sábado, 31 de agosto de 2013

HISTÓRIAS DE MANÉ FRANCO - II

A ONÇA
O amor de Mané Franco por seus animais era imenso, razão pela qual vira e mexe, gostava de exaltar suas qualidades. Mas, às vezes se excedia como na história da cadela que era a melhor perdigueira do mundo.
Dizia Mané Franco que estava pastorando suas vacas quando notou certa agitação e viu, de longe, uma onça.
Pegou na espingarda e atirou, mas só conseguiu afugentar a bicha. Resolveu levar as outras vacas para longe dali. Mas, no meio do caminho, uma das vacas morreu. Mané Franco apeou do cavalo, tirou o couro da vaca e colocou os “quartos” dela no cavalo e prosseguiu em seu caminho. Afinal, pensava que não iria desperdiçar a carne.
Já era noitinha e resolveu apressar o passo, mas o cavalo estava cada vez mais lento e estava pendendo para um lado. Mané Franco notou que a onça tinha abocanhado a carne que estava na garupa do cavalo. Ele enxotou a onça e conseguiu chegar em casa. Chamou Inácia e perguntou pela cachorra de estimação, que além de tudo era a melhor perdigueira.
Inacinha disse que a cadela estava amojada, e que estava perto de dar a luz. Mas, Mané Franco disse que não tinha problema, pois queria acabar com a onça ainda aquela noite e que precisava da cadela para guiar o resto da matilha.
Armado com sua espingarda Mané Franco reuniu a cachorrada, inclusive a cadela, que era a líder, montou no seu cavalo e se embrenhou na caatinga seguindo o rastro da onça.
A cadela seguia na frente guiando os outros cachorros. Late daqui, fareja de lá, Mané Franco observou que já havia nascido um cachorrinho, que nem bem nascera já era igualzinho à mãe, latia e farejava o rastro da onça.
Quando Mané Franco chegou perto da onça já haviam nascido nove cachorrinhos, que juntos com a mãe cercavam a onça, deixando-a acuada. Chegando mais perto Mané Franco viu que o último cachorrinho que havia nascido era o mais bravo, pois estava no cangote da onça, grudado, grudado igual a um carrapato.
Mané Franco matou a onça e trouxe a cadela e seus filhotes para casa e vivia repetindo: “Não vendo essa cadela e esses filhotes por dinheiro nenhum”.

O CAVALO
Claro que Mané Franco era apegado a seu cavalo - companheiro de muitas andanças e sobre ele havia uma história.
Contava que vendia queijos na fazenda, mas que um dos seus fregueses comprava fiado e nunca pagava. Depois de acumular uma dívida grande, esse homem sumiu.
Passado um ano, eis que surge na fazenda o mesmo homem arrastando um cavalo pelo cabresto. Era um cavalo magro, quase pele e osso que mal se aguentava em pé.
Ao chegar se desculpou com Mané Franco de não ter vindo antes para pagar a dívida, mas que queria resolver a questão dando o cavalo que conduzia como pagamento.
Mané Franco olhou o cavalo, olhou o homem e pensou: ”se não aceito o cavalo, ele vai querer pegar mais queijos e nunca vai me pagar”. Resolveu então ficar com o cavalo, que não tinha mais jeito. Então, Mané Franco decidiu que não iria gastar ração com o bicho.
Como não tinha coragem de matá-lo, levou o cavalo até um terreno onde só tinha xiquexique e era infestado de cascavel.
Pensava Mané Franco que deixando o cavalo ali, ele iria morrer: ou de sede,
de fome ou picado pelas cobras.
No dia seguinte, foi até o terreno e para sua surpresa, o cavalo estava vivo.
Mané Franco voltou para casa na certeza que do dia seguinte o cavalo não passava.
Voltou no segundo dia, mas de longe avistou o cavalo. Chegando mais perto Mané Franco achou que o cavalo estava mais vistoso, parecia até que estava com a barriga cheia. Mas, cheia de quê se ali só tinha xiquexique e cobra?
Pensou logo que melhor era deixar o bicho ali até o dia seguinte.
E assim fez. No terceiro dia ao chegar ao terreno, o cavalo trotava de um lado para o outro, todo garboso. Relinchava e tinha a barriga bem cheia.
Mané Franco pensou que, se o cavalo tinha resistido três dias ali naquele local,
merecia uma segunda chance. Nem precisou arrastar o bicho. Montou no cavalo e seguiu rumo a sua casa. Ao passar por meio de uma moita o cavalo ficou todo agitado.
De repente, abocanhou a moita e quando Mané franco viu, na boca do cavalo havia uma cascavel que ele engoliu logo em seguida.

Toda vez que alguém chegava a sua fazenda, Mané Franco mostrava o cavalo e dizia: “É o melhor cavalo do mundo, não vendo por dinheiro nenhum. Além de quase nunca beber água, acabou com todas as cascavéis daqui”.

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