sábado, 17 de agosto de 2013

"HISTÓRIAS" DE MANÉ FRANCO

Sem dúvida, muitos dos membros da minha família já escutaram “as histórias de MANÉ FRANCO”. Muitos pensavam que era figura lendária, que só existia no imaginário popular. Cresceram, como eu, ouvindo suas histórias sem saber ao certo qual sua ligação com tal personagem.
E, transmitiram aos filhos as histórias, geração após geração. Mas afinal quem foi MANÉ FRANCO?
Nascido por volta de 1820/1824, MANOEL FRANCO DE OLIVEIRA, era casado com Ignácia Maria da Conceição (da família LIMA), e, teve muitos filhos, dentre os quais são conhecidos : MANOEL FERNADES DE LIMA, IZABEL FRANCISCA DE LIMA, JOSÉ FRANCO DE OLIVEIRA, JOÃO FRANCO DE OLIVEIRA, JOANNA OLIVEIRA, JOAQUINA EUSTAQUILINA DE OLIVEIRA e ANTONIO RAIMUNDO DE OLIVEIRA FRANCO.
Faleceu em Araruna/PB por volta de 1905.
Nos seus últimos anos de vida, morava em um sítio, nos arredores de Araruna, criando vacas leiteiras e fabricando queijos.
Dedicado ao trabalho, carinhoso com a família, seria um pessoa normal, que passaria despercebida não fosse um pequeno detalhe: Manoel Franco gostava de contar histórias... e, que histórias!
Em uma época e numa região onde o acesso aos meios de comunicação eram escassos, Manoel, conhecido como Mané Franco, fez sua própria história.
Era um notável contador de histórias, ou “causos” e onde sempre era a personagem principal.
Parecia de certa forma, com outro “personagem”, criação do excelente humorista cearense Chyco Anisio, o famoso PANTALEÃO. Mas, ao contrário da ficção, onde a TERTA, esposa de Pantaleão, sempre confirmava suas histórias,. Inácia, ou Inacinha, esposa de Mané Franco, fazia o contrário.
O certo é que mesmo sem o “apoio” de Inacinha, as histórias de Mané Franco ficaram conhecidas em toda a região, ultrapassando a fronteira da Paraíba por
meio de seus descendentes que ainda hoje contam as mesmas histórias.

Vejamos então algumas dessas histórias.

O MELHOR PAPAGAIO DO MUNDO
Naquela época, Mané Franco tinha uma boiada e dia após dia, bem de manhãzinha, conduzia as reses do curral até o pasto que ficava distante a quase duas léguas. Um dia, Mané Franco, montado em seu cavalo, avistou de longe um ninho de papagaio que tinha caído de uma árvore. Chegou perto e constatou que no ninho só havia um ovo.
Apeou do cavalo e se aproximou, observando que não havia nenhuma ave por perto, o que era mau sinal, porque certamente aquele ovo iria se perder.
Então, pegou o ovo e o colocou em uma bolsa que estava acoplada à sela do cavalo, e quando chegasse a sua casa o colocaria para chocar num ninho de galinha.
Sol a pino, lá se foi Mané Franco conduzindo a boiada quando, de repente, uma rês se apartou e em desembalada carreira seguiu rumo diverso, obrigando Mané Franco a persegui-la. Naquela correria, entre solavancos, o ovo, que estava na sela do cavalo que montava caiu no chão. Mané Franco até teve vontade de parar para buscá-lo, mas preferiu perseguir a rês até, finalmente, laçá-la e trazê-la de volta para junto das demais.
Qual não foi sua surpresa, quando no meio do caminho avistou no chão uma coisa verde se movimentando no meio da caatinga. Chegou mais perto e viu que era um papagaio que acabara de nascer do ovo que havia caído no chão,
O papagaio, bem novinho, falava: “Pegou o boi Mané Franco? Pegou o boi Mané Franco?”
Ora, Mané Franco que não era bobo nem nada, pegou o bichinho e o levou para casa, onde permaneceu por muitos e muitos anos.

 O PAPAGAIO-PROFESSOR
Mané Franco além de contar a história acima, contava outra, sobre o mesmo papagaio, para demonstrar seu carinho pelo bicho. Esta era sempre contada após a história anterior.
Quando as pessoas iam visitá-lo, ele mostrava o papagaio, que sempre ficava em um galho de árvore perto do alpendre da casa. Dizia Mané Franco que desde que trouxe o papagaio para sua casa, aquele era o lugar predileto da ave.
Naquela época, não existiam escolas. Era costume, então, contratar uma professora que ia até uma casa e de uma vez ensinava a todas as crianças, geralmente irmãos e primos, a ler e escrever. O método era a “cartilha”.
Com Mané Franco não foi diferente. Contratou uma professora para ensinar seus filhos. As aulas eram ministradas no alpendre, onde a professora dizia aos seus alunos: “B com A, Beabá, B com E, Beebé, B com I, Beíbi” e assim por diante.
O papagaio ali, no galho da árvore, prestava atenção a tudo.
Certo dia, o papagaio desapareceu, Mané Franco nem ficou preocupado, pois ele estava acostumado a desaparecer por uns dias e depois voltar. Mas, daquela vez foi diferente, o papagaio não voltou.
Mané Franco ficou triste já que tinha se afeiçoado ao bichinho.
Passou um tempo e sobreveio uma seca horrível. Nenhum pé de árvore tinha resistido. A vegetação ficou cinza. Mané Franco, sempre montado em seu cavalo, estava indo para a cidade quando avistou, de longe, uma árvore bem grande que estava verdinha, verdinha.
Ficou abismado e resolveu chegar perto para ver que árvore era aquela que havia resistido à seca. Quando se aproximou da árvore começou a escutar: “B com A, Beabá, B com E, beebê, Bê com I Beibi”. E aí pode ver que na verdade a árvore estava cheinha de papagaios e no meio deles quem estava? O papagaio dele.
Mané Franco foi logo perguntando: “Que você tá fazendo aí meu loro?” Ao que o papagaio respondeu: “tô ensinando essa cambada de burros a ler, mas não se preocupe que logo, logo vou voltar”.

E, não é que tempos depois o papagaio voltou! E, a todos que chegavam a sua casa Mané Franco contava as duas histórias e mostrava o papagaio, sempre empoleirado no mesmo galho da árvore que ficava perto do alpendre e dizia: “Tá vendo, é por isso que não vendo ele por dinheiro nenhum do mundo”.

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