Extraído do Capítulo VIII - SANTA CRUZ, do livro Genealogia Sertaneja - Famílias Pinto e Oliveira do Brejo Paraibano e da Borborema Potiguar - de 2012 - Editora Kiron.
A história de Santa
Cruz é contada mais ou menos da mesma forma “...pertenciam à grande nação tapuia os
índios que dominavam quase toda a Ribeira do Trairi, aglomerando-se nas serras
do Ronca, Tapuia e Doutor, atual Município de Santa Cruz. Aí foram encontradas
ossadas humanas e diversos objetos pertencentes aos silvícolas, cujo
desaparecimento data por volta de 1800. Acredita-se que ainda no século XVIII
se tenha dado a primeira penetração do ,elemento civilizado. Entretanto, a
colonização só se iniciou em março de 1831, quando Lourenço da Rocha, seu irmão
João da Rocha e um companheiro de nome João Rodrigues da Silva, percorrendo os
sertões, tocaram naquelas paragens as quais denominaram Malhada do Juazeiro.
Pela altura e fronde, sobressaía-se entre os demais, belo juazeiro que se
erguia no local onde hoje se situa a Igreja Matriz. A capela, sob a invocação
de Santa Rita de Cássia, foi edificada em 1835. Dotada de indispensável
patrimônio, incluindo-se paramentos e alfaias, obteve-se provisão para que se
celebrassem missas. Tendo vindo de Cachoeira a primeira imagem da Padroeira, o
lugarejo passou a ser conhecido como Santa Rita da Cachoeira.
Havia abundância de inharé, árvore
tida como sagrada e que provocava secas, epidemias e outros males, toda vez que
seus galhos eram quebrados. Segundo a lenda, um santo missionário, tomando
conhecimento do fato, dirigiu-se ao local e, cortando galhos de inharé, com
eles ergueu uma cruz. Os malefícios cessaram como por encanto. Das fontes, a água
jorrou em abundância, os animais tornaram-se mansos e humildes, as aves
entoaram cânticos. A localidade foi então chamada Santa Cruz do Inhame. Anos se
passaram. O topônimo Inhame foi trocado por Trairei, nome indígena dado o
importante curso d’água que banha o território. Mais tarde, simplesmente Santa
Cruz”
(www.santacruz.rn.gov.br).
É importante
salientar que Santa Cruz foi, até 1949, o segundo município mais populoso do
Rio Grande do Norte, considerando que sua extensão contava com 2.351 km de
área. Posteriormente, desmembrado para a formação de sete municípios (Sítio
Novo, Tangará, Japi, São Bento do Traíri, Coronel Ezequiel, Campo Redondo e
Lajes Pintadas).
A “história oficial”
começou por volta de 1889, quando o Padre Antonio Rafael, prestou a seguinte
informação a Moreira Pinto:
“... em 1831, Lourenço da Rocha e seu
irmão João da Rocha e José Rodrigues da Silva edificaram no local desta
Villa uma capella dedicada a Santa Rita de Cássia, a qual não só deram o
necessário patrimônio, como a respectiva imagem, paramentos e alfaias, obtendo
a Provisão para a celebração de missas. Em 1835 foi elevada a categoria de
matriz, sendo seu primeiro vigário o Ver. Camello de Mendonça e Furtado
retirou-a em concurso e nella foi collado e empossado. Em 1851 a 1852 o mesmo
vigário Camello transferiu a sede da freguezia para a capella de S. Bento, 60
Kils distante da matriz, e não satisfeito com a acquisição desse districto de
paz. Então tirado da freg. De Villa Flor, conseguiu também aumentar a freg. Com
o dist. de Anta Esfolada, hoje Nova Cruz, para onde passou a sede da freguezia.
Pouco depois, esse vigário, foi substituído por permuta que fez, pelo Revm.
Jeronymo José Pacheco de Albuquerque Maranhão, que em consequência do
cholera-morbus, abandono-a, sendo substituído por mim (padre Antonio Raphael Gomes
de Mello), durante três mezes, findos os quaes fui a meu pedido exonerado. Substitui-me
o padre Mathias Fernandes Ribeiro, que a regeu até 1858, quando a Lei Prov. N.
393 de 24 de agosto do mesmo anno, foi dividido o território em duas fregs: a antiga
de Santa Rita da Cachoeira, hoje Villa do Trahiry, e a da Anta Esfolada,
presentemente, Nova Cruz. De 1858 a 8 de outubro parochiou a freg. em questão o
Ver. Antonio Dias da Cunha...”.
A título de
esclarecimento, o padre Antonio Rafael era pernambucano, e só chegou à região
no final da década de 60, ou seja, decorridos muitos anos da fundação da freguesia
(criada pela lei n. 24 de 27/03/1835).
Imagem Hemeroteca Digital
É mais do que sabido
que uma paróquia não nasce do nada, nem no meio do nada. Sabe-se que no sistema
colonial brasileiro eram comuns as “casas de orações”, que se transformavam em
capelas, que nada mais eram que pequenas igrejas subordinadas à Igreja Matriz.
Tais capelas serviam
para congregar os habitantes, até se transformarem em sede de freguesia,
elevada à categoria de Igreja Matriz.
Nunca é demais
lembrar que era hábito antigo gravar o rendimento das propriedades rurais para
o pagamento de missas em intenção das almas dos instituidores das capelas,
significando que aquele que construiu ou ajudou a construir a capela deixava
uma “renda” para a sua manutenção, por meio do pagamento de missas.
No final do século
XVIII, grande parte das propriedades rurais estava gravada com “missas até o
fim do mundo”. Somente em 1835 o Império do Brasil proibiu a instituição de
obter rendimentos das propriedades para o sustento de missas em capelas, o que
levou a Igreja Católica a transformar muitas capelas em matrizes, pois nelas o
número de dizimistas era maior e não haveria carência de recursos para
manutenção do templo, face o aumento do número de fregueses, razão pela qual,
nesse ano de 1835, muitas capelas
viraram matrizes resultando no imenso número de freguesias criadas. Além disso,
a lei de 1834 ordenou a criação de unidades administrativas, fazendo uma clara
divisão entre o Estado e a Igreja (municípios e Freguesias).
Por trás da criação
dessas freguesias havia o interesse econômico da Igreja de Roma. Duas ou três
freguesias representavam maior fonte de renda do que uma só.
É preciso conhecer um pouco
da história de nosso país para entender o panorama da época e não falar
asneira. Infelizmente, o desconhecimento da história e da evolução do sistema
político é fato que me deixa entristecida.
Não sou historiadora,
só gosto da matéria e, como leiga, verifico que nós brasileiros desconhecemos
mesmo a nossa história. Muito triste, mas é fato.
Através da história
verificamos que desde 1637, a região da Borborema Potiguar já era frequentada
pelo “homem branco”. Chegava-se ao que hoje é o município de Santa Cruz,
partindo do Engenho de Cunhaú pelo “Caminho
de Garstman”.
Encontramos a
primeira menção desse caminho no Diário de Rodolfo Baro de 1647. E, Olavo de
Medeiros Filho (No Rastro dos Flamengos) afirma “... naquele 1º. De maio, Roulox Baro chegou
à margem direita do Traíri, tendo efetuado a travessia do rio a nado. Pelas
nossas deduções, efetivou-se aquela passagem do rio, no local onde hoje se
encontra a cidade de Santa Cruz, outrora chamada de Santa Cruz do Inharé”.
Ao que consta, Roulox
Baro ficou por aquelas paragens alguns dias antes de prosseguir a viagem. Em
1679, bem perto de Acari, ocorreu um grande conflito com os índios. Estima-se
que naquela época aproximadamente 20.000 índios tapuias viviam entre a Paraíba
e Rio Grande do Norte, entre eles os taraíru ou tapuias do sertão, retratados como
sendo totalmente selvagens.
É bom lembrar que
algumas das sesmarias doadas no Traíri foram
- Terras na Ribeira
do Traíri, em 1669, ao alferes Domingos Fernandes
de Araújo.
- Terras pelo Rio
Traíri e Lagoa Limpa, em 1710, ao Alferes Antonio
Martins do Vale e
Manoel Bezerra do Vale.
- No Riacho Inharé,
em 1741, a João Moreira da Cunha38.
- Nas cabeceiras do
Inharé, Ribeira do Traíri, em 1754, a Felix Ferreira
da Silva (esta é
importante, pois registra, pela primeira vez, a ocupação da área para criação
de gado).
- Na Ribeira do Traíri, em 1742, a Bento
Ferreira Mouzinho.
- Terras no Rio
Traíri pegando do poço Caiçara de Baixo até Caiçara de
Cima, em 1735, ao
Sargento-Mor João de Souza Banhos.
- Terras na Vargem
Grande, em 1735, ao capitão Manoel Ferreira Machado.
- Terras no Rio
Traíri na parte chamada Caraúba, pegando os testados
do Coronel Manoel
Ferreira Machado, em 1735, a Antonio de Souza (morador na Paraíba).
- No rio Traíri , em
1738, a Marcos Moreira e Domingos Baião.
- Nas cabeceiras do
Inharé, em 1765, a Manoel de Morais Teixeira.
- Terras de sobras
entre as testadas da Gameleira pelo Riacho Purgatório
abaixo até as
testadas da Várzea Grande entre São Pedro e Inharé. Ribeira
do Traíri, em 1798,
ao ajudante Joaquim Dias Vianna e ao tenente Bento José
Freire.
- Terras entre as
fazendas Carnaúba, Várzea Grande e Umbuzeiro, em
1805, a Bernardo
Guedes da Fonseca.
Deve-se ter em mente
que o início da colonização do interior potiguar, com a concessão das
sesmarias, não deve ter sido diferente do que aconteceu em todo o país.
O historiador Irineo
Joffily diz que a sequência bandeira/curral/fazenda/ arraial foi responsável
pela formação da sociedade sertaneja paraibana, o que vale também para a
potiguar.
A real história de
Santa Cruz não deve ter sido diferente.
Registre-se que os
bandeirantes deslocaram seus gados sertão adentro.
Logo construíram
currais (cercados de pau-a-pique), ou seja, as primitivas fazendas de caiçaras
(caiçara é cerca de pau ou curral de gado).
Em pouco tempo, não
demoravam a erigir uma casa de oração (chamada também de oratório privado, que se transformava em
capela que seria o futuro embrião da povoação, que mais tarde se tornaria
cidade.
Olavo de Medeiros
Filho diz “... quando em um sítio o descobridor introduzia seus gados
levantando um rancho e uma caiçara, primeiros estágios do uso da terra, tal sítio já
caracterizava sua finalidade econômica, passava a ter a denominação de
fazenda”.
Localizar registros
documentais da existência da fazenda de caiçara que teria dado origem a Santa
Cruz foi fácil.
Consta no livro
“Datas e Notas para a História da Parahyba”, de Irineu Ferreira Pinto (1908 –
página 223) que, em 12 de agosto de 1801, foi feito abaixo assinado, com 21
assinaturas para a criação da Paróquia de Nossa Senhora das Merces de Cuité, e
conforme o documento:
“... parochianos
dessa nova Freguezia... tais limites a todos os Abitantes da ditta Serra, e pó
todos os mais que Abitarem athé a distância de deis legoas a roda della, tendo
sua comprehenção pella parte do nascente com a fazenda Caisara do Curumatau com
todos os mais abitantes da ditta ribeira athé aquella Serra, os quais erão
parochianos da Freguezia de Mamanguape. Pella parte do poente a contestar coma
Fazenda de Timbaúba do Quinturaré com todos os mais abitantes de aquella Serra;
que athe agora eram Abitantes digo Parochianos da Freguezia do Caicó; Pella
parte sul a contestar com a Capella da Pedra Lavrada, que athé agora era filial
da nova Matriz, e todos os Abitantes da ditta Capella
Paroquianos da mesma nova Matriz de Nossa Senhora das Mercês. Pella parte Norte
a contestar com a Fazenda de caisara da Ribeira do Trairi, ficando os
Abitantes desta Fazenda, e os que mais pella Ribeira a Sima, de hua e outra
parte do Rio, que athé agora erão Parochianos das Freguezias de Goyaninha e
Villa de Sam José por esta divizão ficão como sendo Parochianos da Nova
Freguezia de Nossa Senhora das Mercês da Serra do Coité” (grifo nosso).
Constam as seguintes
assinaturas: Luiz Custódio de Oliveira Lima, Antonio de Freitas Fonseca,
Amaro Trigueiro, Jose Para de Vasconcelos, Antonio dos Santos Cardozo, Manoel
Soares de Medeiros, Macimiano Francisco de Mello, Antonio Tavares Dantas, Manoel
Soares de Assunção, José Moreira dos Santos (neto do João Moreira da Cunha que
recebeu sesmaria no riacho Inharé, em 1741), Alexandre Frederico de
Lima, Antonio Francisco de Oliveira, Alexandre Paes Barreto, Manoel José de
Lima, Antonio Soares Pereira, Antonio Francisco Cabral, Abel Francisco José
França, Pedro França Lima, Jose Gomes de Santanna e José Soares da Costa.
Em 2008, visitei a
paróquia de Cuité e tive acesso aos livros paroquiais. Nos livros de óbitos
encontrados (a partir de 1844), verifiquei que muitos registros atestavam o
óbito de alguns descendentes dos signatários da petição de 1801 para a criação
da freguesia. E, entre estes, muitos moravam na “Freguezia de Santa Ritta” criada
em 1835.
Entre esses
registros, me chamou atenção o fato de Joaquim José de Santa Anna, falecido em
1844, ser morador no “tronco de Santa Cruz”. Pude constatar que havia muitos
registros de óbitos e nascimentos de pessoas que moravam no tal “tronco de
Santa Cruz”.
Joaquim José de
Santana era filho do José Gomes de Santana, um dos peticionários da criação da
freguesia de Cuité. Logo, me parece crível presumir que tanto o pai quanto o
filho sempre residiram naquela localidade, ou seja, na Ribeira do Trairi.
Pela leitura dos
livros, descobri que o tal “tronco de Santa Cruz” nada mais era do que o centro
da povoação, ou seja, o lugar onde ficava o “pelourinho”, local usado para
castigos corporais.
O embrião da futura cidade de Santa Cruz que,
aliás, vem da tal fazenda de caiçara, citada na criação da paróquia de Cuité,
já em 1801.
Devo esclarecer que o
termo “RIBEIRA”, apontado na época, não era um acidente geográfico, mas sim uma
forma de demarcação de terra, geralmente no meio da sesmaria, já que obviamente
servia de estrada e principal ponto de apoio para o gado.
ROHAN explica no seu
Diccionário de vocábulos brasileiros, editado em 1889, no verbete RIBEIRA:“
Províncias do Norte – Distrito Rural que compreende um certo número de
fazendas de criar gados. Cada ribeira se distingue das outras pelo nome do
rio que a banha; e, tem, além, um ferro comum a todas as fazendas do
distrito, afora aquele que pertence a cada proprietário”.
Nas fazendas das
ribeiras se agrupavam os vaqueiros e suas famílias, além de escravos, que no
Rio Grande do Norte não constituíam número considerável.
Assim, existe prova
incontestável de que a povoação que deu origem a Santa Cruz, já existia no início
do século XIX (1801), o que leva por terra a tese de sua “criação”, e de seus
fundadores.
.
Há provas de que
havia uma fazenda de caiçara (com habitantes) na “Ribeira do Traíri”, no local
onde hoje se situa a cidade de Santa Cruz, mas não encontrei nenhum documento,
absolutamente nada, sobre as terras que seriam dos irmãos João da Rocha e
Lourenço da Rocha, quanto mais de José Rodrigues da Silva.
Se a freguesia de
Santa Cruz foi criada em 1835, é absurdo pensar que a freguesia fosse criada
apenas quatro anos depois da “fundação” da povoação.
Na “petição” para a
criação da freguesia constam mais de 80 assinaturas.
Todas de homens, não há nenhuma mulher (a participação da mulher na vida
pública ocorre a partir do segundo decênio do século XX).
Significa, então, que
existia, já em 1835, uma população notável que morava nas redondezas da
referida igreja que virou Matriz
(por força das circunstâncias da época como já expliquei antes).
Por simples cálculos
aritméticos, considerando que cada um desses homens fosse casado, com mulher,
filhos e escravos, teríamos, no mínimo, umas
640 pessoas, resultado da multiplicação de 80 x 8 (média da época – casal e
filhos).
Nesta conta não se
incluem os escravos, nem a população flutuante, ou seja, aquela que estava de passagem,
a trabalho ou em visitas.
Claro que não
considero que esta população estivesse, em 1835, toda concentrada no centro da povoação, mas sim espalhada
pelas redondezas. Mas é lícito supor que, no mínimo entre 10% a 20 % deste
total, ou seja, de 64 a 120 pessoas, já se
encontravam no arraial (fora os escravos, índios aldeados e população
flutuante).
Naquela época, um
arraial com tal número de habitantes era significativo e levava anos para
atingir tal quantidade de pessoas.
Ademais, para
confirmar minha tese de que o início da povoação de Santa Cruz é bem mais
antigo, no mínimo do final do século XVIII, vejo que nem José Rodrigues da
Silva, nem João da Rocha Freire, nem Lourenço da Rocha Freire encabeçam a lista
dos peticionantes. Muito pelo contrário, aparecem na 48ª, 49ª e 50ª
posições, ou seja, mais da metade da lista, o que, para mim, representa
que não eram nem importantes ou influentes, tampouco “fundadores” da povoação, pois se o fossem seria natural que nesta
qualidade encabeçassem a lista, já que passados apenas quatro anos de sua fundação.
Quem funda uma cidade
e escolhe até o lugar da “futura povoação”, construindo casas e edificando uma
pequena capela não ocuparia uma posição tão insignificante na criação da
freguesia quanto ocuparam JOÃO DA ROCHA FREIRE e seu irmão LOURENÇO DA ROCHA
FREIRE. Lógico seria o contrário, que encabeçassem a lista por
possuírem maior relevância e influência por serem "FUNDADORES" (?).
A lista dos nomes é a
seguinte, segundo Monsenhor Bezerra (no livro Memórias Históricas de Santa Cruz):
1) Domingos Francisco
Soares da Silva 2) Joaquim Felix Ferreira 3) Francisco José da
Silva 4) Carlos José Rodrigues 5) Francisco Gomes da Silva 6) Severino
Freitas da Costa 7) Januário de Souza Barros 8) José de Souza
Oliveira 9) Joaquim Correia de Melo 10) Francisco José de Melo 11)
Cristovão José de Melo Pita 12) Luis de Souza Lima 13) Anacleto
Pedro Barroso 14) Anacleto Peçanha Neves 15) José Soares dos
Santos 16) Gonçalo Barbosa de Moura 17) Gonçalo José Barbosa
18) Antonio Pereira dos Santos 19) Antonio Manoel Costa de Medeiros 20)
José Antonio da Silva 21) Manoel da Costa Soares 22) Manoel
José do Nascimento 23) Vicente Ferreira de Macedo 24) Francisco
Antonio da Silva 25) Antonio Bezerra de Souza 26) Tomaz de
Oliveira 27) Manoel Justino de Oliveira Galvão 28) Manoel Luiz
Maciel 29) Teodósio Soares 30) Ponciano José de Oliveira 31)
Silvestre Soares 32) Tomaz de Oliveira Junior 33) João da Cruz 34)
Manoel Francisco dos Santos 35) Bernardo da Cruz 36) Antonio
de Oliveira Saraiva 37) Cosme Pereira 38) Gonçalo José Rodrigues 39)
Francisco Antonio Bezerra 40) Manoel Rodrigues 41) Luiz do
Monte Xavier 42) Manoel Rodrigues de Morais 43) Roberto Gomes
Ferreira 44) Estevão José Coelho 45) Manoel Joaquim Fernandes 46)
João Grilatino de Lima 47) José da Costa Soares45 48) Teodósio Ferreira do
Nascimento 49) JOSÉ RODRIGUES DA SILVA 50) JOÃO DA ROCHA FREIRE 51) LOURENÇO
DA ROCHA FREIRE 52) Antonio da Rocha 53) Bernardino Ribeiro de Moura
54) Joaquim Bezerra de Menezes 55) Manoel Barros 56) Antonio
de Moura Saraiva 57) Francisco Gomes 58) Manoel Antonio de Souza 59)
José Felix 60) José Antonio Barbosa 61) Bento Francisco da
Rocha 62) Leopoldo José de Queiroz 63) Severino da Solidade
Bezerra 64) João Martins de Souza 65) Manoel Martins de Souza 66)
Miguel Figueira 67) Francisco Lopes da Silva 68) Vicente
Antunes de Lima 69) Inácio Antunes de Lima 70) Andre Antunes de
Lima 71) Manoel Mendes de Lima 72) Francisco Cardoso Navarro 73)
Julião Borges Martins 74) Cipriano José da Glória 75) Joaquim
José Segundo Vale 76) Vicente Ferreira da Costa 77) Manoel
Caetano de Moura 78) Antonio Rodrigues da Silva 79) Manoel Jacinto
da Silveira 80) Roberto Pereira de Castro 81) João Barbosa de
Moura 82) João Pereira da Silveira 83) Manoel Mizael Baião 84)
Bento Manso Ferreira Maciel 85) Joaquim Francisco de Lima e 86) Manoel
Paixão Bezerra.
Em seu livro,
Monsenhor Bezerra reconhecendo o absurdo da história “oficial”, escreveu: “... a data de 1831 que faz mensão (sic)
o Vigário Antônio Rafael, para ser o ano da fundação de Santa Cruz, não parece
ser muito certa e não se sabe em que se baseou o informante... deve datar a sua
fundação do ano de 1825... foi encontrada uma telha na qual estava escrito
1825... o ano de 1831 para como de sua fundação e 1835 de criação da paróquia,
com quatro anos apenas, Santa Cruz, um simples povoado, não tinha capacidade e
preparo para ser elevada a categoria de paróquia... é fatível que a capela não deve ter sido a primeira construção do lugar
escolhido; mas sim, casas para residências devem ter antecipado a capela ... E,
acrescenta: ... o nome Santa Cruz é antigo, porém não foi o primeiro (?),
mas veio se consolidar melhor quando, em 1833, o Conselho do Governo presidido
por Joaquim José de Melo, promoveu o lugar à categoria de ‘Povoação”, com o
nome de “Santa Cruz” (p.
37).
Embora Monsenhor
Bezerra confunda a divisão administrativa com a eclesiástica, o que é
compreensível já que ele fazia parte do clero, demonstrou dúvida quanto à
“história oficial” mesmo que a tenha repetido em seu livro.
Contada e recontada,
a história virou “oficial” mesmo sem nenhuma comprovação documental, pelo menos
não encontrei nada em minhas pesquisas até agora.
Nenhum documento.
Absolutamente nada!
De curral para
fazenda, de fazenda para arraial, de arraial para povoação demora algum tempo.
Com Santa Cruz não foi diferente.
Elevada à categoria
de povoação em 1833 o arraial há muito existia.
Eu encontrei sim,
alguns registros paroquiais, em Caicó, desde 1813 falando do “lugar da Santa
Cruz”
Não quero criar
polêmicas, mas a prova documental e a lógica contradizem a versão apresentada.
Não sou da terra e nem quero lançar por terra a “história oficial”, embora
tenha subsídios que me apontam para os primeiros habitantes (alguns nomes e o
registro da Data de São Joaquim) não tenho nenhuma prova legítima de quando
Santa Cruz começou como agrupamento, com casa e moradores. Não houve tempo suficiente
para lançar mão de pesquisas nos documentos da capitania, nem nos livros
paroquiais de São José do Mipibu ou pesquisar a cadeia dominial dos imóveis do
período anterior a 1820, tampouco inventários.
Apesar do meu
interesse por história, o objetivo do livro é genealogia.
Deixo a pesquisa
histórica para um santa-cruzense, filho da terra, que tenha real interesse em
pesquisa e que não repita como “papagaio de pirata” uma história bem contada,
mas distante da realidade.
Na verdade, os
primitivos moradores edificavam as “casas de orações” também chamadas de
“oratórios privados”, que posteriormente se transformaram em capelas, depois em
igrejas que por sua vez transformaram em matrizes.
Mas, esse processo
não ocorre da noite para o dia. Primeiro surgem os moradores do local.
A princípio, cada
qual em suas terras, com suas criações e agricultura, rezando em suas casas com
suas famílias. Logo, faz amizade com os vizinhos e não tarda a “marcar” novenas
e orações (tradição da Igreja Católica). O grupo de vizinhos aumenta com o
passar do tempo e logo uma casa de orações é instituída.
Depois surge uma
capela, pequena e provisória, dependendo do crescimento do número de fiéis. A
capela vai aumentando de tamanho ao longo dos anos. Vira igreja, até ser
“promovida” a paróquia e, finalmente, matriz da freguesia.
Para mim, não há
qualquer dúvida de que a origem de Santa Cruz foi uma fazenda de caiçara (como
tantas outras cidades). O arraial logo depois, no final do século XVIII, início
do século XIX, acreditando que por volta de 1810 já era notável o número de
seus habitantes, com capela e casas, com o nome de Ribeira do Traíri.
Outro erro que
encontrei nos “registros oficiais” foi à menção da fazenda “Cachoeira” que
seria localizada em Lajes Pintadas, para justificar o nome que constava nos
livros paroquiais: “SANTA RITA DA CACHOEIRA”.
Santa Rita da
Cachoeira pela “Carta topográfica e administrativa das províncias
do Rio Grande do
Norte e Parahíba”, de 1848, feito por Vicente J. Vilares de l’lle Adam ficava
perto de Natal (não consegui localizar a paróquia, mas atualmente existe uma em
Ponta Negra, da qual não obtive maiores informações. Note-se que Ponta Negra é
mencionada nos mapas desde 1670, o que significa que é uma localidade bem
antiga).
A Igreja mesmo deve
ter sido construída por volta de 1820, e, finalmente, transformada em matriz em
1835.
Na Cúria
Metropolitana de Natal, existem quatro livros vinculados a Santa Cruz. O
primeiro, datado de 26/11/1859, diz que a freguesia é de “Santa Rita da
Cachoeira”, e foi da Villa do Jardim, assinado pelo vigário Francisco
Justino Pereira de Brito.
No
segundo, de 1860 (apenas dois meses depois do primeiro) está Santa Cruz, assinado
pelo vigário Antonio Dias da Cunha.
No
terceiro está escrito Freguesia de Santa Rita da Cachoeira (10/01/1865).
Já no quarto livro, Freguezia de Santa Cruz (1867).
Percebe-se
que a o próprio clero não sabia nominar a freguesia. Ora indica o nome da
divisão administrativa (povoação), ora da freguesia com o nome errado.
Na época existiam
muitas freguesias de Santa Rita no Brasil. Santa Ritta da Lagoa de Cima (RJ),
Santa Ritta (PB), Santa Rita de Morrinhos (GO), Santa Rita da Jacutinga (MG),
Santa Rita do Sapucaí (MG), Santa Rita do Rio Negro (RJ) e muitas outras mais.
Era importante diferenciá-las. Daí o acréscimo da localidade onde estava situada
ao nome da freguesia.
No Rio Grande do
Norte, como em todo o Brasil, pelo motivo que expliquei acima, foram criadas muitas
freguesias após 1835. Mas, pelo menos duas tinham o nome de Santa Ritta, uma
com o acréscimo de CACHOEIRA e outra com TRAÍRI.
Os padres, mormente
aqueles que não eram da região, desconheciam os nomes corretos das freguesias.
Ninguém consultou o ato da criação da paróquia, de 24 de março de 1835, pelo
qual foi elevada à categoria de matriz a Capela de Santa Ritta, “ereta na
povoação de Santa Cruz da Ribeira do Traíri”.
O único que sabia
corretamente o nome da freguesia foi o primeiro pároco, que assumiu o cargo em 1836, João Soares da Veiga Albuquerque
e Almeida, o qual sempre assinou como “vigário
da Matriz de Santa Rita de Cássia do Traíri”. Os outros, que o sucederam,
estavam completamente desinformados.
E foi esta confusão
criada por um desses padres que levou a engano as autoridades eclesiásticas,
que de 1849 em diante, começaram a
chamar a freguesia de Santa Rita da Cachoeira.
Nem todos do clero se
deixaram enganar.
Nos registros
paroquiais de Cuité, consta Freguesia de Santa Rita ou Santa Ritta do
Trahyri (1840 em diante) e não há menção de CACHOEIRA, o que reforça
ainda mais o fato de que aquela freguesia até então nunca foi chamada de Santa
Rita da Cachoeira.
Com o tempo ninguém
admitiu o erro e, para piorar, justificaram o nome CACHOEIRA. Mas como em Santa
Cruz não existe e nunca existiu nenhuma cachoeira entra a “história” de Lajes
Pintadas.
Ninguém teve o
trabalho de pesquisar. Pesquisa cansa. Exige tempo e esforço.
Melhor deixar como
está.
Infelizmente, não sou
assim. Não me convenço facilmente sem provas. Eu tenho a prova documental que é
o mapa de 1848, que demonstra claramente onde estava localizada Santa Ritta da
Cachoeira, a qual nada tinha a ver com a freguesia de Santa Ritta do Traíri.
O pior é que muitos
historiadores ainda dizem que o tal mapa está errado.
Para finalizar,
acrescento que no livro do Monsenhor Bezerra consta “... na sua informação a Moreira
Pinto, Antonio Rafael diz que os fundadores de Santa Cruz foram Lourenço da
Rocha e seu irmão João da Rocha e José Rodrigues da Silva. Os dois primeiros
não vieram de lugar distante, pois nasceram e viveram na região do Traíri. Muito
antes de 1825 já possuíam terras às margens do Traíri e no riacho
Inharé”.
Monsenhor Bezerra, no entanto, não apresenta
nenhuma prova disto. Não apresentou porque esta prova não existe! Ele só perdeu
tempo pesquisando durante muitos anos e nada encontrou.
Em seu livro fala de uma carta de 1846 para
provar que Lourenço da Rocha residia lá. Ora, é certo que residia, o nome dele
consta como signatário da petição desde 1835, mas, daí a a ser fundador é outra
história. .
É bom relembrar que o
padre Antonio Rafael só chegou a Santa Cruz em 1866, permanecendo até 1890, quando
faleceu.
Não se sabe quando o
padre prestou as informações a Alfredo Moreira Pinto, só que o Dicionário
Geográfico do Brasil foi publicado em 1894, quatro anos depois da morte do
padre.
A fonte não parece
ser segura. Quanto mais sem nenhuma documentação que a comprove.
Os verdadeiros
fundadores da cidade foram os criadores de gado, moradores na Ribeira do
Traíri, cujos nomes foram esquecidos pela história.
Eles não tinham uma
vida de opulência (ao contrário dos senhores de engenho do litoral). Estavam
sempre à procura de pastos para os seus gados e à mercê das intempéries. Os
serviços religiosos estavam sempre ligados a esta variação.
Reunidos, junto a
outros nas mesmas condições, o sertanejo sentia-se seguro e com melhores
condições de sobreviver. Esses agrupamentos foram os embriões de muitos
povoados, vilas que, posteriormente viraram cidades.
No livro História do
Rio Grande do Norte, A. Tavares de Lyra informa que “o século XVIII foi o do
povoamento completo da capitania ·... a população estava disseminada
por toda parte, atingindo as serras e os pontos mais remotos, condensando-se nos
vales férteis do littoral e nas ribeiras dos rios sertanejos”.
Segundo ele,
Capistrano de Abreu teria formulado a seguinte imagem daquela época “... os
primeiros occupadores do sertão passavam vida bem apertada: não eram os donos
das sesmarias, mas escravos ou prepostos. Carne e leite havia em abundância, mas
isto apenas”.
Cabia ao vaqueiro
amansar e ferrar bezerros, curar bicheiras, queimar os campos para fazer pastos,
saber das cacimbas e poços que serviam de bebedouro para o gado.
“Só depois de
quatro ou cinco anos de serviço o vaqueiro começava a ser pago: de quatro crias
cabia-lhe uma; podia fundar uma fazenda por sua conta. Desde o começo do século
XVIII as sesmarias tinham sido limitadas ao no máximo de trez léguas separadas por
uma devoluta.”
Conta uma lenda que
um missionário que foi visitar o arraial, mandou fazer uma grande cruz com os
ramos de uma árvore chamada Inharé. Ao lado cavou
um enorme buraco e
ordenou que todos jogassem suas armas dentro, enterrando-as.
Esta lenda pode ter
uma base de verdade, pois havia um hábito antigo de colocarem cruzes de madeira
(cruzeiro) no lugar onde iria construir uma capela. Era também costume celebrar
o dia da Santa Cruz (3 de maio), que era advindo de Portugal. Nesse dia os
fazendeiros eram orientados a erguerem cruzes, que enfeitavam e rezavam “arreda
e afasta satanás porque essas almas não são suas, ao dia de Santa Cruz, direi
mil vezes o nome de Jesus”.
Sempre é bom lembrar
que o Brasil já teve o nome de TERRA DE SANTA CRUZ, por ter Pedro Álvares
Cabral chegado aqui próximo ao dia de Santa Cruz – três de maio – e, cumprindo
a tradição, resolveu colocar a primeira cruz em solo brasileiro.
Para mim, o nome da
terra deve estar associado, de alguma forma, ao dia de celebração. Mas, é uma
mera cogitação.
Santa Cruz ficou
conhecida como “Santa Cruz do Traíri”. A denominação “Santa Cruz do Inharé”
data do século XX, após a construção do açude de Inharé.
Sabe-se que, na segunda
metade do século XVIII, alguns missionários capuchinhos – Frei Teodoro de Lucé,
Pe. Martin de Nantes e Frei Anastase - se aventuraram no sertão de Pernambuco,
no Brejo da Paraíba e no Rio Grande do Norte. É fato que estes missionários
percorriam o sertão. Levavam cruzes e edificavam altares.
É possível que um
destes tenha efetivamente passado pela região, mas tudo é especulação. Não
quero criar nova estória da “carochinha”.
O fato é que, já em
1870 (ano em que lá chegaram muitos paraibanos de Bananeiras e redondezas) a Freguesia
de Santa Cruz contava com 1611 fogos, 9.962 habitantes, todos brasileiros.
Atualmente, é uma
cidade próspera, que se tornou centro de peregrinação com a inauguração do
“ALTO DE SANTA RITA”, que tem uma estátua de Santa Rita de Cássia com 56 metros
de altura, inaugurada em 2010.