No seu livro “Breves noções
para estudar com método a geografia do Brazil”, publicado em 1857, José
Praxedes Pereira Brandão assim descreve a província do Rio Grande do Norte (pág.
95):
“A terra é muito desigual e tem serras bastante elevadas, nas
proximidades do litoral é o terreno arenoso e chão é muito mal irrigado,
estando ao Deus dar chuva para não desaparecer a abundancia pela esterilidade.
As suas florestas são compostas de arvores possantes que dão a maior e a melhor
qualidade de ibirapitanga ou pao brazil. Nos sítios melhor regados, e onde se
tem grangeado, o solo mui productivo neste ramo de agricultura e nas campinas
banhadas pelos rios perenes prospera a criação de gado.”
Voltando no tempo (150 anos
atrás) temos uma paisagem muito distante da atual. Florestas? Pau brasil? Pois é, isso era a realidade ainda na metade
do século XIX. O que pensar então de como era o Rio Grande no Norte se retrocedêssemos
mais um pouco... Século XVIII? Século XVII? Século XVI?
Qual foi a primeira imagem dos
primeiros europeus que por lá desembarcaram? Qual era a paisagem?
Nada melhor do que o mapa
mais antigo “Planisfério de Cantino” de 1502 onde retrata toda a costa
cheia de árvores e com “três araras” servindo de decoração.
O detalhe mais importante
que se vislumbra é existência de florestas, com abundância de vegetação. E, não
foi por acaso que a exploração do pau brasil surgiu. Era abundante no que hoje
chamamos de “mata atlântica”.
No século XVI, a exploração
se dava do Rio de Janeiro, passando pelo Espírito Santo, Bahia, Sergipe,
Alagoas, Pernambuco, Paraíba até o Rio Grande do Norte.
A mata nativa foi reduzida e
quase extinta. Não foi só o pau brasil, mas outras árvores, como a peroba e o
pau ferro, dentre outras.
Na verdade, um binômio cruel:
extração e a agropecuária foram responsáveis pela mudança da paisagem em 500
anos.
O uso da terra, os imensos
canaviais plantados, principalmente, na costa do rio grande do norte, para os
engenhos, que precisavam além da própria cana também de madeira para alimentar
os fornos de lenha para a fabricação do açúcar, acabaram por aniquilar a flora
como ela era antes das chegadas dos portugueses.
Não foi só litoral que
sofreu a depredação, os “sertões”, como era chamado o interior do que hoje está
compreendido o território do Rio Grande do Norte mudou totalmente.
Na bacia hidrográfica do rio
Trairi, que abrange cerca de 106,080 Km², a paisagem natural era outra.
O rio Trairi nasce na serra
do Doutor, aproximadamente a 667 metros de altitude e segue na região nordeste
do estado até desaguar na lagoa de Nísia Floresta. Percorre, em grande parte um
território onde predomina a caatinga hiperxerófila, onde a formação vegetal é resistente
a grandes períodos de estiagem.
O rio Trairi foi como outros
rios no nordeste o responsável pela colonização da região que corta, uma vez
que serviu de “estrada” para a interiorização. Seguindo as margens dele os
primeiros aventureiros foram cada vez mais longe, utilizando não só água que
lhes proporcionavam, mas de peixe, tartarugas, jacarés e muitos mamíferos
(macacos, antas, etc.), além de aves que sobreviviam à custa do rio.
Mas, o rio Trairi também
sofreu com o processo de colonização. Hoje, está longe do que já foi e
representou para a região.
O processo de desmatamento
das matas ciliares e o assoreamento provocaram a quase destruição do ecossistema,
e o rio está agonizando. Hoje, é uma triste imagem do que foi e representou
para a história do Rio Grande do Norte.
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