A ONÇA
O amor de Mané Franco por seus animais
era imenso, razão pela qual vira e mexe, gostava de exaltar suas qualidades.
Mas, às vezes se excedia como na história da cadela que era a melhor
perdigueira do mundo.
Dizia Mané Franco que estava
pastorando suas vacas quando notou certa agitação e viu, de longe, uma onça.
Pegou na espingarda e atirou, mas só
conseguiu afugentar a bicha. Resolveu levar as outras vacas para longe dali.
Mas, no meio do caminho, uma das vacas morreu. Mané Franco apeou do cavalo,
tirou o couro da vaca e colocou os “quartos” dela no cavalo e prosseguiu em seu
caminho. Afinal, pensava que não iria desperdiçar a carne.
Já era noitinha e resolveu apressar o
passo, mas o cavalo estava cada vez mais lento e estava pendendo para um lado.
Mané Franco notou que a onça tinha abocanhado a carne que estava na garupa do
cavalo. Ele enxotou a onça e conseguiu chegar em casa. Chamou Inácia e
perguntou pela cachorra de estimação, que além de tudo era a melhor
perdigueira.
Inacinha disse que a cadela estava
amojada, e que estava perto de dar a luz. Mas, Mané Franco disse que não tinha
problema, pois queria acabar com a onça ainda aquela noite e que precisava da
cadela para guiar o resto da matilha.
Armado com sua espingarda Mané Franco
reuniu a cachorrada, inclusive a cadela, que era a líder, montou no seu cavalo
e se embrenhou na caatinga seguindo o rastro da onça.
A cadela seguia na frente guiando os
outros cachorros. Late daqui, fareja de lá, Mané Franco observou que já havia
nascido um cachorrinho, que nem bem nascera já era igualzinho à mãe, latia e
farejava o rastro da onça.
Quando Mané Franco chegou perto da
onça já haviam nascido nove cachorrinhos, que juntos com a mãe cercavam a onça,
deixando-a acuada. Chegando mais perto Mané Franco viu que o último cachorrinho
que havia nascido era o mais bravo, pois estava no cangote da onça, grudado,
grudado igual a um carrapato.
Mané Franco matou a onça e trouxe a
cadela e seus filhotes para casa e vivia repetindo: “Não vendo essa cadela e
esses filhotes por dinheiro nenhum”.
O CAVALO
Claro que Mané Franco era apegado a
seu cavalo - companheiro de muitas andanças e sobre ele havia uma história.
Contava que vendia queijos na fazenda,
mas que um dos seus fregueses comprava fiado e nunca pagava. Depois de acumular
uma dívida grande, esse homem sumiu.
Passado um ano, eis que surge na
fazenda o mesmo homem arrastando um cavalo pelo cabresto. Era um cavalo magro,
quase pele e osso que mal se aguentava em pé.
Ao chegar se desculpou com Mané Franco
de não ter vindo antes para pagar a dívida, mas que queria resolver a questão
dando o cavalo que conduzia como pagamento.
Mané Franco olhou o cavalo, olhou o
homem e pensou: ”se não aceito o cavalo,
ele vai querer pegar mais queijos e nunca vai me pagar”. Resolveu então
ficar com o cavalo, que não tinha mais jeito. Então, Mané Franco decidiu que
não iria gastar ração com o bicho.
Como não tinha coragem de matá-lo,
levou o cavalo até um terreno onde só tinha xiquexique e era infestado de
cascavel.
Pensava Mané Franco que deixando o
cavalo ali, ele iria morrer: ou de sede,
de fome ou picado pelas cobras.
No dia seguinte, foi até o terreno e
para sua surpresa, o cavalo estava vivo.
Mané Franco voltou para casa na
certeza que do dia seguinte o cavalo não passava.
Voltou no segundo dia, mas de longe
avistou o cavalo. Chegando mais perto Mané Franco achou que o cavalo estava
mais vistoso, parecia até que estava com a barriga cheia. Mas, cheia de quê se
ali só tinha xiquexique e cobra?
Pensou logo que melhor era deixar o
bicho ali até o dia seguinte.
E assim fez. No terceiro dia ao chegar
ao terreno, o cavalo trotava de um lado para o outro, todo garboso. Relinchava
e tinha a barriga bem cheia.
Mané Franco pensou que, se o cavalo
tinha resistido três dias ali naquele local,
merecia uma segunda chance. Nem
precisou arrastar o bicho. Montou no cavalo e seguiu rumo a sua casa. Ao passar
por meio de uma moita o cavalo ficou todo agitado.
De repente, abocanhou a moita e quando
Mané franco viu, na boca do cavalo havia uma cascavel que ele engoliu logo em
seguida.
Toda vez que alguém chegava a sua
fazenda, Mané Franco mostrava o cavalo e dizia: “É o melhor cavalo do mundo, não vendo por dinheiro nenhum. Além de quase
nunca beber água, acabou com todas as cascavéis daqui”.