sábado, 31 de agosto de 2013

HISTÓRIAS DE MANÉ FRANCO - II

A ONÇA
O amor de Mané Franco por seus animais era imenso, razão pela qual vira e mexe, gostava de exaltar suas qualidades. Mas, às vezes se excedia como na história da cadela que era a melhor perdigueira do mundo.
Dizia Mané Franco que estava pastorando suas vacas quando notou certa agitação e viu, de longe, uma onça.
Pegou na espingarda e atirou, mas só conseguiu afugentar a bicha. Resolveu levar as outras vacas para longe dali. Mas, no meio do caminho, uma das vacas morreu. Mané Franco apeou do cavalo, tirou o couro da vaca e colocou os “quartos” dela no cavalo e prosseguiu em seu caminho. Afinal, pensava que não iria desperdiçar a carne.
Já era noitinha e resolveu apressar o passo, mas o cavalo estava cada vez mais lento e estava pendendo para um lado. Mané Franco notou que a onça tinha abocanhado a carne que estava na garupa do cavalo. Ele enxotou a onça e conseguiu chegar em casa. Chamou Inácia e perguntou pela cachorra de estimação, que além de tudo era a melhor perdigueira.
Inacinha disse que a cadela estava amojada, e que estava perto de dar a luz. Mas, Mané Franco disse que não tinha problema, pois queria acabar com a onça ainda aquela noite e que precisava da cadela para guiar o resto da matilha.
Armado com sua espingarda Mané Franco reuniu a cachorrada, inclusive a cadela, que era a líder, montou no seu cavalo e se embrenhou na caatinga seguindo o rastro da onça.
A cadela seguia na frente guiando os outros cachorros. Late daqui, fareja de lá, Mané Franco observou que já havia nascido um cachorrinho, que nem bem nascera já era igualzinho à mãe, latia e farejava o rastro da onça.
Quando Mané Franco chegou perto da onça já haviam nascido nove cachorrinhos, que juntos com a mãe cercavam a onça, deixando-a acuada. Chegando mais perto Mané Franco viu que o último cachorrinho que havia nascido era o mais bravo, pois estava no cangote da onça, grudado, grudado igual a um carrapato.
Mané Franco matou a onça e trouxe a cadela e seus filhotes para casa e vivia repetindo: “Não vendo essa cadela e esses filhotes por dinheiro nenhum”.

O CAVALO
Claro que Mané Franco era apegado a seu cavalo - companheiro de muitas andanças e sobre ele havia uma história.
Contava que vendia queijos na fazenda, mas que um dos seus fregueses comprava fiado e nunca pagava. Depois de acumular uma dívida grande, esse homem sumiu.
Passado um ano, eis que surge na fazenda o mesmo homem arrastando um cavalo pelo cabresto. Era um cavalo magro, quase pele e osso que mal se aguentava em pé.
Ao chegar se desculpou com Mané Franco de não ter vindo antes para pagar a dívida, mas que queria resolver a questão dando o cavalo que conduzia como pagamento.
Mané Franco olhou o cavalo, olhou o homem e pensou: ”se não aceito o cavalo, ele vai querer pegar mais queijos e nunca vai me pagar”. Resolveu então ficar com o cavalo, que não tinha mais jeito. Então, Mané Franco decidiu que não iria gastar ração com o bicho.
Como não tinha coragem de matá-lo, levou o cavalo até um terreno onde só tinha xiquexique e era infestado de cascavel.
Pensava Mané Franco que deixando o cavalo ali, ele iria morrer: ou de sede,
de fome ou picado pelas cobras.
No dia seguinte, foi até o terreno e para sua surpresa, o cavalo estava vivo.
Mané Franco voltou para casa na certeza que do dia seguinte o cavalo não passava.
Voltou no segundo dia, mas de longe avistou o cavalo. Chegando mais perto Mané Franco achou que o cavalo estava mais vistoso, parecia até que estava com a barriga cheia. Mas, cheia de quê se ali só tinha xiquexique e cobra?
Pensou logo que melhor era deixar o bicho ali até o dia seguinte.
E assim fez. No terceiro dia ao chegar ao terreno, o cavalo trotava de um lado para o outro, todo garboso. Relinchava e tinha a barriga bem cheia.
Mané Franco pensou que, se o cavalo tinha resistido três dias ali naquele local,
merecia uma segunda chance. Nem precisou arrastar o bicho. Montou no cavalo e seguiu rumo a sua casa. Ao passar por meio de uma moita o cavalo ficou todo agitado.
De repente, abocanhou a moita e quando Mané franco viu, na boca do cavalo havia uma cascavel que ele engoliu logo em seguida.

Toda vez que alguém chegava a sua fazenda, Mané Franco mostrava o cavalo e dizia: “É o melhor cavalo do mundo, não vendo por dinheiro nenhum. Além de quase nunca beber água, acabou com todas as cascavéis daqui”.

ALDEIAS DA CAPITANIA DA PARAÍBA

ALDEIAS DA CAPITANIA DA PARAÍBA - Séculos XVII e XVIII

ALDEIA DA BAIA DA TRAIÇÃO – Invocação de São Miguel. índios da língua geral.  Missionário religioso do Carmo da Reforma.

ALDEIA DO BREJO. - Invocação de Nossa Senhora da Conceição. Índios da Nação Fagundes. Missionário religioso capuchinho.ALDEIA DA PREGUIÇA – Invocação Nossa Senhora dos Prazeres. índios da língua geral.  Missionário religioso Carmo da Reforma.

ALDEIA DA BOA VISTA - Invocação de Santo Antonio. Índios Canidés e Sucurus, Missionário religioso de Santa Teresa.

ALDEIA DE CAMPINA GRANDE - Invocação de São João, índios da Nação Cavalcante.

ALDEIA DO COREMA Invocação de Nossa senhora do Rosário. Missionário religioso Capuchinho.

ALDEIA DE JACOCA, invocação de Nossa senhora da Conceição, índios de língua geral. Missionário religioso de São Bento.

ALDEIA DOS KARIRIS – Invocação de Nossa Senhora do Pilar. Missionário religioso capuchinho.

ALDEIA DOS PANATIS, invocação de São José. Missionário religioso de Santa Teresa.

ALDEIA DE UTINGA – Invocação de Nossa Senhora de Nazaré, índios da língua geral.  Missionário religioso de São Bento.


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ALDEIA DE SANTO ANTONIO DE BOA VISTA - SUCURÚS E CANINDÉS

Pelo menos nas quatro primeiras décadas de colonização, o contato inicial entre os portugueses e os índios foi amistoso. Os portugueses precisavam da ajuda dos índios para conseguir extrair o pau-brasil, em troca davam todo tipo de mercadoria (colares, facas, miçangas, etc).
Mas, à medida que o comércio do pau-brasil diminui e o cultivo da cana de açúcar se intensifica, os conflitos começam a surgir.
Os portugueses precisavam da terra antes ocupada pelos índios. Os índios, por sua vez, não tinham a menor intenção de abrir mão do seu território, o que foi determinante para a sua extinção.
Na capitania da Paraíba achavam-se diferentes aldeias de índios da nação tapuia.
Tapuya ou tapuio, para os tupis, habitantes das costas do Brasil, eram todas as tribos indígenas que não eram do tronco tupi-guarani e eram consideradas inimigas pelos tupis.
Os sucurus (XUCURÚS OU ZUCURÚS) viviam entre os rios Curimataú e Aracagi, pertenciam a nação Tarairiú, e, juntamente com os Canidés , também Tarairiú, foram aldeados na missão de Santo Antonio de Boa vista, na região hoje ocupada por Solânea.

Alguns registros antigos de Mamanguape apontam a existência destes índios, que se tornaram escravos dos colonizadores brancos. Existem alguns registros que comprovam tal fato, como o abaixo:
imagem family search
Batizado de Manoel, filho de LUZIA, tapuya, escrava de Filipe de Lima, morador da Saquarema. em 03/08/1732.

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Batizado de Firminiano, filho natural de Antonia, tapuya, escrava do tenente Antonio Gomes de Macedo, em 09/03/1732.  Aparece a Capela de BOA VISTA, administração dos sucurus e canindés.

imagem family search
Batizado de Luiza, filha de Joana escrava de João Pimentel, tapuya, batizada em 07/01/1732,

domingo, 18 de agosto de 2013

CAPELA DE SANTO ANTONIO DOS MULUNGÚS (ATUAL MULUNGÚ/PB)

No verbete Villa Real do Brejo de Areia, constante no livro Memórias históricas do Rio de Janeiro e das Provincias Annexas à jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brasil, de Jozé de Souza Azavedo Pizarro e Araújo de 1822, encontramos:
l“No termo d’esta Villa existem a Povoação do Brejo das Bananeiras, que rival e já opulenta disputa também creada em Villa, tendo ahi uma capella dedicada a Santa Anna; a de Gorabira, com outra Capella; a de Boavista também com capella; a de Santo Antonio do Molunga, com a capella dedicada ao mesmo santo; a de Alagoa Grande que, igualmente considerável, conserva a capella de Nossa Sra. Da Boavigem. Além d’essas Capellas há oratórios em Gamelas e Pipirituba”.

Interessante a citação das capelas de Boavista e a de Santo Antonio do Molunga. Quanto a primeira, ao que tudo indica não se trata de referência a BOA VISTA/PB, uma vez que a primeira capela daquela localidade só começou a se construída no final de 1819, e , naquela época todos os serviços religiosos  eram prestados por Campina Grande. Além do mais, o livro, apesar de publicado em 1822, demorou 10 anos para ser compilado, não me parecendo crível que tratava-se de Boa Vista e sim da antiga capela da aldeia de Santo Antonio da Boa Vista (que tratei em outra postagem e que penso ter sido localizada onde hoje é o município de MORENO/PB).

Quanto a capela de Santo Antonio do Molunga não resta nenhuma dúvida que se trata de MULUNGÚ ou MOLUNGA, como consta no Diccionário Geographico, histórico e descriptivo do Império do Brasil – J.C.R Millet de Saint- Adolphe de 1845.:
“Molunga – Povoação insignificante da província da Parahiba no disctrito do Brejo d”Area, com capella da invocação de Santo Antonio.”

Em “Mulungús”, como muitas vezes aparece nos livros paroquiais, havia um grande engenho de açúcar e contava com uma população notável para a época, além da capela que já é citada em 1785, embora a presença de atividade econômica e agrupamento humano date de pelo menos duas décadas antes desta data.
   
Cabe registrar a presença de vários portugueses. Todos oriundos da cidade do Porto, localizada ao norte de Portugal, de onde partiram milhares de imigrantes que buscavam as terras do Brasil. O Porto, como cidade portuária facilitava a travessia do Atlântico.

Neste registro de 1785, vemos o nascimento de Clara, filha de JOSÉ COELHO DE AZEVEDO, natural da cidade do Porto, e de sua mulher FRANCISCA MARIA DOS ANJOS, natural desta freguezia, foi batizada na Capella dos Mulungús em 18 de novembro de 1785, foram padrinhos JOSÉ PINHEIRO de ALMEIDA e THEREZA de JESUS.


 fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

Outros registros, da mesma época, realizados na CAPELLA DOS MULUNGÙS.

 IGNÁCIO, filho de  JOAN DOMINGOS SILVA e sua mulher SEBASTIANA MARIA, batizada em 13/10/1785, foram padrinhos JOSÉ PEREIRA PINTO . Neste registro podemos confirmar que naquele local existiam vários habitantes com o sobrenome PINTO).
  fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

MARIA, filha de JOAN (JOÃO) PEREIRA PINTO e de sua mulher MARIA DE MACEDO, batizada em  11/10/1785. Padrinho  MANOEL RODRIGUES DE MACEDO.
 fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

 MANOEL, filho de SIMÃO GODINHO ESTEVES e sua mulher MARIA LUIZA, batizado em 16/10/1785. Padrinho JOÃO PEREIRA PINTO e sua mulher MARIA DE MACEDO.

 fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

 IZABEL, filha de JOAM PEREIRA PINTO e de sua mulher MARIA DOS PRAZERES, batizada em 4/11/11785. Padrinhos FRANCISCO PEREIRA e sua mulher JOANNA MARIA.



  fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

BRÍGIDA, filha de ANTONIO DE MAGALHÃES e de sua mulher CATRINA DE ALMEIDA. Batizado em 30/10/1785. Parinho FIDELIZ PEREIRA e MARIA ROZA.
  fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

É sempre bom lembrar que o MANOEL JOSÉ PINTO (que acredito ser pai ou avô do meu pentavô MANOEL JOZÉ PINTO)  também residia em MULUNGÚS, conforme tratei em outra postagem. E, como disse,  bem significativo o sobrenome da sua mulher ser OLIVEIRA . Eis o registro
 fonte: family search - registro Batismos Mamanguape

sábado, 17 de agosto de 2013

"HISTÓRIAS" DE MANÉ FRANCO

Sem dúvida, muitos dos membros da minha família já escutaram “as histórias de MANÉ FRANCO”. Muitos pensavam que era figura lendária, que só existia no imaginário popular. Cresceram, como eu, ouvindo suas histórias sem saber ao certo qual sua ligação com tal personagem.
E, transmitiram aos filhos as histórias, geração após geração. Mas afinal quem foi MANÉ FRANCO?
Nascido por volta de 1820/1824, MANOEL FRANCO DE OLIVEIRA, era casado com Ignácia Maria da Conceição (da família LIMA), e, teve muitos filhos, dentre os quais são conhecidos : MANOEL FERNADES DE LIMA, IZABEL FRANCISCA DE LIMA, JOSÉ FRANCO DE OLIVEIRA, JOÃO FRANCO DE OLIVEIRA, JOANNA OLIVEIRA, JOAQUINA EUSTAQUILINA DE OLIVEIRA e ANTONIO RAIMUNDO DE OLIVEIRA FRANCO.
Faleceu em Araruna/PB por volta de 1905.
Nos seus últimos anos de vida, morava em um sítio, nos arredores de Araruna, criando vacas leiteiras e fabricando queijos.
Dedicado ao trabalho, carinhoso com a família, seria um pessoa normal, que passaria despercebida não fosse um pequeno detalhe: Manoel Franco gostava de contar histórias... e, que histórias!
Em uma época e numa região onde o acesso aos meios de comunicação eram escassos, Manoel, conhecido como Mané Franco, fez sua própria história.
Era um notável contador de histórias, ou “causos” e onde sempre era a personagem principal.
Parecia de certa forma, com outro “personagem”, criação do excelente humorista cearense Chyco Anisio, o famoso PANTALEÃO. Mas, ao contrário da ficção, onde a TERTA, esposa de Pantaleão, sempre confirmava suas histórias,. Inácia, ou Inacinha, esposa de Mané Franco, fazia o contrário.
O certo é que mesmo sem o “apoio” de Inacinha, as histórias de Mané Franco ficaram conhecidas em toda a região, ultrapassando a fronteira da Paraíba por
meio de seus descendentes que ainda hoje contam as mesmas histórias.

Vejamos então algumas dessas histórias.

O MELHOR PAPAGAIO DO MUNDO
Naquela época, Mané Franco tinha uma boiada e dia após dia, bem de manhãzinha, conduzia as reses do curral até o pasto que ficava distante a quase duas léguas. Um dia, Mané Franco, montado em seu cavalo, avistou de longe um ninho de papagaio que tinha caído de uma árvore. Chegou perto e constatou que no ninho só havia um ovo.
Apeou do cavalo e se aproximou, observando que não havia nenhuma ave por perto, o que era mau sinal, porque certamente aquele ovo iria se perder.
Então, pegou o ovo e o colocou em uma bolsa que estava acoplada à sela do cavalo, e quando chegasse a sua casa o colocaria para chocar num ninho de galinha.
Sol a pino, lá se foi Mané Franco conduzindo a boiada quando, de repente, uma rês se apartou e em desembalada carreira seguiu rumo diverso, obrigando Mané Franco a persegui-la. Naquela correria, entre solavancos, o ovo, que estava na sela do cavalo que montava caiu no chão. Mané Franco até teve vontade de parar para buscá-lo, mas preferiu perseguir a rês até, finalmente, laçá-la e trazê-la de volta para junto das demais.
Qual não foi sua surpresa, quando no meio do caminho avistou no chão uma coisa verde se movimentando no meio da caatinga. Chegou mais perto e viu que era um papagaio que acabara de nascer do ovo que havia caído no chão,
O papagaio, bem novinho, falava: “Pegou o boi Mané Franco? Pegou o boi Mané Franco?”
Ora, Mané Franco que não era bobo nem nada, pegou o bichinho e o levou para casa, onde permaneceu por muitos e muitos anos.

 O PAPAGAIO-PROFESSOR
Mané Franco além de contar a história acima, contava outra, sobre o mesmo papagaio, para demonstrar seu carinho pelo bicho. Esta era sempre contada após a história anterior.
Quando as pessoas iam visitá-lo, ele mostrava o papagaio, que sempre ficava em um galho de árvore perto do alpendre da casa. Dizia Mané Franco que desde que trouxe o papagaio para sua casa, aquele era o lugar predileto da ave.
Naquela época, não existiam escolas. Era costume, então, contratar uma professora que ia até uma casa e de uma vez ensinava a todas as crianças, geralmente irmãos e primos, a ler e escrever. O método era a “cartilha”.
Com Mané Franco não foi diferente. Contratou uma professora para ensinar seus filhos. As aulas eram ministradas no alpendre, onde a professora dizia aos seus alunos: “B com A, Beabá, B com E, Beebé, B com I, Beíbi” e assim por diante.
O papagaio ali, no galho da árvore, prestava atenção a tudo.
Certo dia, o papagaio desapareceu, Mané Franco nem ficou preocupado, pois ele estava acostumado a desaparecer por uns dias e depois voltar. Mas, daquela vez foi diferente, o papagaio não voltou.
Mané Franco ficou triste já que tinha se afeiçoado ao bichinho.
Passou um tempo e sobreveio uma seca horrível. Nenhum pé de árvore tinha resistido. A vegetação ficou cinza. Mané Franco, sempre montado em seu cavalo, estava indo para a cidade quando avistou, de longe, uma árvore bem grande que estava verdinha, verdinha.
Ficou abismado e resolveu chegar perto para ver que árvore era aquela que havia resistido à seca. Quando se aproximou da árvore começou a escutar: “B com A, Beabá, B com E, beebê, Bê com I Beibi”. E aí pode ver que na verdade a árvore estava cheinha de papagaios e no meio deles quem estava? O papagaio dele.
Mané Franco foi logo perguntando: “Que você tá fazendo aí meu loro?” Ao que o papagaio respondeu: “tô ensinando essa cambada de burros a ler, mas não se preocupe que logo, logo vou voltar”.

E, não é que tempos depois o papagaio voltou! E, a todos que chegavam a sua casa Mané Franco contava as duas histórias e mostrava o papagaio, sempre empoleirado no mesmo galho da árvore que ficava perto do alpendre e dizia: “Tá vendo, é por isso que não vendo ele por dinheiro nenhum do mundo”.

GORABIRA (GUARABIRA)


Alguns historiadores dizem que sua fundação data de 1694, mas com certeza sua ocupação é bem anterior, pois aparece no mapa de MARCGRAVE (1643), incluído no livro de BAERLE de 1647 (Guiraobira).
Imagem pertence ao livro: Baerle, Caspar van. Rerum per octennivm in Brasília, 1647

O mais antigo registro paroquial que achei é de 1783

fonte: family search 

"Bernarda, filha de Victoria, escrava de Manoel de Souza e de sua mulher Josepha Pereira, moradores desta freguezia (Mamanguape), foi baptizada na GORABIRA, lugar desta freguezia aos trinta de agosto de mil sette centos e oitenta e treis, sem  santos oleos, de minha pelo reverendo frei ANTONIO F DE BRITTO TAVARES, religios franciscanos, forão padrinhos Jaronimo Rodrigues e Anastacia Pereira, do que mandei fazer ester termo em que  .... João Ferreyra de Brito Tavares."

domingo, 11 de agosto de 2013

ANNE AUDEBERT (ANA LAMBERT)

Era a caçula dos doze filhos de François Audebert e Gabrielle Reynaud. 
Nasceu em 7/10/1868 em Lês Charreaux (França). 

Casou-se em Hautefort em 15/02/1890 com JEAN LAMBERT.


O casal teve sete filhos: Esther ( 26/11/1890), Félician ( 12/05/1892), nascidos em TOURTOIRAC na França. Hipólito, Rangel, Valdemar, Maurício e João - nascidos no Brasil entre 1896 a 1909.
O casal chegou ao Brasil em 1894 e viveu em Rochedo de Minas (MG), Taruaçu (MG), São João Nepomuceno (MG). Anne ficou conhecida simplesmente ANA
Felician ou Feliciano fixou residência em Argirita - MG e se casou com Sebastiana. O casal teve quatro filhos.
Hipólito se casou com OLGA DELAGE (neta de Leonard Delage e Leonie Lafue - pais de Pierre Delage que se casou com RACHEL AUDEBERT, filha de Henri AUDEBERT). 
Tiveram onze filhos: Annete, Maria de Lourdes, Dalva, Daniel, Miguel, Leacir, Moacir, José Maria, Maria Aparecida, Elizabete e Iracema.
Rangel, teve nove filhos: Maria, Ruth, Josapha, Eva, Tereza, Adão Leacir, Miguel, Ademar e Antonio Carlos.
João se casou com Geraldina e teve onze filhos: Terezinha, Jorge, Maria, Joana, Aladim, Marlene, Antonina, Laurita, Lucilla, Elizabeth e Feliciano.
São muitos os decendentes brasileiros de Anne Audebert, que morreu em Taruaçú por volta de 1940.
Jean Lambert voltou a França para visitar parentes. Foi convocado para a Primeira Guerra Mundial e faleceu em combate. Morreu na França não retornando para o Brasil. 
O paradeiro de Esther é desconhecido.
São muitos os descendentes do casal, muitos ainda conservam o sobrenome LAMBERT.


AURORA AUDEBERT

Era a quarta filha de Guillaume Audebert e Marie Favard. Nasceu no Brasil, em Valença (RJ), no dia 10/12/1899. Recebeu, como de costume na família, o mesmo nome da irmã falecida (AURORA), da qual pouco se sabe, apenas que teria nascido e morrido, criança ainda, no Brasil, sendo desconhecidos os locais onde tais fatos aconteceram.
Registro de nascimento de Aurora - onde se pode observar que os pais Casaram-se em Naillac (França) embora com grafia errada (Tavares ao invés de Favard). Fonte: arquivo pessoal 

Ao contrário de sua irmã, Aurora teve uma longa existência, marcada pela bondade que lhe era peculiar desde a infância, que passou na cidade de Três Rios (RJ).
Criança ativa e inteligente, fisicamente parecida com a mãe (Marie), de quem herdou os olhos azuis e a cor dos cabelos, logo despertou o interesse e carinho de MARIA DAS MERCÊS BOTELHO DE MEDEIROS (esposa de MANOEL PEREIRA GOMES, patrão dos pais de Aurora – GUILLAUME E MARIE).
Maria das Mercês adorava AURORA, e se apegou muito à menina, talvez em substituição ao carinho que tinha por sua filha MERCEDES, falecida em 1897 aos cindo anos de idade.
Não é certo o ano que sua mãe MARIE faleceu (aproximadamente 1911), ocasião que em que Aurora e seu pai GUILLAUME foram morar no Rio de Janeiro.
Seu pai Guillaume faleceu em  27/12/1912 (Rio de Janeiro/RJ).
Bem jovem Aurora foi trabalhar em uma fábrica de enfeites e miçangas para sapatos, localizada no centro do Rio, ocasião em que veio a conhecer DELPHIM MARQUES MENDES, português, filho de Bento Marques Mendes e Helena Roza Mendes, nascido em 27/05/1890.
Carteira de Trabalho de Aurora de 1935, constando já ser viúva e com os três filhos . Fonte: arquivo pessoal.

O namoro foi rápido e, mesmo contra vontade de seu irmão Pierre, Aurora e Delphim casaram-se no dia 27/11/1917, sendo testemunhas Antonio José de Figueiredo e Júlio Marques Mendes (irmão de Delphim).
O casal, durante os quatorze anos que durou o casamento, teve oito filhos: HELENA, NELSON, RUTH, DELPHIM, HAMILTON, HELOÍSA, REGINA CÉLIA e AURORA. Destes, apenas HELENA, HAMILTON E REGINA CÉLIA chegaram a idade adulta.
Delphim, Aurora, e os filhos: Helena, Hamilton e Regina Célia. Fonte: arquivo pessoal

Netos do casal: MARÍLIA HELENA, FRANKLIN, NÁDIA, HAMILTON JÚNIOR, RITA DE CÁSSIA E CÁSSIA MARIA.
Bisnetos: ALEXANDRE, MARIALVA, ANTONIO HENRIQUE, ELOYSA, REGINA, ALICE, LUCIANA, CAROLINA E ROSAMARIA.
Delphim amava caçadas e esportes, chegando a aser campeão de “tiro aos pombos”. Adorava motocicletas, chegando a possuir duas ao mesmo tempo. Faleceu em trágico acidente de motocicleta, por volta de 1933, ao atravessar uma linha de trem.

Aurora ficou viúva com 31 anos de idade e, com muito sacrifício e trabalho criou seus filhos. Era uma excelente costureira, além de fazer crochê e diversos trabalhos manuais. Faleceu no dia 4/12/1984, às vésperas de completar 85 anos 

sábado, 3 de agosto de 2013

A INDÚSTRIA DE CHARQUE NO NORDESTE COLONIAL

Ao contrário do que ocorreu no sul do Brasil, o desbravamento dos "sertões do norte" só se tornou possível com a efetivação dos currais de gado, cuja administração fica a cargo dos vaqueiros.
Segundo Capistrano de Abreu, o couro era artigo fundamental para a vida cotidiana no período colonial. Com o couro fabricavam os arreios, selas, as bainhas das facas, os alforges para levar comida, chicotes, malas, roupas, cadeiras, cordas  a e muitos outros utensílios. Assim, o couro era muito valioso.
A atividade criatória do gado, designada posteriormente de pecuária, já era bem conhecida no Nordeste desde o século XVII. Cascudo diz que, em 1633, o rebanho de gado era calculado em 20.000 cabeças.  
Além do couro, o gado era a força motriz para os engenhos e serviam como meio de transporte (carros de boi). No entanto, sua carne era a grande fonte de alimento que serviu para fixar o homem à terra.
O beneficiamento da carne de gado, com a indústria da carne seca surgiu com  a necessidade de conservar o produto e também para minimizar as perdas que existiam com o transporte do gado vivo. 
Desde dos primórdios da humanidade tanto o sal como a exposição da carne ao sol foram técnicas usadas para obter o resultado desejado. 
No entanto, nos primórdios do século XVIII, surgiu uma técnica de salga e secagem da carne e do couro do boi que impulsionou a economia no Nordeste. As primeiras oficinas surgiram na Capitania do Ceará.
Não se sabe ao certo se tal técnica foi introduzida ou foi desenvolvida pelos nordestinos. O fato é que as "oficinas de carnes" se espalharam, beneficiadas pelo vento, baixa umidade do ar e acesso às salinas (Macau, Mossoró, Açú e Areia Branca).
Foi por conta da grande seca de 1777, que dizimou grande parte do rebanho, que José Pinto Martins emigrou de Aracati no Ceará para a freguesia de São Francisco de Paula (hoje Pelotas) no Rio Grande do Sul onde instalou uma oficina de carnes, dando início a indústria de charque no sul do país.