sábado, 7 de fevereiro de 2015

DAGMAR PEREIRA GOMES AUDEBERT

DAGMAR PEREIRA GOMES AUDEBERT
Dagmar em 1932 aos 15 anos de idade - foto arquivo pessoal

Segunda filha do casal Elvira Pereira Gomes e Pierre Audebert, nasceu no dia 10/03/1917 e foi registrada no dia 11/03/1917, no cartório da sétima pretoria Civil, da Freguesia de Inhaúma (hoje 12).
Seu irmão mais velho LUDGERO, nascido em 26/03/1909, tinha 8 anos.

Eis o registro de nascimento:
Aos onze dias do mês de março de mil novecentos e dezessete nesta cidade do Rio de Janeiro no Cartório da sétima pretoria cível da freguesia de Inhaúma, compareceu Pedro Audebert, francez, com trinta e sete anos de idade, pedreiro, casado com Dona Elvira Pereira Gomes, natural do Estado do Rio de Janeiro, com trinta anos de idade, morador na travessa Henriqueta número vinte e dois e perante as testemunhas abaixo assinadas, declarou que em sua residência no dia dez do corrente mez às treze horas e trinta minutos sua senhora deu a luz a uma criança do sexo feminino de cor branca, que deverá chamar DAGMAR, filha legítima e a primeira com este nome, neta paterna de Guilherme Audebert e de Dona Maria Favares, ele falecido e materna de Manoel Pereira Gomes e de Dona Maria das Mercês Pereira Gomes, portugueses e falecidos. E, para constar lavrei este termo que lido e achado conforme assinem o declarante e as testemunhas Gabriel de Abreu Guimarães e Jorge Elandio Guimarães e de uma escrevente juramentada.”

Sua mãe queria que se chamasse MARIA, em homenagem às suas avós. Elvira chegou a bordar o enxoval com letra M, pois se a criança fosse do sexo masculino também receberia um nome com a mesma inicial, mas quando Pierre foi registrar a criança passou por uma rua (Dagmar da Fonseca) e achou o nome bonito.
Ao chegar ao cartório não deu outra coisa: fez o registro como DAGMAR.

Foi batizada na Igreja Nossa Senhora da Piedade, sendo sua madrinha Nossa Senhora da Conceição, uma vez que a madrinha anteriormente escolhida havia falecido poucos dias antes do batismo – suicidou-se tomando veneno.

Quando criança, Dagmar morou até os quatro anos de idade na Rua da Capela (Bairro da Piedade no Rio de Janeiro). Mudou-se para o bairro do Engenho de Dentro e, depois para a Rua Venâncio Ribeiro 133, onde permaneceu até 1941.
Sua mãe Elvira faleceu, vítima de tuberculose, no dia 22/09/1927, quando Dagmar tinha 10 anos.
 A doença de Elvira começou por volta de julho de 1926, logo após der dado luz ao seu terceiro filho – VIRGÍLIO PEREIRA GOMES AUDEBERT, nascido em 6/6/1926, quando teria ido visitar seus irmãos em Niterói/RJ e, na volta, tomou uma forte chuva, e, como ainda estava debilitada do parto recente e com baixa imunidade adquiriu uma forte gripe, que não curada em pouco tempo adquiriu a tuberculose.
Naquela época não existiam os antibióticos. A tuberculose era uma epidemia no Rio de Janeiro, onde as condições sanitárias não eram boas.
Elvira, mesmo acamada se preocupava com os filhos. Morria de medo de transmitir a doença para um deles. Virgílio, ainda bebê, ficou aos cuidados de sua irmã. Dagmar iria para Niterói viver com o tio JOÃO PEREIRA GOMES. Mas, Dagmar não aceitou e continuou na casa junto com sua mãe, cuidando da mesma até a sua morte.
Com o diagnóstico da doença de Elvira, todos fizeram os exames obrigatórios da época. Segundo Dagmar, o médico disse aos seus pais que a menina não fora afetada e tinha os “pulmões fortes”, mas que devia tomar remédio para “raquitismo”, pois se aproximava dos 10 anos, no entanto sua complexão física era de uma criança de 5 anos.
Na verdade, Dagmar nasceu com baixo peso – cerca de 1,5 Kg. Era muito pequena e quase não sobreviveu. Ela não sabia dizer se era prematura ou se de termo com baixo peso.
Seus pais contavam que foi feita em uma caixa de sapatos uma pequena incubadora, com muito algodão e panos, onde a criança ficava aquecida.
Em razão do raquitismo, Dagmar fez um tratamento a base de vitaminas, banhos de sol e conseguiu em pouco tempo (cerca de 2 anos) afastar o raquitismo, se tornando uma pessoa com estatura normal (atingiu na fase adulta 1,64m de altura).
Melhor sorte não teve seu irmão VIRGÍLIO, que na época era estudante do primeiro ano de medicina e tinha 18 anos. Ele, a exemplo da sua mãe, também adquiriu tuberculose e faleceu em 1928.

Viúvo aos 49 anos, Pierre se casou em 1928 com ANTONIA GIMENEZ HERNANDEZ,  brasileira, filha de espanhóis, nascida por volta e 1900.
Com o casamento do pai, o seu irmão mais novo, com pouco mais de dois anos Virgílio foi dado em adoção. Tal fato abalou profundamente Dagmar que viveu a vida toda tentando encontrar seu irmão e com mágoa da madrasta, que não queria criar a criança.
A infância de Dagmar não foi das melhores. Aos onze anos havia concluindo o antigo primário (as cinco primeiras séries do ensino da época). Havia feito a prova para o ginásio e fora reprovada por ter feito uma caligrafia diferente. Segundo contava escreveu todas as letras “t” em forma de um guarda-chuva. Ria muito quando contava tal fato, pois afirmava que não sabia explicar o motivo que fez tal coisa. Apenas que “deu vontade”.
Do colégio de freira em que fez o primário, as mortes da mãe e do irmão, o casamento do pai, a adoção do irmão, tudo ocorreu em curto espaço de tempo em que as tragédia ocorriam. A reprovação no ginásio foi à gota d’água.
A madrasta colocou a menina de 12 anos para lavar, passar e ainda costurar pregando botões em camisas de homem que trazia de uma fábrica para fazer o serviço em casa. Eram muitas camisas e Dagmar nunca viu o dinheiro.
Na adolescência ficou mais próxima da prima HELENA MARQUES MENDES, filha de Aurora, sua tia paterna. As idas para Niterói, os passeios na praia ou na Quinta da Boa Vista trouxeram grandes recordações no futuro.
Dagmar gostava do carnaval. Das fantasias nos blocos de rua. Seu pai, apesar de um tanto conservador, nunca proibiu Dagmar de brincar o carnaval. Até emprestava algumas de suas roupas, para que ele pulasse fantasiada de homem, com direito até a chapéu e gravata.
Trabalhou em vários lugares. Foi até sócia de uma tinturaria.
Dagmar em 1934 - aos 17 anos de idade - foto arquivo pessoal
Quando tinha 17 anos conheceu ARTHUR, um militar nascido no Amazonas que tinha sido transferido para o Rio. O namoro foi rápido, Arthur ficou doente e foi para Campos de Jordão se tratar (salvo engano de tuberculose). Lá faleceu.
Dagmar contava que estava em casa e havia acabado de acordar quando foi até o banheiro lavar o rosto e escovar os dentes, quando viu a imagem de Arthur refletida em um espelho e na hora pensou que era um “aviso” dele dizendo que tinha falecido. E foi o que tinha acontecido.

Por volta de 1938, conheceu MÁRIO DOMINGOS, português, nascido em 21/12/1900, filho de João Domingos e Rita de Jesus, que morava na Rua Francisca Meyer 173, esquina da Rua Maria Paula, que mais tarde recebeu o nome de Catulo Cearense.
Moravam bem próximos um do outro e o namoro virou noivado em pouco tempo. Na verdade, o namoro tinha hora e dia marcados pelo pai de Dagmar que ficava na sala sempre em companhia do casal.

Seu pai ficou doente e pediu para que o casamento fosse realizado logo para que pudesse ver. Assim, no dia 30/06/1941 o casamento ocorreu em um cartório. Sem festa, vestido de noiva tradicional ou qualquer pompa, mas com o pai presente e alguns familiares. Passou a chamar DAGMAR AUDEBERT DOMINGOS
Seu pai faleceu em 1944, após longa enfermidade. Mesmo casada e morando bem próxima dele, já que construíram uma “meia água” no grande terreno dos sogros, Dagmar não deixava de visitar o pai todos os dias.
O interessante é que seu pai não gostava que ela pintasse as unhas e nem usasse batom. Seu marido adorava. Então, para satisfazer os dois ela tira o esmalte das unhas e o batom da boca, ambos quase sempre vermelhos, para visitar o pai, quando chega a casa, tornava a pintar. Um trabalhão diário que fazia para agradar ao marido e ao pai ao mesmo tempo.
Mário tinha irmãos, MARIA DOMINGOS, JOÃO DOMINGOS, JOSÉ DOMINGOS, dentre outros, que se tornaram grandes amigos de Dagmar. Amizade esta que perdurou até 1974, quando ela manteve o último contato com a família de Mário e recebeu a notícia que JOSÉ (ZEZINHO) havia falecido.
Dagmar 26 anos - Goto arquivo pessoal
De 1941 até 1950 o casal prosperou. Mário era dono de uma marcenaria. Em 15/11/1946, nasceu PAULO ROBERTO AUDEBERT DOMINGOS, o único filho do casal. A criança era tão loira que os cabelos eram quase brancos. Tinha uma saúde frágil, pois sofria de bronquite. O médico aconselhou mudarem do local em que viviam que era perto de uma fábrica. Então, o casal adquiriu um terreno em Honório Gurgel e resolveram construir uma casa.
No dia da mudança, resolveram comemorar com uma festa para os amigos e familiares. Dagmar preparou um cozido português, regado a muita cerveja. Mário foi buscar uma lata de água, mas sentiu-se mal e caiu no chão. A princípio pensaram que fosse uma brincadeira já que Mário adorava brincar. Depois viram que era sério e o acudiram, mas ele estava morto. O médico foi chamado e diagnosticou que Mário tinha sido vítima de “infarto fulminante”. Mário tinha 49 anos.
Viúva aos 33 anos, Dagmar emagreceu 30 quilos em apenas três meses. As contas chegavam e ela não tinha dinheiro para pagar. A marcenaria passou para terceiros e com o dinheiro quitou o terreno e algumas dívidas. Mas, o dinheiro acabou e ela começou a passar dificuldades.
Sem dinheiro, não teve como arcar com um tratamento dentário que estava fazendo. Foi ao seu dentista e explicou a situação. O homem era caridoso, perdoou o restante da dívida e para ajudar Dagmar disse se ela não queria ganhar um dinheiro lavando as roupas brancas dele que naquele dia estavam sujas. Ela aceitou e trabalhou como lavadeira dele e de seu médico, Dr. Pereira, por três meses, até encontrar um emprego de costureira em um atelier de alta costura no centro da cidade.


Dagmar aos 34 anos - foto arquivo pessoal
Em 1951, conheceu RAIMUNDO DE OLIVEIRA PINTO (vide postagem).  O casamento religioso ocorreu na Igreja Nossa Senhora da Conceição do Outeiro, em Honório Gurgel, sendo padrinhos Heitor Audebert Rezende (seu primo paterno) e Aparecida Alves e Rezende. Passou a se chamar DAGMAR DE OLIVEIRA PINTO.
O casal teve 4 filhos: MARCOS ANTONIO, AUGUSTO, FINÉAS e ISABEL 

Dagmar faleceu em Brasília, no dia 18/12/2004, aos 86 anos.
Dagmar aos 73 anos, foto arquivo pessoal

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