em 1944, após longa enfermidade. Mesmo casada e morando bem próxima dele, já que construíram uma “meia água” no grande terreno dos sogros, Dagmar não deixava de visitar o pai todos os dias.
O interessante é que seu pai não gostava que ela pintasse as unhas e nem usasse batom. Seu marido adorava. Então, para satisfazer os dois ela tira o esmalte das unhas e o batom da boca, ambos quase sempre vermelhos, para visitar o pai, quando chega a casa, tornava a pintar. Um trabalhão diário que fazia para agradar ao marido e ao pai ao mesmo tempo.
Mário tinha irmãos, MARIA DOMINGOS, JOÃO DOMINGOS, JOSÉ DOMINGOS, dentre outros, que se tornaram grandes amigos de Dagmar. Amizade esta que perdurou até 1974, quando ela manteve o último contato com a família de Mário e recebeu a notícia que JOSÉ (ZEZINHO) havia falecido.
Dagmar 26 anos - Goto arquivo pessoal
De 1941 até 1950 o casal prosperou. Mário era dono de uma marcenaria. Em 15/11/1946, nasceu PAULO ROBERTO AUDEBERT DOMINGOS, o único filho do casal. A criança era tão loira que os cabelos eram quase brancos. Tinha uma saúde frágil, pois sofria de bronquite. O médico aconselhou mudarem do local em que viviam que era perto de uma fábrica. Então, o casal adquiriu um terreno em Honório Gurgel e resolveram construir uma casa.
No dia da mudança, resolveram comemorar com uma festa para os amigos e familiares. Dagmar preparou um cozido português, regado a muita cerveja. Mário foi buscar uma lata de água, mas sentiu-se mal e caiu no chão. A princípio pensaram que fosse uma brincadeira já que Mário adorava brincar. Depois viram que era sério e o acudiram, mas ele estava morto. O médico foi chamado e diagnosticou que Mário tinha sido vítima de “infarto fulminante”. Mário tinha 49 anos.
Viúva aos 33 anos, Dagmar emagreceu 30 quilos em apenas três meses. As contas chegavam e ela não tinha dinheiro para pagar. A marcenaria passou para terceiros e com o dinheiro quitou o terreno e algumas dívidas. Mas, o dinheiro acabou e ela começou a passar dificuldades.
Sem dinheiro, não teve como arcar com um tratamento dentário que estava fazendo. Foi ao seu dentista e explicou a situação. O homem era caridoso, perdoou o restante da dívida e para ajudar Dagmar disse se ela não queria ganhar um dinheiro lavando as roupas brancas dele que naquele dia estavam sujas. Ela aceitou e trabalhou como lavadeira dele e de seu médico, Dr. Pereira, por três meses, até encontrar um emprego de costureira em um atelier de alta costura no centro da cidade.


Dagmar aos 34 anos - foto arquivo pessoal
Em 1951, conheceu RAIMUNDO DE OLIVEIRA PINTO (vide postagem).  O casamento religioso ocorreu na Igreja Nossa Senhora da Conceição do Outeiro, em Honório Gurgel, sendo padrinhos Heitor Audebert Rezende (seu primo paterno) e Aparecida Alves e Rezende. Passou a se chamar DAGMAR DE OLIVEIRA PINTO.
O casal teve 4 filhos: MARCOS ANTONIO, AUGUSTO, FINÉAS e ISABEL 

Dagmar faleceu em Brasília, no dia 18/12/2004, aos 86 anos.
Dagmar aos 73 anos, foto arquivo pessoal

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

AS CAUSAS DA QUASE DESTRUIÇÃO DO RIO TRAIRI

No seu livro “Breves noções para estudar com método a geografia do Brazil”, publicado em 1857, José Praxedes Pereira Brandão assim descreve a província do Rio Grande do Norte (pág. 95):
A terra é muito desigual e tem serras bastante elevadas, nas proximidades do litoral é o terreno arenoso e chão é muito mal irrigado, estando ao Deus dar chuva para não desaparecer a abundancia pela esterilidade. As suas florestas são compostas de arvores possantes que dão a maior e a melhor qualidade de ibirapitanga ou pao brazil. Nos sítios melhor regados, e onde se tem grangeado, o solo mui productivo neste ramo de agricultura e nas campinas banhadas pelos rios perenes prospera a criação de gado.”

Voltando no tempo (150 anos atrás) temos uma paisagem muito distante da atual. Florestas? Pau brasil?  Pois é, isso era a realidade ainda na metade do século XIX. O que pensar então de como era o Rio Grande no Norte se retrocedêssemos mais um pouco... Século XVIII? Século XVII? Século XVI?
Qual foi a primeira imagem dos primeiros europeus que por lá desembarcaram? Qual era a paisagem?
Nada melhor do que o mapa mais antigo “Planisfério de Cantino” de 1502 onde retrata toda a costa cheia de árvores e com “três araras” servindo de decoração.
O detalhe mais importante que se vislumbra é existência de florestas, com abundância de vegetação. E, não foi por acaso que a exploração do pau brasil surgiu. Era abundante no que hoje chamamos de “mata atlântica”.
No século XVI, a exploração se dava do Rio de Janeiro, passando pelo Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba até o Rio Grande do Norte.
A mata nativa foi reduzida e quase extinta. Não foi só o pau brasil, mas outras árvores, como a peroba e o pau ferro, dentre outras.
Na verdade, um binômio cruel: extração e a agropecuária foram responsáveis pela mudança da paisagem em 500 anos.
O uso da terra, os imensos canaviais plantados, principalmente, na costa do rio grande do norte, para os engenhos, que precisavam além da própria cana também de madeira para alimentar os fornos de lenha para a fabricação do açúcar, acabaram por aniquilar a flora como ela era antes das chegadas dos portugueses.
Não foi só litoral que sofreu a depredação, os “sertões”, como era chamado o interior do que hoje está compreendido o território do Rio Grande do Norte mudou totalmente.
Na bacia hidrográfica do rio Trairi, que abrange cerca de 106,080 Km², a paisagem natural era outra.
O rio Trairi nasce na serra do Doutor, aproximadamente a 667 metros de altitude e segue na região nordeste do estado até desaguar na lagoa de Nísia Floresta. Percorre, em grande parte um território onde predomina a caatinga hiperxerófila, onde a formação vegetal é resistente a grandes períodos de estiagem.
O rio Trairi foi como outros rios no nordeste o responsável pela colonização da região que corta, uma vez que serviu de “estrada” para a interiorização. Seguindo as margens dele os primeiros aventureiros foram cada vez mais longe, utilizando não só água que lhes proporcionavam, mas de peixe, tartarugas, jacarés e muitos mamíferos (macacos, antas, etc.), além de aves que sobreviviam à custa do rio.
Mas, o rio Trairi também sofreu com o processo de colonização. Hoje, está longe do que já foi e representou para a região.

O processo de desmatamento das matas ciliares e o assoreamento provocaram a quase destruição do ecossistema, e o rio está agonizando. Hoje, é uma triste imagem do que foi e representou para a história do Rio Grande do Norte.