Sem
dúvida, muitos dos membros da minha família já escutaram “as histórias de MANÉ FRANCO”.
Muitos pensavam que era figura lendária, que só existia no imaginário popular.
Cresceram, como eu, ouvindo suas histórias sem saber ao certo qual sua ligação
com tal personagem.
E,
transmitiram aos filhos as histórias, geração após geração. Mas afinal quem foi
MANÉ FRANCO?
Nascido
por volta de 1820/1824, MANOEL FRANCO DE OLIVEIRA, era casado com Ignácia Maria
da Conceição (da família LIMA), e, teve muitos filhos, dentre os quais são conhecidos : MANOEL FERNADES DE LIMA, IZABEL FRANCISCA DE LIMA,
JOSÉ FRANCO DE OLIVEIRA, JOÃO FRANCO DE OLIVEIRA, JOANNA OLIVEIRA, JOAQUINA
EUSTAQUILINA DE OLIVEIRA e ANTONIO RAIMUNDO DE OLIVEIRA FRANCO.
Faleceu
em Araruna/PB por volta de 1905.
Nos
seus últimos anos de vida, morava em um sítio, nos arredores de Araruna, criando
vacas leiteiras e fabricando queijos.
Dedicado
ao trabalho, carinhoso com a família, seria um pessoa normal, que passaria
despercebida não fosse um pequeno detalhe: Manoel Franco gostava de contar
histórias... e, que histórias!
Em
uma época e numa região onde o acesso aos meios de comunicação eram escassos,
Manoel, conhecido como Mané Franco, fez sua própria história.
Era
um notável contador de histórias, ou “causos” e onde sempre era a personagem
principal.
Parecia
de certa forma, com outro “personagem”, criação do excelente humorista cearense
Chyco Anisio, o famoso PANTALEÃO. Mas, ao contrário da ficção, onde a TERTA,
esposa de Pantaleão, sempre confirmava suas histórias,. Inácia, ou Inacinha,
esposa de Mané Franco, fazia o contrário.
O
certo é que mesmo sem o “apoio” de Inacinha, as histórias de Mané Franco
ficaram conhecidas em toda a região, ultrapassando a fronteira da Paraíba por
meio
de seus descendentes que ainda hoje contam as mesmas histórias.
Vejamos
então algumas dessas histórias.
O MELHOR PAPAGAIO DO MUNDO
Naquela
época, Mané Franco tinha uma boiada e dia após dia, bem de manhãzinha, conduzia
as reses do curral até o pasto que ficava distante a quase duas léguas. Um dia,
Mané Franco, montado em seu cavalo, avistou de longe um ninho de papagaio que
tinha caído de uma árvore. Chegou perto e constatou que no ninho só havia um
ovo.
Apeou
do cavalo e se aproximou, observando que não havia nenhuma ave por perto, o que
era mau sinal, porque certamente aquele ovo iria se perder.
Então,
pegou o ovo e o colocou em uma bolsa que estava acoplada à sela do cavalo, e quando
chegasse a sua casa o colocaria para chocar num ninho de galinha.
Sol
a pino, lá se foi Mané Franco conduzindo a boiada quando, de repente, uma rês
se apartou e em desembalada carreira seguiu rumo diverso, obrigando Mané Franco
a persegui-la. Naquela correria, entre solavancos, o ovo, que estava na sela do
cavalo que montava caiu no chão. Mané Franco até teve vontade de parar para
buscá-lo, mas preferiu perseguir a rês até, finalmente, laçá-la e trazê-la de
volta para junto das demais.
Qual
não foi sua surpresa, quando no meio do caminho avistou no chão uma coisa verde
se movimentando no meio da caatinga. Chegou mais perto e viu que era um
papagaio que acabara de nascer do ovo que havia caído no chão,
O
papagaio, bem novinho, falava: “Pegou o boi Mané Franco? Pegou o boi Mané
Franco?”
Ora,
Mané Franco que não era bobo nem nada, pegou o bichinho e o levou para casa,
onde permaneceu por muitos e muitos anos.
O PAPAGAIO-PROFESSOR
Mané
Franco além de contar a história acima, contava outra, sobre o mesmo papagaio,
para demonstrar seu carinho pelo bicho. Esta era sempre contada após a história
anterior.
Quando
as pessoas iam visitá-lo, ele mostrava o papagaio, que sempre ficava em um
galho de árvore perto do alpendre da casa. Dizia Mané Franco que desde que trouxe
o papagaio para sua casa, aquele era o lugar predileto da ave.
Naquela
época, não existiam escolas. Era costume, então, contratar uma professora que
ia até uma casa e de uma vez ensinava a todas as crianças, geralmente irmãos e
primos, a ler e escrever. O método era a “cartilha”.
Com
Mané Franco não foi diferente. Contratou uma professora para ensinar seus
filhos. As aulas eram ministradas no alpendre, onde a professora dizia aos seus
alunos: “B com A, Beabá, B com E, Beebé, B com I, Beíbi” e assim por
diante.
O
papagaio ali, no galho da árvore, prestava atenção a tudo.
Certo
dia, o papagaio desapareceu, Mané Franco nem ficou preocupado, pois ele estava
acostumado a desaparecer por uns dias e depois voltar. Mas, daquela vez foi
diferente, o papagaio não voltou.
Mané
Franco ficou triste já que tinha se afeiçoado ao bichinho.
Passou
um tempo e sobreveio uma seca horrível. Nenhum pé de árvore tinha resistido. A
vegetação ficou cinza. Mané Franco, sempre montado em seu cavalo, estava indo
para a cidade quando avistou, de longe, uma árvore bem grande que estava
verdinha, verdinha.
Ficou
abismado e resolveu chegar perto para ver que árvore era aquela que havia
resistido à seca. Quando se aproximou da árvore começou a escutar: “B com A,
Beabá, B com E, beebê, Bê com I Beibi”. E aí pode ver que na verdade a
árvore estava cheinha de papagaios e no meio deles quem estava? O papagaio
dele.
Mané
Franco foi logo perguntando: “Que você tá fazendo aí meu loro?” Ao que o
papagaio respondeu: “tô ensinando essa cambada de burros a ler, mas não se
preocupe que logo, logo vou voltar”.
E,
não é que tempos depois o papagaio voltou! E, a todos que chegavam a sua casa
Mané Franco contava as duas histórias e mostrava o papagaio, sempre empoleirado
no mesmo galho da árvore que ficava perto do alpendre e dizia: “Tá vendo, é
por isso que não vendo ele por dinheiro nenhum do mundo”.
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