quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

AS CAUSAS DA QUASE DESTRUIÇÃO DO RIO TRAIRI

No seu livro “Breves noções para estudar com método a geografia do Brazil”, publicado em 1857, José Praxedes Pereira Brandão assim descreve a província do Rio Grande do Norte (pág. 95):
A terra é muito desigual e tem serras bastante elevadas, nas proximidades do litoral é o terreno arenoso e chão é muito mal irrigado, estando ao Deus dar chuva para não desaparecer a abundancia pela esterilidade. As suas florestas são compostas de arvores possantes que dão a maior e a melhor qualidade de ibirapitanga ou pao brazil. Nos sítios melhor regados, e onde se tem grangeado, o solo mui productivo neste ramo de agricultura e nas campinas banhadas pelos rios perenes prospera a criação de gado.”

Voltando no tempo (150 anos atrás) temos uma paisagem muito distante da atual. Florestas? Pau brasil?  Pois é, isso era a realidade ainda na metade do século XIX. O que pensar então de como era o Rio Grande no Norte se retrocedêssemos mais um pouco... Século XVIII? Século XVII? Século XVI?
Qual foi a primeira imagem dos primeiros europeus que por lá desembarcaram? Qual era a paisagem?
Nada melhor do que o mapa mais antigo “Planisfério de Cantino” de 1502 onde retrata toda a costa cheia de árvores e com “três araras” servindo de decoração.
O detalhe mais importante que se vislumbra é existência de florestas, com abundância de vegetação. E, não foi por acaso que a exploração do pau brasil surgiu. Era abundante no que hoje chamamos de “mata atlântica”.
No século XVI, a exploração se dava do Rio de Janeiro, passando pelo Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba até o Rio Grande do Norte.
A mata nativa foi reduzida e quase extinta. Não foi só o pau brasil, mas outras árvores, como a peroba e o pau ferro, dentre outras.
Na verdade, um binômio cruel: extração e a agropecuária foram responsáveis pela mudança da paisagem em 500 anos.
O uso da terra, os imensos canaviais plantados, principalmente, na costa do rio grande do norte, para os engenhos, que precisavam além da própria cana também de madeira para alimentar os fornos de lenha para a fabricação do açúcar, acabaram por aniquilar a flora como ela era antes das chegadas dos portugueses.
Não foi só litoral que sofreu a depredação, os “sertões”, como era chamado o interior do que hoje está compreendido o território do Rio Grande do Norte mudou totalmente.
Na bacia hidrográfica do rio Trairi, que abrange cerca de 106,080 Km², a paisagem natural era outra.
O rio Trairi nasce na serra do Doutor, aproximadamente a 667 metros de altitude e segue na região nordeste do estado até desaguar na lagoa de Nísia Floresta. Percorre, em grande parte um território onde predomina a caatinga hiperxerófila, onde a formação vegetal é resistente a grandes períodos de estiagem.
O rio Trairi foi como outros rios no nordeste o responsável pela colonização da região que corta, uma vez que serviu de “estrada” para a interiorização. Seguindo as margens dele os primeiros aventureiros foram cada vez mais longe, utilizando não só água que lhes proporcionavam, mas de peixe, tartarugas, jacarés e muitos mamíferos (macacos, antas, etc.), além de aves que sobreviviam à custa do rio.
Mas, o rio Trairi também sofreu com o processo de colonização. Hoje, está longe do que já foi e representou para a região.

O processo de desmatamento das matas ciliares e o assoreamento provocaram a quase destruição do ecossistema, e o rio está agonizando. Hoje, é uma triste imagem do que foi e representou para a história do Rio Grande do Norte.

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