domingo, 30 de junho de 2013

ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA

Conforme escrevi em outra postagem, tenho buscado informações sobre a localização exata da Aldeia de Santo Antonio da Boa Vista.
Tenho indícios de que ficava na ALDEIA, atual agrupamento rural do município de Solânea/PB, e, segundo informações históricas era formada de índios sucurús e canindés. No entanto, nunca consegui, até agora, nenhum documento que comprovasse tal fato.
Fiz pesquisas em documentos históricos a partir de 1680 (Guerra dos Bárbaros). Mas, apesar dos esforços nada encontrei.
Para minha surpresa, hoje, revendo os registros paroquiais de Mamanguape, acabei por encontrar uma prova da existência dos sucurus e canindés (tapuias) na aldeia de Boa Vista.

O registro é este, de 1732, onde apesar de algumas partes estarem ilegíveis, dá para ler perfeitamente o conteúdo principal, que é justamente a .prova histórica não só da aldeia, mas também das etnias.  

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"Aos dois de março de mil sette centos e trinta e dois na capela dos sucurus e canindes da Boa Vista, nesta freguezia com licença minha batizou o missionário padre Manoel Jorge da Costa som os santos óleos a Antonia, filha natural de Maria escrava de (ilegível) Gomes de Macedo, foram padrinhos (ilegível)"

Tal registro comprova não só a existência da capela em 1732, a qual, segundo consta,  era de invocação de Santo Antonio, como também que era formada por índios sucurus e canindés (tarairús)  e ainda, a exploração desses pelo colonizador, já que a criança batizada era filha de uma "escrava"..
Ressalto que, segundo consta, a aldeia era de missionários de Santa Tereza. 
Sabe-se que, a partir da segunda metade do século XVIII, a Coroa portuguesa resolveu intervir. Em 1755, foi aprovado o "Diretório, que se deve observar para as povoações dos índios do Pará e Maranhão", que acabou sendo estendido a partir de 1758 para toda colônia, retirando de vez o controle dos missionários religiosos sobre as aldeias, muitas das quais viraram vilas. 
Algumas destas aldeias desapareceram e, permanecem excluídas da história. 

Ao que tudo indica foi o caso da ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA, que apesar de sua importância histórica continua totalmente inexplorada. 

sábado, 29 de junho de 2013

HENRI AUDEBERT

HENRI AUDEBERT nasceu no dia 28/02/1863, em Lês Charreaux (França). Era o décimo filho do casal FRANÇOIS AUDEBERT e GABRIELLE REYNAUD, o quarto homem. Seus padrinhos foram François Audebert (seu avô paterno) e Anne Audebert.
Casou-se em 7/09/1884, em Hautefort, com JEANNE HONORINE DUCAMUS, filha de Honoré e Marie DUCAMUS, nascida em 28/02/1861, em Excidieul.
Da união de Henri e Jeanne nasceu RACHEL AUDEBERT, em 15/09/1886, a qual veio a se casar com PIERRE DELAGE (nascido em 11/06/1978), filho de LEONARD (ou AUGUSTE) DELAGE e LÉONIE LAFUE – também imigrantes franceses que chegaram ao Brasil no mesmo vapor (ORENOQUE) que a família AUDEBERT.
PIERRE DELAGE e RACHEL AUDEBERT tiveram onze filhos: 1)MARIA LUIZA; 2) NÉLIA; 3) HENRIQUE; 4)PEDRO AUGUSTO; 5) LEONÍDIA; 6), CREMILDA; 7) LUIZ; 8) PAULO MARIA; 9) DJALMA; 10) OSCAR; 11) MOACYR.
Foto Rachel e Pierre Delage
imagem: Arquivo pessoal


Henri faleceu na França em 12/06/1938 e Jeanne no Brasil em 08/05/1943.

Registro nascimento Henri
imagem: Arquivo pessoal
Mapa com a localização de Les Charreaux
imagem: Arquivo pessoal

Certidão de nascimento RACHEL AUDEBERT

SÍTIO BURACO - BANANEIRAS/PB

Ao longo do tempo as sesmarias foram fracionadas, seja por herança, dotes, permuta ou compra e venda, passando a expressão uma parte de terra” a ser amplamente utilizada nos documentos.
Vez ou outra,  encontramos a expressão sitio de terras.
Na verdade, a palavra sítio era bem diferente do sentido atual  que é uma pequena fazenda.  Naquela época, entre os séculos XVII e XIX, significava uma extensão maior de terras do que as que nos registros foram apontadas como “uma parte de terra”.
Assim, tanto o SÍTIO BURACO como o SÍTIO BACUPARI (tratado em outra postagem) na verdade não eram "sítios" na acepção atual da palavra, mas sim uma grande extensão de terras, habitada por membros de uma mesma família, ou seja, conglomerados familiares com média de 40/50 pessoas.
Alguns desses sítios transformaram-se em povoações, outros continuam como aglomerados rurais que fazem parte dos atuais municípios brasileiros.
Um dos primeiros registros paroquiais que encontrei em Bananeiras/PB, foi de  Anna,  batizada em 20/09/1840, filha de JOAQUIM JOSÉ PINTO E INÁCIA MARIA DA CONCEIÇÃO (meus tetravós), onde os padrinhos foram MANOEL JOZÉ PINTO (avô paterno) e FRANCISCA GOMES D’OLIVEIRA (avó materna), constando que todos eram moradores no BURACO.

O Sítio Buraco, localizado na zona rural de Bananeiras/PB ainda existe, embora hoje sua extensão territorial seja bem menor que em 1840. Atualmente, conta com 20 estabelecimentos agropecuários e com população estimada em 130 pessoas, quase o mesmo número que eu acredito que existia naquela época.
No sítio Buraco, além da família de Joaquim José Pinto, constatei a presença de outras, todas aparentadas, conforme os registros abaixo.

1) batizado de JOAQUIM em 01/04/1838, filho de ANTONIO BARBOSA PINTO e ANNA THEREZA. 


2) batizado de ANTONIO em 11/10/1840, filho de LUIZ JOSÉ (Souza?) e MARIA ROSA DE LIMA



3) batizado de THEREZA em 08/08/1840, filha de MANOEL GOMES DOS SANTOS e ANTONIA MARIA
4) batizado de Anna, filha de Manoel Ignácio e Joana Maria (brancos). Padrinhos MANOEL FERREIRA DOS SANTOS e FRANCISCA GOMES DE OLIVEIRA (minha pentavó mãe de Ignácia, casada com Joaquim José Pinto)  

5) Casamento em 23/11/1838 de FELIPPE DE "SÃO TIAGO" DA CRUZ e JOAQUINA MARIA 
FRANCISCA. 

No SÍTIO BURACO, há registro de algumas famílias: RIBEIRO, SANTOS, OLIVEIRA, SOUZA, VELOSO, LIMA, além da família PINTO.

FRANCISCO - FILHO DE MANOEL JOZÉ PINTO - 1809

Alguns registros que em encontrei ao longo das minhas pesquisas são enigmáticos, uma vez que não consegui fazer qualquer ligação com a minha família (PINTO).
É o caso do batismo de FRANCISCO, filho de MANOEL JOSÉ PINTO E ANNA QUITÉRIA, realizado em 1809 em "LAGOA GRANDE" (ALAGOA GRANDE?), encontrado nos livros paroquiais de Mamanguape.
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Na verdade, como a distância entre Mulungú/PB e Alagoa Grande/PB, em linha reta, é de aproximadamente 16 Km, penso que tal documento reforça ainda mais o indício de que MANOEL JOZÉ PINTO, que encontrei nas pesquisas como residente em MULUNGÚ por volta de 1775,  ser o pai ou avô de meu pentavô MANOEL JOZÉ PINTO.
Quanto a FRANCISCO, nascido em 1809, não tenho maiores informações, apesar de ter a princípio pensado que se tratava de FRANCISCO TEIXEIRA DA SILVA PINTO, o Chico Gago, da família PINTO de Bananeiras/PB, que tratei em outra postagem. Todavia, segundo informações que obtive, logo no início das minhas pesquisas, esse teria falecido em 1862, aos 48 anos de idade, em João Pessoa, segundo um obituário que não tive acesso até a presente data. Logo, o CHICO GAGO teria nascido por volta de 1813/1814, e  obviamente não poderia ser a mesma pessoa.
No entanto, o mais interessante é que não há registro de ninguém com o sobrenome PINTO em Bananeiras antes de 1809. O primeiro, registro trata-se do nascimento de JOZÉ, filho de JOZÉ PINTO e ANNA FRANCISCA, batizado em 28/08/1809.
Este JOZÉ PINTO, que assume o nome de JOZÉ PINTO DE QUEIROZ, era filho daquele MANOEL JOZÉ PINTO (com MARIA DE OLIVEIRA) residente em Mulungú. O que demonstra que pelo menos um dos filhos dele foi para Bananeiras.
Neste registro, de 1837, vemos que  ele e sua mulher MARIA JOZÉ DA CONCEIÇÃO, foram padrinhos de JOÃO, filho de MANOEL FRANCISCO DE SOUZA e ESMENIA MARIA DA PURIFICAÇÃO (brancos e residentes no BACOPARI *).
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Na verdade, como não encontrei o registro de nascimento de meu pentavô, estimei que ele -  MANOEL JOZÉ PINTO - nasceu por volta de  1896,  levando em conta a data de nascimento dos filhos. Mas, como não encontrei todos os filhos que teve com ANNA JOAQUINA, minha pentavó, que faleceu em 1840, provavelmente de parto do último filho  - ANTONIO JOZÉ PINTO, posso ter errado nas minhas suposições. 
Assim, ainda fica a dúvida: Quem era este FRANCISCO, nascido em 1809, filho deste MANOEL JOZÉ PINTO e de ANNA QUITÉRIA?  
Seria filho de meu pentavô MANOEL JOZÉ PINTO e, neste caso, o nome da mãe estaria grafado como ANNA QUITÉRIA ao invés de ANNA JOAQUINA?
Seria outro filho do MANOEL JOZÉ PINTO, irmão do JOZÉ, pai de meu pentavô MANOEL JOZÉ PINTO?
Seria algum tio ou primo de meu pentavô?
São perguntas que não obtive respostas até agora. O fato mais intrigante é que este registro demonstra claramente a existência de um FRANCISCO, filho de MANOEL JOZÉ PINTO. E, por ser o sobrenome PINTO raro na região - quase todos que encontrei consegui comprovar a ligação com a minha família - é pouco improvável que não seja alguém ligado à minha árvore genealógica. 

* Sobre o sítio BACOPARI em outra postagem

sexta-feira, 28 de junho de 2013

HÁBITOS DOS NORDESTINOS (SÉCULO XIX)

Extraído do livro GENEALOGIA SERTANEJA – Capítulo IV

Precisei estudar os hábitos dos nordestinos para entender como era a vida dos meus ancestrais.
É sabido que nos séculos XVIII e XIX no Nordeste, como em todo o Brasil, os hábitos e costumes eram, para nós que vivemos no século XXI, realmente aterrorizantes. Principalmente quando se trata do papel da mulher naquela sociedade, que se resumia tão somente em ficar dentro da casa, sempre ocupada com os serviços domésticos, ou seja, cozinhando, lavando, passando e costurando, cuidando dos filhos (geralmente mais de dez), subordinadas sempre ao pai ou ao marido, e, não raro, submetidas a maus tratos (era comum o marido bater na mulher para “corrigi-la”)..
A mulher tinha na sociedade um papel de submissão e de inferioridade em relação ao homem.
É bom salientar que mal a menina atingia doze anos era considerada uma “moça”, pronta para se casar. Os pais lhes “arrumavam” o marido, e o casamento ocorria quando tinham entre 12 e 16 anos. Se atingissem 20 anos de idade eram consideradas “moças velhas” que estavam no “caritó. As “solteironas” viravam “babás” dos sobrinhos.
Segundo Horácio de Almeida* , “... os casamentos precoces e mais particularmente os casamentos consanguíneos, à força de repetidos, acabaram por constituir norma adotada a preceito pelas gerações passadas. Eram frequentes as uniões consanguíneas, sobretudo de tios com sobrinhas, não só pelo preconceito de branquidade, como pelo receio de dar ingresso a estranhos no seio da família... os casamentos davam certo, talvez mais do que hoje, mas isso se devia acima de tudo a um fator preponderante, que era a submissão da mulher – peça silenciosa do lar – sem noção de personalidade e tampouco sem possibilidades econômicas que lhe assegurassem independência. Reduzida a um ser humano protegido, resignava-se a desempenhar a função de procriar e às vezes até de criar filhos naturais do marido.”  
Fiquei realmente chocada quando descobri que algumas de minhas ancestrais se casaram no início da adolescência, umas com apenas catorze anos de  idade.
Mas, este era o costume da época.
Naquela época (entre os séculos XVII e XIX) ser mulher era difícil. Ser homem era bem mais fácil.
Em uma sociedade machista os homens eram privilegiados: podiam escolher
a profissão (geralmente igual à do pai) e suas futuras esposas. Os homens mandavam nas suas esposas, nos seus filhos e nos seus escravos.
Longe da “Corte” o nordestino do século XIX desconhecia o que se passava no Rio de Janeiro. Falava português arcaico, enriquecido de inúmeros vocábulos indígenas. Estima-se que hoje, temos mais de dez mil palavras oriundas do tupi, entre as quais aquelas já utilizadas naqueles tempos como beiju, tapioca, tipoia, arapuca, pindaíba, peteca, capim, cipó, mingau, toca e outras tantas de origem africana como maribondo, mocotó, mangar e xingar.
No Nordeste, como em todo o Brasil, a influência indígena na geografia é impressionante: rios (Abiaí, Guajú, Potengi e Inhobim), cidades (Itaporanga, Juripiranga, Parnamirim e Sipiúba), nome de serras (Borborema, Jabitacá e Mogiqui), tudo deriva da língua indígena, até os nomes de alguns estados como PARAÍBA, PIAÚI E PERNAMBUCO.
Os nordestinos dormiam em redes. As camas eram raras. Em muitas casas havia cabos de madeira fincados no chão para pendurar as redes, pois as paredes das casas (geralmente de taipa) não aguentavam o peso.
Até a metade do século XIX, não existiam privadas ou banheiros. Nas casas de pessoas com melhores condições financeiras usava-se o penico (também chamado de urinol), que era um recipiente arredondado e fundo (parecendo uma grande xícara), o qual era mantido nos quartos debaixo da cama para ser usado principalmente à noite, quando era perigoso sair de casa e arriscar-se no mato a fim de satisfazer as necessidades fisiológicas.
O penico foi usado até a década de 70 do século XX, em áreas rurais onde não existiam banheiros ou privadas, ou estas eram localizadas no quintal da residência e não em seu interior.
Até a metade do século XIX a maioria das mulheres não usava nenhum tipo de roupa íntima. Calcinhas eram usadas somente por prostitutas. Desconheciam os métodos de concepção e por isso as famílias eram grandes, somando-se a isso a precocidade das mulheres nos casamentos.
Para deixar a roupa mais lisa, usava-se a “goma” de mandioca e água, daí até hoje se usar a expressão “engomar a roupa”.
Antigamente muitos sertanejos possuíam, além de suas moradias regulares (sítios ou fazendas,) as “casas de rua”, que eram ocupadas nas “festas do ano (festa da padroeira, Natal e Semana Santa) e, já no final do século XIX, também eram ocupadas nos dias de feira (esse costume dura até hoje). Em Santa Cruz/RN, aos sábados – dia da feira – até hoje muitos ocupam suas casas na cidade para “fazer a feira” retornando para seus sítios na zona rural no final do domingo.
Até o século XIX, nas ribeiras encontravam-se quase sempre membros de uma mesma família, em média 40 pessoas, sem contar os escravos. As povoações e vilas eram quase sempre formadas do mesmo clã, sendo hábito comum o casamento entre primos, que é explicado em parte pela proximidade dos membros da família.
Pude comprovar que vários membros da minha família se casaram entre si com certa frequência, o que facilitou minha pesquisa, pois reduziu em muito o número de meus ancestrais.

Neste aspecto, é importante salientar que muitos dos cristãos-novos, que se estabeleceram na Paraíba, se dedicaram ao cultivo de tabaco e café. O que mais diferenciava um cristão-novo é que tinham duas ou mais atividades diferentes e mantinham residência em uma vila ou povoação, mas circulavam pela região onde a rede de parentesco era reforçada pelos casamentos entre membros da mesma família, o que me faz acreditar que a origem da família PINTO seja mesmo de algum cristão-novo.

* Horácio de Almeida - vide postagem sobre bibliografia

sábado, 22 de junho de 2013

PIERRE AUDEBERT

Primeiro filho do casal GUILLAUME AUDEBERT e MARIE FAVARD, nasceu em Lês Charreaux (França) no dia 22/09/1879, dia de São Maurício, daí ter sido batizado com o nome de Maurício, nome pelo qual era conhecido em família.
Foi registrado no dia 23/09/1879, com o nome de PIERRE. Seus padrinhos foram Pierre Desmont e Leonie Metau.
Certidão nascimento Pierre. Fonte: arquivo pessoal
Chegou ao Brasil com seis anos de idade no dia 24/09/1885.
Era branco, com cabelos e bigodes ligeiramente ruivos.
Casou-se no dia 29/02/1908, aos 28 anos de idade, com ELVIRA PEREIRA GOMES, na Capela Nossa Senhora da Piedade de Três Rios (RJ).
O casamento foi celebrado pelo padre João Xavier de Carvalho e foram testemunhas Antonio Marques e José Pereira Gomes (irmão da noiva).
Pierre em 1926 em Pelotas/RS - Fonte:arquivo Pessoal 
O casal morou por pouco tempo em Três Rios e, logo após, fixou residência no bairro do Engenho Novo no Rio, onde nasceu o primeiro filho LUDGÉRIO PEREIRA GOMES AUDEBERT (26/03/1909 – 1928).
A segunda foi DAGMAR PEREIRA GOMES AUDEBERT (10/03/1917 – 18/12/2004), e, o terceiro VÍRGILIO PEREIRA GOMES AUDEBERT (6/06/1926).
Elvira faleceu no dia 22/10/1927, no Rio de Janeiro, vítima de tuberculose.
Meses depois, a mesma moléstia vitimou LUDGERO, de apenas 19 anos de idade, na época estudante de Medicina.
Viúvo, Pierre casou-se novamente com ANTONIA GIMENEZ HERNANDEZ em 1928.
Faleceu no dia 26/11/1944 e foi enterrado no cemitério de Inhaúma.

 Pierre aos 60 anos. Fonte: Arquivo pessoal 

Foi escultor, pintor e restaurador de imagens sacras. Responsável pelas obras da Igreja Nossa Senhora de Lourdes em Vila Isabel no Rio de Janeiro, conforme notícia publicada no jornal O PAIZ DE 15/03/1919.

RIACHÃO/PB

Sempre acreditei que Manoel Franco de Oliveira (mais conhecido como Mané Franco), que vem a ser meu tetravô e também meu trisavô, havia morado por algum tempo em Araruna/PB.
Recentemente, localizei o registro de batismo de sua filha MARIA, nascida no dia 31 de outubro de 1854- batizada em janeiro de 1855. 
Para minha surpresa, o batismo foi realizado no ORATÓRIO DE RIACHÃO, o que me leva a crer que, na verdade, naquela época Manoel morava mesmo em Riachão e não em Araruna.
No decorrer de minhas pesquisas já havia descoberto que Inácio Francisco Ribeiro,  morador na “vargem de Tacima”, havia tomado MANOEL FRANCO DE OLIVEIRA e sua mulher IGNÁCIA MARIA DA CONCEIÇÃO por padrinhos do filho Antonio (nascido em  29/04/1855), o que me levou a crer que ele teria alguma ligação com Tacima, vez que o sobrenome RIBEIRO aparece em muitos registros paroquiais demonstrando que as famílias eram muito próximas.
Naquela época, tanto Tacima quanto Riachão pertenciam a Araruna, que foi desmembrada de Bananeiras em 4/07/1854, razão pela qual os livros paroquiais de Araruna começam a partir de 1854.
Note-se que Riachão e Tacima, tal qual Bananeiras, pertenceram a Freguesia de Mamanguape antes de 1835.
Assim, encontramos nos livros de Mamanguape muitas referências a Riachão, como este registro de 1826, do batismo de Apolinário, filho natural de Marcos José de Mello e Anna Joaquina, e padrinho o Comandante José Apolinário (?).
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Como desconhecia totalmente a história do lugar comecei minhas pesquisas e vi que não existem muitas informações de RIACHÃO.
Na internet, encontrei que o município só foi criado em 1997. Sua população é de 2.793 habitantes. Não achei absolutamente nada sobre a história de sua fundação.
Então, resolvi pesquisar nos livros paroquiais, jornais e documentos do início do século XIX e constatei que Riachão já era conhecida desde 1820, com uma população razoável considerando a época.
Quase 200 anos de história que ainda não foi resgatada. Uma lástima.
Na verdade, Riachão, por ter uma posição demográfica privilegiada, se desenvolveu muito com seus primeiros moradores que tanto eram criadores de gado como produziam agricultura de subsistência.
Uma antiga estrada carroçável, de cerca de 6 Km, ligava Riachão a Tacima. Outra, de cerca de 12 Km à Araruna .
De Araruna até Tacima, havia a "estrada geral de Tacima", citada no documento de criação da freguesia de Araruna de 1854.
Aliás, no mesmo documento, consta a fazenda SALGADINHO, de propriedade na época de MANOEL RIBEIRO, que reunia muitas famílias.
Atualmente, Riachão tem alguns agrupamentos rurais tais como CARNAÚBA, MASSAPÉ e SALGADINHO, sendo que este último, pelo nome,  parece tratar-se da antiga fazenda.
O certo é que o desenvolvimento do local foi intenso, entre 1820 a 1856, como comprovam os registros paroquiais. 
Casas, feira e até um oratório já existiam em 1850. 
O oratório se transformou em capela onde foram batizadas muitas crianças. 
RIAXÃO, com a grafia da época, tal qual aparece no registro de batismo de MARIA, filha de Manoel Franco de Oliveira e Ignácia Maria da Conceição, nascida em 31/10/1854 batizada em 31 de janeiro de 1855. Foram padrinhos Francisco Franco de Oliveira e Francelina Maria da Conceição, conforme abaixo.
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Tal registro é muito importante, não só pela localização exata de onde vivia MANOEL, como também pela existência de outros filhos, além dos 9 que consegui localizar em minhas pesquisas durante 8 anos.
Por outro lado, considerando o ano em que ISABEL FRANCISCA DE LIMA (filha de Manoel) se casou (1870) com Emígdio José de Souza Pinto a conclusão é de que ISABEL não nasceu em Santa Cruz/RN e tampouco em Araruna, mas sim em Riachão mesmo, o que vai demandar novas pesquisas.
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Interessante também notar a grande quantidade de "brancos" em Riachão. Como nestes registros
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Outro ponto importante foi ter localizado a presença de HORTÊNCIO JOSÉ DE SOUZA, que segundo a professora ZILMA FERREIRA PINTO, no livro os FERREIRA DE TACIMA (Rigrafic Editora Ltda 2000), por volta de 1850 já se encontrava estabelecido em Tacima.
Na verdade, encontrei dois registros de 1855 onde ele aparece como padrinho de batismo de crianças. E, ao que tudo parece, não estava, naquela época em Tacima, mas sim em Riachão.
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Note-se que, nos registros paroquiais, constam vários moradores de Tacima, mas que era muito menor e mais insignificante ná época do que RIACHÃO.

A capela de Tacima já existia desde 1838, como vemos neste registro de casamento de Domingos Lopes da Fonseca, viúvo de Joana Maria de Jesus, sepultada na Capela de Tacima.  O que leva a crer que HORTÊNCIO não vivia naquela época em Tacima, mas sim em Riachão.
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A decadência de Riachão, como também de Araruna e Bananeiras, foi motivada pela terrível epidemia de cólera que se abateu entre os meses de fevereiro e abril de 1856. Segundo consta, só em Araruna 607 pessoas faleceram em decorrência da doença, ou seja, quase um terço da população da freguesia.
Com medo da doença, muitos fugiram para o Rio Grande do Norte.
Acredito que esta foi a razão para que MANOEL FRANCO DE OLIVEIRA tenha retornado à Santa Cruz. Todavia, só há prova documental de sua estada lá a partir de 1863, quando do batismo de sua filha JOANA, nascida em 25/06/1863 (livro de batizados Santa Cruz - fl 83).

Outros registros paroquiais de RIACHÃO de 1855, apenas para exemplificar.
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quinta-feira, 20 de junho de 2013

GUILLAUME AUDEBERT e MARIE FAVARD

Guillaume era o sexto filho do casal François Audebert e Gabrielle Reynaud.
Nasceu no dia 10/03/1856, em Lês Charreaux (França), sendo seus padrinhos Guillaume Reynaud, seu avô materno e, madrinha Anne Audebert (sua tia paterna).
Casou-se no dia 30/11/1878, aos 22 anos de idade, em Nailhac com MARIE FAVARD, nascida em 21/09/1859 em Lá Bonétie (Saint-Robert – Corèze), filha de Joseph Favard e Jeanne Chansaud.
Filhos do casal:
- PIERRE AUDEBERT
- GABRIELLE AUDEBERT
- AURORA AUDEBERT.
Pierre e Gabrielle nasceram na França e Aurora no Brasil.
O casal, acompanhado dos filhos Pierre e Gabrielle, chegou ao Brasil em 24/09/1885, desembarcando no porto do Rio de Janeiro.
Fotografia de outubro de 1885. Guillaume, Marie e os filhos Pierre e Gabrielle. Arquivo pessoal.

Guillaume era conhecido no Brasil como GUILHERME. MARIE, como MARIA LINÁH.
Guillaume faleceu no dia 27/12/1912 no Rio de Janeiro e foi enterrado, conforme obituário abaixo no cemitério de Inhaúma.
Imagem Hemeroteca Digital

quinta-feira, 13 de junho de 2013

HISTÓRIA DE SANTA CRUZ/RN

Extraído do Capítulo VIII - SANTA CRUZ, do livro Genealogia Sertaneja - Famílias Pinto e Oliveira do Brejo Paraibano e da Borborema Potiguar - de 2012 - Editora Kiron.

A história de Santa Cruz é contada mais ou menos da mesma forma “...pertenciam à grande nação tapuia os índios que dominavam quase toda a Ribeira do Trairi, aglomerando-se nas serras do Ronca, Tapuia e Doutor, atual Município de Santa Cruz. Aí foram encontradas ossadas humanas e diversos objetos pertencentes aos silvícolas, cujo desaparecimento data por volta de 1800. Acredita-se que ainda no século XVIII se tenha dado a primeira penetração do ,elemento civilizado. Entretanto, a colonização só se iniciou em março de 1831, quando Lourenço da Rocha, seu irmão João da Rocha e um companheiro de nome João Rodrigues da Silva, percorrendo os sertões, tocaram naquelas paragens as quais denominaram Malhada do Juazeiro. Pela altura e fronde, sobressaía-se entre os demais, belo juazeiro que se erguia no local onde hoje se situa a Igreja Matriz. A capela, sob a invocação de Santa Rita de Cássia, foi edificada em 1835. Dotada de indispensável patrimônio, incluindo-se paramentos e alfaias, obteve-se provisão para que se celebrassem missas. Tendo vindo de Cachoeira a primeira imagem da Padroeira, o lugarejo passou a ser conhecido como Santa Rita da Cachoeira.
Havia abundância de inharé, árvore tida como sagrada e que provocava secas, epidemias e outros males, toda vez que seus galhos eram quebrados. Segundo a lenda, um santo missionário, tomando conhecimento do fato, dirigiu-se ao local e, cortando galhos de inharé, com eles ergueu uma cruz. Os malefícios cessaram como por encanto. Das fontes, a água jorrou em abundância, os animais tornaram-se mansos e humildes, as aves entoaram cânticos. A localidade foi então chamada Santa Cruz do Inhame. Anos se passaram. O topônimo Inhame foi trocado por Trairei, nome indígena dado o importante curso d’água que banha o território. Mais tarde, simplesmente Santa Cruz” (www.santacruz.rn.gov.br).

É importante salientar que Santa Cruz foi, até 1949, o segundo município mais populoso do Rio Grande do Norte, considerando que sua extensão contava com 2.351 km de área. Posteriormente, desmembrado para a formação de sete municípios (Sítio Novo, Tangará, Japi, São Bento do Traíri, Coronel Ezequiel, Campo Redondo e Lajes Pintadas).
A “história oficial” começou por volta de 1889, quando o Padre Antonio Rafael, prestou a seguinte informação a Moreira Pinto:
... em 1831, Lourenço da Rocha e seu irmão João da Rocha e José Rodrigues da Silva edificaram no local desta Villa uma capella dedicada a Santa Rita de Cássia, a qual não só deram o necessário patrimônio, como a respectiva imagem, paramentos e alfaias, obtendo a Provisão para a celebração de missas. Em 1835 foi elevada a categoria de matriz, sendo seu primeiro vigário o Ver. Camello de Mendonça e Furtado retirou-a em concurso e nella foi collado e empossado. Em 1851 a 1852 o mesmo vigário Camello transferiu a sede da freguezia para a capella de S. Bento, 60 Kils distante da matriz, e não satisfeito com a acquisição desse districto de paz. Então tirado da freg. De Villa Flor, conseguiu também aumentar a freg. Com o dist. de Anta Esfolada, hoje Nova Cruz, para onde passou a sede da freguezia. Pouco depois, esse vigário, foi substituído por permuta que fez, pelo Revm. Jeronymo José Pacheco de Albuquerque Maranhão, que em consequência do cholera-morbus, abandono-a, sendo substituído por mim (padre Antonio Raphael Gomes de Mello), durante três mezes, findos os quaes fui a meu pedido exonerado. Substitui-me o padre Mathias Fernandes Ribeiro, que a regeu até 1858, quando a Lei Prov. N. 393 de 24 de agosto do mesmo anno, foi dividido o território em duas fregs: a antiga de Santa Rita da Cachoeira, hoje Villa do Trahiry, e a da Anta Esfolada, presentemente, Nova Cruz. De 1858 a 8 de outubro parochiou a freg. em questão o Ver. Antonio Dias da Cunha...”.

A título de esclarecimento, o padre Antonio Rafael era pernambucano, e só chegou à região no final da década de 60, ou seja, decorridos muitos anos da fundação da freguesia (criada pela lei n. 24 de 27/03/1835).
Imagem Hemeroteca Digital
É mais do que sabido que uma paróquia não nasce do nada, nem no meio do nada. Sabe-se que no sistema colonial brasileiro eram comuns as “casas de orações”, que se transformavam em capelas, que nada mais eram que pequenas igrejas subordinadas à Igreja Matriz.
Tais capelas serviam para congregar os habitantes, até se transformarem em sede de freguesia, elevada à categoria de Igreja Matriz.
Nunca é demais lembrar que era hábito antigo gravar o rendimento das propriedades rurais para o pagamento de missas em intenção das almas dos instituidores das capelas, significando que aquele que construiu ou ajudou a construir a capela deixava uma “renda” para a sua manutenção, por meio do pagamento de missas.
No final do século XVIII, grande parte das propriedades rurais estava gravada com “missas até o fim do mundo”. Somente em 1835 o Império do Brasil proibiu a instituição de obter rendimentos das propriedades para o sustento de missas em capelas, o que levou a Igreja Católica a transformar muitas capelas em matrizes, pois nelas o número de dizimistas era maior e não haveria carência de recursos para manutenção do templo, face o aumento do número de fregueses, razão pela qual, nesse ano de 1835, muitas capelas viraram matrizes resultando no imenso número de freguesias criadas. Além disso, a lei de 1834 ordenou a criação de unidades administrativas, fazendo uma clara divisão entre o Estado e a Igreja (municípios e Freguesias).
Por trás da criação dessas freguesias havia o interesse econômico da Igreja de Roma. Duas ou três freguesias representavam maior fonte de renda do que uma só.
É preciso conhecer um pouco da história de nosso país para entender o panorama da época e não falar asneira. Infelizmente, o desconhecimento da história e da evolução do sistema político é fato que me deixa entristecida.
Não sou historiadora, só gosto da matéria e, como leiga, verifico que nós brasileiros desconhecemos mesmo a nossa história. Muito triste, mas é fato.
Através da história verificamos que desde 1637, a região da Borborema Potiguar já era frequentada pelo “homem branco”. Chegava-se ao que hoje é o município de Santa Cruz, partindo do Engenho de Cunhaú pelo “Caminho de Garstman”.
Encontramos a primeira menção desse caminho no Diário de Rodolfo Baro de 1647. E, Olavo de Medeiros Filho (No Rastro dos Flamengos) afirma “... naquele 1º. De maio, Roulox Baro chegou à margem direita do Traíri, tendo efetuado a travessia do rio a nado. Pelas nossas deduções, efetivou-se aquela passagem do rio, no local onde hoje se encontra a cidade de Santa Cruz, outrora chamada de Santa Cruz do Inharé”.
Ao que consta, Roulox Baro ficou por aquelas paragens alguns dias antes de prosseguir a viagem. Em 1679, bem perto de Acari, ocorreu um grande conflito com os índios. Estima-se que naquela época aproximadamente 20.000 índios tapuias viviam entre a Paraíba e Rio Grande do Norte, entre eles os taraíru ou tapuias do sertão, retratados como sendo totalmente selvagens.

É bom lembrar que algumas das sesmarias doadas no Traíri foram 
- Terras na Ribeira do Traíri, em 1669, ao alferes Domingos Fernandes
de Araújo.
- Terras pelo Rio Traíri e Lagoa Limpa, em 1710, ao Alferes Antonio
Martins do Vale e Manoel Bezerra do Vale.
- No Riacho Inharé, em 1741, a João Moreira da Cunha38.
- Nas cabeceiras do Inharé, Ribeira do Traíri, em 1754, a Felix Ferreira
da Silva (esta é importante, pois registra, pela primeira vez, a ocupação da área para criação de gado).
-  Na Ribeira do Traíri, em 1742, a Bento Ferreira Mouzinho.
- Terras no Rio Traíri pegando do poço Caiçara de Baixo até Caiçara de
Cima, em 1735, ao Sargento-Mor João de Souza Banhos.
- Terras na Vargem Grande, em 1735, ao capitão Manoel Ferreira Machado.
- Terras no Rio Traíri na parte chamada Caraúba, pegando os testados
do Coronel Manoel Ferreira Machado, em 1735, a Antonio de Souza (morador na Paraíba).
- No rio Traíri , em 1738, a Marcos Moreira e Domingos Baião.
- Nas cabeceiras do Inharé, em 1765, a Manoel de Morais Teixeira.
- Terras de sobras entre as testadas da Gameleira pelo Riacho Purgatório
abaixo até as testadas da Várzea Grande entre São Pedro e Inharé. Ribeira
do Traíri, em 1798, ao ajudante Joaquim Dias Vianna e ao tenente Bento José
Freire.
- Terras entre as fazendas Carnaúba, Várzea Grande e Umbuzeiro, em
1805, a Bernardo Guedes da Fonseca.

Deve-se ter em mente que o início da colonização do interior potiguar, com a concessão das sesmarias, não deve ter sido diferente do que aconteceu em todo o país.
O historiador Irineo Joffily diz que a sequência bandeira/curral/fazenda/ arraial foi responsável pela formação da sociedade sertaneja paraibana, o que vale também para a potiguar.
A real história de Santa Cruz não deve ter sido diferente.
Registre-se que os bandeirantes deslocaram seus gados sertão adentro.
Logo construíram currais (cercados de pau-a-pique), ou seja, as primitivas fazendas de caiçaras (caiçara é cerca de pau ou curral de gado).
Em pouco tempo, não demoravam a erigir uma casa de oração (chamada também de  oratório privado, que se transformava em capela que seria o futuro embrião da povoação, que mais tarde se tornaria cidade.
Olavo de Medeiros Filho diz “... quando em um sítio o descobridor introduzia seus gados levantando um rancho e uma caiçara, primeiros estágios do uso da terra, tal sítio já caracterizava sua finalidade econômica, passava a ter a denominação de fazenda”.
Localizar registros documentais da existência da fazenda de caiçara que teria dado origem a Santa Cruz foi fácil.
Consta no livro “Datas e Notas para a História da Parahyba”, de Irineu Ferreira Pinto (1908 – página 223) que, em 12 de agosto de 1801, foi feito abaixo assinado, com 21 assinaturas para a criação da Paróquia de Nossa Senhora das Merces de Cuité, e conforme o  documento:
“... parochianos dessa nova Freguezia... tais limites a todos os Abitantes da ditta Serra, e pó todos os mais que Abitarem athé a distância de deis legoas a roda della, tendo sua comprehenção pella parte do nascente com a fazenda Caisara do Curumatau com todos os mais abitantes da ditta ribeira athé aquella Serra, os quais erão parochianos da Freguezia de Mamanguape. Pella parte do poente a contestar coma Fazenda de Timbaúba do Quinturaré com todos os mais abitantes de aquella Serra; que athe agora eram Abitantes digo Parochianos da Freguezia do Caicó; Pella parte sul a contestar com a Capella da Pedra Lavrada, que athé agora era filial da nova Matriz, e todos os Abitantes da ditta Capella Paroquianos da mesma nova Matriz de Nossa Senhora das Mercês. Pella parte Norte a contestar com a Fazenda de caisara da Ribeira do Trairi, ficando os Abitantes desta Fazenda, e os que mais pella Ribeira a Sima, de hua e outra parte do Rio, que athé agora erão Parochianos das Freguezias de Goyaninha e Villa de Sam José por esta divizão ficão como sendo Parochianos da Nova Freguezia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Coité (grifo nosso).

Constam as seguintes assinaturas: Luiz Custódio de Oliveira Lima, Antonio de Freitas Fonseca, Amaro Trigueiro, Jose Para de Vasconcelos, Antonio dos Santos Cardozo, Manoel Soares de Medeiros, Macimiano Francisco de Mello, Antonio Tavares Dantas, Manoel Soares de Assunção, José Moreira dos Santos (neto do João Moreira da Cunha que recebeu sesmaria no riacho Inharé, em 1741), Alexandre Frederico de Lima, Antonio Francisco de Oliveira, Alexandre Paes Barreto, Manoel José de Lima, Antonio Soares Pereira, Antonio Francisco Cabral, Abel Francisco José França, Pedro França Lima, Jose Gomes de Santanna e José Soares da Costa.
Em 2008, visitei a paróquia de Cuité e tive acesso aos livros paroquiais. Nos livros de óbitos encontrados (a partir de 1844), verifiquei que muitos registros atestavam o óbito de alguns descendentes dos signatários da petição de 1801 para a criação da freguesia. E, entre estes, muitos moravam na “Freguezia de Santa Ritta” criada em 1835.
Entre esses registros, me chamou atenção o fato de Joaquim José de Santa Anna, falecido em 1844, ser morador no “tronco de Santa Cruz”. Pude constatar que havia muitos registros de óbitos e nascimentos de pessoas que moravam no tal “tronco de Santa Cruz”.
Joaquim José de Santana era filho do José Gomes de Santana, um dos peticionários da criação da freguesia de Cuité. Logo, me parece crível presumir que tanto o pai quanto o filho sempre residiram naquela localidade, ou seja, na Ribeira do Trairi.
Pela leitura dos livros, descobri que o tal “tronco de Santa Cruz” nada mais era do que o centro da povoação, ou seja, o lugar onde ficava o “pelourinho”, local usado para castigos corporais.
O embrião da futura cidade de Santa Cruz que, aliás, vem da tal fazenda de caiçara, citada na criação da paróquia de Cuité, já em 1801.
Devo esclarecer que o termo “RIBEIRA”, apontado na época, não era um acidente geográfico, mas sim uma forma de demarcação de terra, geralmente no meio da sesmaria, já que obviamente servia de estrada e principal ponto de apoio para o gado.
ROHAN explica no seu Diccionário de vocábulos brasileiros, editado em 1889, no verbete RIBEIRA:“ Províncias do Norte – Distrito Rural que compreende um certo número de fazendas de criar gados. Cada ribeira se distingue das outras pelo nome do rio que a banha; e, tem, além, um ferro comum a todas as fazendas do distrito, afora aquele que pertence a cada proprietário”.
Nas fazendas das ribeiras se agrupavam os vaqueiros e suas famílias, além de escravos, que no Rio Grande do Norte não constituíam número considerável.
Assim, existe prova incontestável de que a povoação que deu origem a Santa Cruz, já existia no início do século XIX (1801), o que leva por terra a tese de sua “criação”, e de seus fundadores.
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Há provas de que havia uma fazenda de caiçara (com habitantes) na “Ribeira do Traíri”, no local onde hoje se situa a cidade de Santa Cruz, mas não encontrei nenhum documento, absolutamente nada, sobre as terras que seriam dos irmãos João da Rocha e Lourenço da Rocha, quanto mais de José Rodrigues da Silva.
Se a freguesia de Santa Cruz foi criada em 1835, é absurdo pensar que a freguesia fosse criada apenas quatro anos depois da “fundação” da povoação.

Na “petição” para a criação da freguesia constam mais de 80 assinaturas. Todas de homens, não há nenhuma mulher (a participação da mulher na vida pública ocorre a partir do segundo decênio do século XX).
Significa, então, que existia, já em 1835, uma população notável que morava nas redondezas da referida igreja que virou Matriz (por força das circunstâncias da época como já expliquei antes).
Por simples cálculos aritméticos, considerando que cada um desses homens fosse casado, com mulher, filhos e escravos, teríamos, no mínimo, umas 640 pessoas, resultado da multiplicação de 80 x 8 (média da época – casal e filhos).
Nesta conta não se incluem os escravos, nem a população flutuante, ou seja, aquela que estava de passagem, a trabalho ou em visitas.
Claro que não considero que esta população estivesse, em 1835, toda concentrada no centro da povoação, mas sim espalhada pelas redondezas. Mas é lícito supor que, no mínimo entre 10% a 20 % deste total, ou seja, de 64 a 120 pessoas, já se encontravam no arraial (fora os escravos, índios aldeados e população flutuante).
Naquela época, um arraial com tal número de habitantes era significativo e levava anos para atingir tal quantidade de pessoas.
Ademais, para confirmar minha tese de que o início da povoação de Santa Cruz é bem mais antigo, no mínimo do final do século XVIII, vejo que nem José Rodrigues da Silva, nem João da Rocha Freire, nem Lourenço da Rocha Freire encabeçam a lista dos peticionantes. Muito pelo contrário, aparecem na 48ª, 49ª e 50ª posições, ou seja, mais da metade da lista, o que, para mim, representa que não eram nem importantes ou influentes, tampouco “fundadores” da povoação, pois se o fossem seria natural que nesta qualidade encabeçassem a lista, já que passados apenas quatro anos de sua fundação.

Quem funda uma cidade e escolhe até o lugar da “futura povoação”, construindo casas e edificando uma pequena capela não ocuparia uma posição tão insignificante na criação da freguesia quanto ocuparam JOÃO DA ROCHA FREIRE e seu irmão LOURENÇO DA ROCHA FREIRE. Lógico seria o contrário, que encabeçassem a lista por possuírem maior relevância e influência por serem "FUNDADORES" (?).
A lista dos nomes é a seguinte, segundo Monsenhor Bezerra (no livro Memórias Históricas de Santa Cruz):
1) Domingos Francisco Soares da Silva 2) Joaquim Felix Ferreira 3) Francisco José da Silva 4) Carlos José Rodrigues 5) Francisco Gomes da Silva 6) Severino Freitas da Costa 7) Januário de Souza Barros 8) José de Souza Oliveira 9) Joaquim Correia de Melo 10) Francisco José de Melo 11) Cristovão José de Melo Pita 12) Luis de Souza Lima 13) Anacleto Pedro Barroso 14) Anacleto Peçanha Neves 15) José Soares dos Santos 16) Gonçalo Barbosa de Moura 17) Gonçalo José Barbosa 18) Antonio Pereira dos Santos 19) Antonio Manoel Costa de Medeiros 20) José Antonio da Silva 21) Manoel da Costa Soares 22) Manoel José do Nascimento 23) Vicente Ferreira de Macedo 24) Francisco Antonio da Silva 25) Antonio Bezerra de Souza 26) Tomaz de Oliveira 27) Manoel Justino de Oliveira Galvão 28) Manoel Luiz Maciel 29) Teodósio Soares 30) Ponciano José de Oliveira 31) Silvestre Soares 32) Tomaz de Oliveira Junior 33) João da Cruz 34) Manoel Francisco dos Santos 35) Bernardo da Cruz 36) Antonio de Oliveira Saraiva 37) Cosme Pereira 38) Gonçalo José Rodrigues 39) Francisco Antonio Bezerra 40) Manoel Rodrigues 41) Luiz do Monte Xavier 42) Manoel Rodrigues de Morais 43) Roberto Gomes Ferreira 44) Estevão José Coelho 45) Manoel Joaquim Fernandes 46) João Grilatino de Lima 47) José da Costa Soares45 48) Teodósio Ferreira do Nascimento 49) JOSÉ RODRIGUES DA SILVA 50) JOÃO DA ROCHA FREIRE 51) LOURENÇO DA ROCHA FREIRE 52) Antonio da Rocha 53) Bernardino Ribeiro de Moura 54) Joaquim Bezerra de Menezes 55) Manoel Barros 56) Antonio de Moura Saraiva 57) Francisco Gomes 58) Manoel Antonio de Souza 59) José Felix 60) José Antonio Barbosa 61) Bento Francisco da Rocha 62) Leopoldo José de Queiroz 63) Severino da Solidade Bezerra 64) João Martins de Souza 65) Manoel Martins de Souza 66) Miguel Figueira 67) Francisco Lopes da Silva 68) Vicente Antunes de Lima 69) Inácio Antunes de Lima 70) Andre Antunes de Lima 71) Manoel Mendes de Lima 72) Francisco Cardoso Navarro 73) Julião Borges Martins 74) Cipriano José da Glória 75) Joaquim José Segundo Vale 76) Vicente Ferreira da Costa 77) Manoel Caetano de Moura 78) Antonio Rodrigues da Silva 79) Manoel Jacinto da Silveira 80) Roberto Pereira de Castro 81) João Barbosa de Moura 82) João Pereira da Silveira 83) Manoel Mizael Baião 84) Bento Manso Ferreira Maciel 85) Joaquim Francisco de Lima e 86) Manoel Paixão Bezerra.  
Em seu livro, Monsenhor Bezerra reconhecendo o absurdo da história “oficial”, escreveu: “... a data de 1831 que faz mensão (sic) o Vigário Antônio Rafael, para ser o ano da fundação de Santa Cruz, não parece ser muito certa e não se sabe em que se baseou o informante... deve datar a sua fundação do ano de 1825... foi encontrada uma telha na qual estava escrito 1825... o ano de 1831 para como de sua fundação e 1835 de criação da paróquia, com quatro anos apenas, Santa Cruz, um simples povoado, não tinha capacidade e preparo para ser elevada a categoria de paróquia... é fatível que a capela não deve ter sido a primeira construção do lugar escolhido; mas sim, casas para residências devem ter antecipado a capela ... E, acrescenta: ... o nome Santa Cruz é antigo, porém não foi o primeiro (?), mas veio se consolidar melhor quando, em 1833, o Conselho do Governo presidido por Joaquim José de Melo, promoveu o lugar à categoria de ‘Povoação”, com o nome de “Santa Cruz(p. 37).
Embora Monsenhor Bezerra confunda a divisão administrativa com a eclesiástica, o que é compreensível já que ele fazia parte do clero, demonstrou dúvida quanto à “história oficial” mesmo que a tenha repetido em seu livro.
Contada e recontada, a história virou “oficial” mesmo sem nenhuma comprovação documental, pelo menos não encontrei nada em minhas pesquisas até agora.
Nenhum documento. Absolutamente nada!
De curral para fazenda, de fazenda para arraial, de arraial para povoação demora algum tempo. Com Santa Cruz não foi diferente.
Elevada à categoria de povoação em 1833 o arraial há muito existia.
Eu encontrei sim, alguns registros paroquiais, em Caicó, desde 1813 falando do “lugar da Santa Cruz”
Não quero criar polêmicas, mas a prova documental e a lógica contradizem a versão apresentada. Não sou da terra e nem quero lançar por terra a “história oficial”, embora tenha subsídios que me apontam para os primeiros habitantes (alguns nomes e o registro da Data de São Joaquim) não tenho nenhuma prova legítima de quando Santa Cruz começou como agrupamento, com casa e moradores. Não houve tempo suficiente para lançar mão de pesquisas nos documentos da capitania, nem nos livros paroquiais de São José do Mipibu ou pesquisar a cadeia dominial dos imóveis do período anterior a 1820, tampouco inventários.
Apesar do meu interesse por história, o objetivo do livro é genealogia.
Deixo a pesquisa histórica para um santa-cruzense, filho da terra, que tenha real interesse em pesquisa e que não repita como “papagaio de pirata” uma história bem contada, mas distante da realidade.
Na verdade, os primitivos moradores edificavam as “casas de orações” também chamadas de “oratórios privados”, que posteriormente se transformaram em capelas, depois em igrejas que por sua vez transformaram em matrizes.
Mas, esse processo não ocorre da noite para o dia. Primeiro surgem os moradores do local.
A princípio, cada qual em suas terras, com suas criações e agricultura, rezando em suas casas com suas famílias. Logo, faz amizade com os vizinhos e não tarda a “marcar” novenas e orações (tradição da Igreja Católica). O grupo de vizinhos aumenta com o passar do tempo e logo uma casa de orações é instituída.
Depois surge uma capela, pequena e provisória, dependendo do crescimento do número de fiéis. A capela vai aumentando de tamanho ao longo dos anos. Vira igreja, até ser “promovida” a paróquia e, finalmente, matriz da freguesia.
Para mim, não há qualquer dúvida de que a origem de Santa Cruz foi uma fazenda de caiçara (como tantas outras cidades). O arraial logo depois, no final do século XVIII, início do século XIX, acreditando que por volta de 1810 já era notável o número de seus habitantes, com capela e casas, com o nome de Ribeira do Traíri.
Outro erro que encontrei nos “registros oficiais” foi à menção da fazenda “Cachoeira” que seria localizada em Lajes Pintadas, para justificar o nome que constava nos livros paroquiais: “SANTA RITA DA CACHOEIRA”.
Santa Rita da Cachoeira pela “Carta topográfica e administrativa das províncias
do Rio Grande do Norte e Parahíba”, de 1848, feito por Vicente J. Vilares de l’lle Adam ficava perto de Natal (não consegui localizar a paróquia, mas atualmente existe uma em Ponta Negra, da qual não obtive maiores informações. Note-se que Ponta Negra é mencionada nos mapas desde 1670, o que significa que é uma localidade bem antiga).
A Igreja mesmo deve ter sido construída por volta de 1820, e, finalmente, transformada em matriz em 1835.
Na Cúria Metropolitana de Natal, existem quatro livros vinculados a Santa Cruz. O primeiro, datado de 26/11/1859, diz que a freguesia é de “Santa Rita da Cachoeira”, e foi da Villa do Jardim, assinado pelo vigário Francisco Justino Pereira de Brito.
No segundo, de 1860 (apenas dois meses depois do primeiro) está Santa Cruz, assinado pelo vigário Antonio Dias da Cunha.
No terceiro está escrito Freguesia de Santa Rita da Cachoeira (10/01/1865). Já no quarto livro, Freguezia de Santa Cruz (1867).
Percebe-se que a o próprio clero não sabia nominar a freguesia. Ora indica o nome da divisão administrativa (povoação), ora da freguesia com o nome errado.
Na época existiam muitas freguesias de Santa Rita no Brasil. Santa Ritta da Lagoa de Cima (RJ), Santa Ritta (PB), Santa Rita de Morrinhos (GO), Santa Rita da Jacutinga (MG), Santa Rita do Sapucaí (MG), Santa Rita do Rio Negro (RJ) e muitas outras mais. Era importante diferenciá-las. Daí o acréscimo da localidade onde estava situada ao nome da freguesia.
No Rio Grande do Norte, como em todo o Brasil, pelo motivo que  expliquei acima, foram criadas muitas freguesias após 1835. Mas, pelo menos duas tinham o nome de Santa Ritta, uma com o acréscimo de CACHOEIRA e outra com TRAÍRI.
Os padres, mormente aqueles que não eram da região, desconheciam os nomes corretos das freguesias. Ninguém consultou o ato da criação da paróquia, de 24 de março de 1835, pelo qual foi elevada à categoria de matriz a Capela de Santa Ritta, “ereta na povoação de Santa Cruz da Ribeira do Traíri”.
O único que sabia corretamente o nome da freguesia foi o primeiro pároco, que assumiu o cargo em 1836, João Soares da Veiga Albuquerque e Almeida, o qual sempre assinou como “vigário da Matriz de Santa Rita de Cássia do Traíri”. Os outros, que o sucederam, estavam completamente desinformados.
E foi esta confusão criada por um desses padres que levou a engano as autoridades eclesiásticas, que de 1849 em diante, começaram a chamar a freguesia de Santa Rita da Cachoeira.
Nem todos do clero se deixaram enganar.
Nos registros paroquiais de Cuité, consta Freguesia de Santa Rita ou Santa Ritta do Trahyri (1840 em diante) e não há menção de CACHOEIRA, o que reforça ainda mais o fato de que aquela freguesia até então nunca foi chamada de Santa Rita da Cachoeira.
Com o tempo ninguém admitiu o erro e, para piorar, justificaram o nome CACHOEIRA. Mas como em Santa Cruz não existe e nunca existiu nenhuma cachoeira entra a “história” de Lajes Pintadas.
Ninguém teve o trabalho de pesquisar. Pesquisa cansa. Exige tempo e esforço.
Melhor deixar como está.
Infelizmente, não sou assim. Não me convenço facilmente sem provas. Eu tenho a prova documental que é o mapa de 1848, que demonstra claramente onde estava localizada Santa Ritta da Cachoeira, a qual nada tinha a ver com a freguesia de Santa Ritta do Traíri.
O pior é que muitos historiadores ainda dizem que o tal mapa está errado.
Para finalizar, acrescento que no livro do Monsenhor Bezerra consta “... na sua informação a Moreira Pinto, Antonio Rafael diz que os fundadores de Santa Cruz foram Lourenço da Rocha e seu irmão João da Rocha e José Rodrigues da Silva. Os dois primeiros não vieram de lugar distante, pois nasceram e viveram na região do Traíri. Muito antes de 1825 já possuíam terras às margens do Traíri e no riacho Inharé”.
 Monsenhor Bezerra, no entanto, não apresenta nenhuma prova disto. Não apresentou porque esta prova não existe! Ele só perdeu tempo pesquisando durante muitos anos e nada encontrou.
 Em seu livro fala de uma carta de 1846 para provar que Lourenço da Rocha residia lá. Ora, é certo que residia, o nome dele consta como signatário da petição desde 1835, mas, daí a a ser fundador é outra história. .
É bom relembrar que o padre Antonio Rafael só chegou a Santa Cruz em 1866, permanecendo até 1890, quando faleceu.
Não se sabe quando o padre prestou as informações a Alfredo Moreira Pinto, só que o Dicionário Geográfico do Brasil foi publicado em 1894, quatro anos depois da morte do padre.
A fonte não parece ser segura. Quanto mais sem nenhuma documentação que a comprove.
Os verdadeiros fundadores da cidade foram os criadores de gado, moradores na Ribeira do Traíri, cujos nomes foram esquecidos pela história.
Eles não tinham uma vida de opulência (ao contrário dos senhores de engenho do litoral). Estavam sempre à procura de pastos para os seus gados e à mercê das intempéries. Os serviços religiosos estavam sempre ligados a esta variação.
Reunidos, junto a outros nas mesmas condições, o sertanejo sentia-se seguro e com melhores condições de sobreviver. Esses agrupamentos foram os embriões de muitos povoados, vilas que, posteriormente viraram cidades.
No livro História do Rio Grande do Norte, A. Tavares de Lyra informa que “o século XVIII foi o do povoamento completo da capitania ·... a população estava disseminada por toda parte, atingindo as serras e os pontos mais remotos, condensando-se nos vales férteis do littoral e nas ribeiras dos rios sertanejos”.
Segundo ele, Capistrano de Abreu teria formulado a seguinte imagem daquela época “... os primeiros occupadores do sertão passavam vida bem apertada: não eram os donos das sesmarias, mas escravos ou prepostos. Carne e leite havia em abundância, mas isto apenas”.
Cabia ao vaqueiro amansar e ferrar bezerros, curar bicheiras, queimar os campos para fazer pastos, saber das cacimbas e poços que serviam de bebedouro para o gado.
Só depois de quatro ou cinco anos de serviço o vaqueiro começava a ser pago: de quatro crias cabia-lhe uma; podia fundar uma fazenda por sua conta. Desde o começo do século XVIII as sesmarias tinham sido limitadas ao no máximo de trez léguas separadas por uma devoluta.
Conta uma lenda que um missionário que foi visitar o arraial, mandou fazer uma grande cruz com os ramos de uma árvore chamada Inharé. Ao lado cavou
um enorme buraco e ordenou que todos jogassem suas armas dentro, enterrando-as.
Esta lenda pode ter uma base de verdade, pois havia um hábito antigo de colocarem cruzes de madeira (cruzeiro) no lugar onde iria construir uma capela. Era também costume celebrar o dia da Santa Cruz (3 de maio), que era advindo de Portugal. Nesse dia os fazendeiros eram orientados a erguerem cruzes, que enfeitavam e rezavam “arreda e afasta satanás porque essas almas não são suas, ao dia de Santa Cruz, direi mil vezes o nome de Jesus”.
Sempre é bom lembrar que o Brasil já teve o nome de TERRA DE SANTA CRUZ, por ter Pedro Álvares Cabral chegado aqui próximo ao dia de Santa Cruz – três de maio – e, cumprindo a tradição, resolveu colocar a primeira cruz em solo brasileiro.
Para mim, o nome da terra deve estar associado, de alguma forma, ao dia de celebração. Mas, é uma mera cogitação.
Santa Cruz ficou conhecida como “Santa Cruz do Traíri”. A denominação “Santa Cruz do Inharé” data do século XX, após a construção do açude de Inharé.
Sabe-se que, na segunda metade do século XVIII, alguns missionários capuchinhos – Frei Teodoro de Lucé, Pe. Martin de Nantes e Frei Anastase - se aventuraram no sertão de Pernambuco, no Brejo da Paraíba e no Rio Grande do Norte. É fato que estes missionários percorriam o sertão. Levavam cruzes e edificavam altares.
É possível que um destes tenha efetivamente passado pela região, mas tudo é especulação. Não quero criar nova estória da “carochinha”.
O fato é que, já em 1870 (ano em que lá chegaram muitos paraibanos de Bananeiras e redondezas) a Freguesia de Santa Cruz contava com 1611 fogos, 9.962 habitantes, todos brasileiros.

Atualmente, é uma cidade próspera, que se tornou centro de peregrinação com a inauguração do “ALTO DE SANTA RITA”, que tem uma estátua de Santa Rita de Cássia com 56 metros de altura, inaugurada em 2010.