segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

CONSIDERAÇÕES SOBRE A ESCRAVIDÃO

No Brasil a escravidão está associada aos negros que foram trazidos da África entre os séculos XVI e XIX (um período de 388 anos).
Sobre o tema existem muitas pesquisas que resultaram em excelentes obras que retratam historicamente o regime escravocrata. Contudo, me parece que poucos esclarecem alguns pontos que considero fundamentais para entender as diferenças regionais que foram estabelecidas ao longo do tempo.
Para tanto é preciso retroceder na linha do tempo para preencher a lacuna que existe quando se fala em escravidão, até porque a ideia de igualdade entre os “seres humanos” é muito recente se considerada a longa trajetória das civilizações (datando dos últimos 250 anos).  
Nesses mais de 20 mil anos, desde o aparecimento das primeiras culturas agrícolas e urbanas, muita coisa aconteceu em se tratando de escravidão.
Sempre existiu uma hierarquia entre os “dominadores” e os “dominados”. Os primeiros desfrutaram da liberdade e certa independência, enquanto os outros eram considerados “humanos” de uma classe inferior.
Na antiguidade tanto os assírios, hebreus, gregos, egípcios como os romanos possuíam escravos que eram geralmente capturados nas guerras.
Os escravos tinham um papel de muita importância em todas estas culturas sendo considerada a escravidão legítima e legal. Na Bíblia encontramos várias referências aos escravos e de como eram tratados.
Assim, podemos dizer com probidade que a escravidão é tão antiga quanto a própria história da humanidade.
Muito antes da chegada dos portugueses no Brasil várias etnias indígenas também praticavam a escravidão subjugando membros de outras tribos vencidas em guerras.
Na África não foi diferente. Tudo aconteceu da mesma forma. Na verdade, até hoje temos notícias que no Sudão existem milhares de escravos vivendo de uma forma indigna. Negros que escravizam outros negros. Nesse caso não se trata de diferenças raciais e sim diferenças sociais.
No Brasil a escravidão começa justamente com os indígenas e durou quase 200 anos, e só não se estendeu devido à posição protecionista dos jesuítas aos “negros da terra”, como eram chamados os índios.
Mas, em se tratando de escravidão sempre temos em mente os escravos negros vindos da África, os quais quase sempre são tratados como uma população homogênea quando na verdade isto nunca existiu, já que diversas nações com culturas diferentes foram escravizadas e trazidas para nosso solo.
Debret e Rugendas retrataram em suas telas as diferenças tribais dos negros de Angola, do Congo, Benguela, Cabinda e Mina dentre outras nações. Sendo fácil observar traços faciais diferenciados, como é fato que falavam línguas ou dialetos diferentes e apresentavam variantes culturais distintas.
Logo, o único traço que os igualava era o fato de serem africanos e negros (seres considerados inferiores na hierarquia social da época).
Por outro lado, a elite dominante era branca e de origem europeia (seres considerados superiores na hierarquia social ).
Mas, nem tudo foi sempre uma questão de “preto e branco”. As miscigenações ocorreram gradualmente, sendo fácil encontrar nos antigos registros paroquiais muitos exemplos, como no casamento de ANTONIO FRANCISCO DE BRITO com IGNEZ MARIA DA CONCEIÇÃO, ele pardo livre e ela branca (1798). 
 



Ou de Marcelino dos Santos, índio e Joana, parda cativa (1799).

 Grande parte dos brasileiros descendem das três "matrizes" (índios, negros e brancos). Mas, infelizmente, em se tratando de genealogia é muito difícil recuperar a linhagem genealógica senão aquela ligada aos "brancos europeus". A tecnologia tem ajudado de certa forma com a pesquisa de DNA ancestral que permite identificar a origem geográfica dos ancestrais, mas ainda é muito pouco para quem tem busca os seus antepassados.

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