Extraído do livro GENEALOGIA SERTANEJA - CAPÍTULO III
"Para as regiões em foco (Borborema Potiguar e Brejo Paraibano) o grupo indígena mais importante é, sem dúvida, os TAPUIAS, que habitavam grande parte do interior do Rio Grande do Norte e da Paraíba.
Dividiam-se em diversas nações nomeadas de acordo com a região em que habitavam (Caicós, Curemas, Sucurus, Paiacus, Janduís, Ariús, Pegas, Icós, Caborés, Monxorós, Canindés, entre outros).
Segundo Guarino Alves, do Instituto do Ceará, “... muitas das tribos tinham dois ou mais nomes e estes, por vezes, sobrevieram concomitantemente e chegaram aos dias atuais, dando a falsa impressão de uma pluralidade de tribos, em verdade inexistente. Um era a alcunha que, sempre pejorativa, lhe impunham vizinho ou inimigos, e outra, o termo de que serviam os membros do clã para o designarem” ( Revista do Instituto do Ceará. Província Fluminis Grandis).
Assim é difícil dizer se existiam mesmo todas estas tribos.
Ao contrário dos potiguaras, que eram tupis e habitavam o litoral, os tapuias viviam no interior. Eles eram chamados de “Tarairu”, termo pejorativo que significava “espinho de traíra” (traíra é um peixe).
Segundo consta, eram povos bravios e errantes que viviam da caça e da pesca. Foram praticamente dizimados ao longo da história. Mas, seu sangue ainda corre nas veias de muitos nordestinos, já que esse povo deixou muitos descendentes, fruto do cruzamento com o colonizador português ou com os africanos, que vieram para o Brasil na condição de escravos.
Procurei incessantemente esse meu ancestral indígena, mas até onde retrocedi (cerca de 200 anos) não consegui encontrá-lo. Como a maioria dos brasileiros, sei que é pouco provável que não tenha algum DNA indígena. Fisicamente, meu pai era o típico caboclo (mistura de branco com índio). Cabelos pretos lisos, rosto largo e maçãs salientes e, logicamente, a cabeça em formato característico o que vem a confirmar minhas suspeitas.
Deixando estas considerações de lado, é bom lembrar que todas essas tribos também eram chamadas de Cariris, um apelido que, segundo Câmara Cascudo (História do Rio Grande do Norte – p. 38.) foi-lhes dado pelos tupis, e quer dizer: o calado, o silencioso ou o taciturno. Também eram chamados, pelos próprios tupis, de tapuias ou bárbaros.
Quanto aos potiguares, Hans Staden conta que em 1548, após o navio em que estava ter deixado Prannembucke (Pernambuco), viajou “quarenta milhas adiante, até um porto chamado BUTTIGARIS (potiguares)”. Esta é a mais antiga referência à existência dos potiguares. Elias Herckmans, que foi governador da Paraíba, escreveu a “Descrição Geral da Capitania da Paraíba" em 1639, onde tentou descrever fielmente o que sabia dos tapuias. Seus relatos, no entanto, são preconceituosos, vez que afirma que os tapuias “são homens incultos e ignorantes, sem nenhum conhecimento do verdadeiro Deus ou dos seus preceitos; servem, pelo contrário, ao diabo ou quaisquer espíritos maus, como tratando com eles temos muitas vezes observado... levam uma vida inteiramente bestial e descuidosa. Não semeiam, não plantam nem se esforçam para fazer alguma provisão de víveres.”.
Percebe-se que nos “comentários”, Herckmans considerava os tapuias verdadeiros animais, descuidando-se assim de descrever a sua verdadeira riqueza cultural.
Mesmo assim, quase tudo que sabemos hoje dos tapuias, devemos a ele que os descreveu como homens fortes e de grande estatura, que não tinham barba, andavam nus, e faziam uso do arco e flecha e da azagaia.
Herckmans registra também alguns dos rituais dos tapuias, como a celebração do funeral, onde o morto era lavado e levado para ser assado em uma fogueira, para depois ser comido pelos amigos e parentes. Saliente-se que nem todas as tribos praticavam a antropofagia.
São tapuias os Canindés e os Sucurus, que alguns dizem que habitavam a região de Bananeiras e Solânea. Mas, existe uma grande inconsistência nas informações históricas, razão pela qual não se pode acreditar na veracidade de tal informação.
A título de explicação, Canindé é uma espécie de arara, de tamanho grande que existia em abundância na região. Os índios pegavam os filhotes e criavam nas casas porque “falavam e gritavam” muito. Além disso, utilizavam suas vistosas penas amarelas e azuis para fazerem seus cocares.
Na Paraíba e no Rio Grande do Norte existem muitos descendentes dos tapuias. Mas, segundo Capistrano de Abreu, não é deles que os paraibanos e potiguares herdaram a tão famosa “cabeça chata” (forma de preconceito disseminada até hoje), mas dos próprios potiguaras e tabajaras, índios que habitavam o litoral e as caatingas litorâneas.
Pessoalmente, não concordo com ele. As pinturas de Albert Eckhout, holandês, que viveu no Brasil entre 1637 e 1644, como a índia Tarairu ou Tapuia, retratam fielmente a herança genética de muitos nordestinos, especialmente a circunferência da cabeça.
É bom lembrar que por volta de 1680, os tapuias entraram em guerra para enfrentar os colonizadores portugueses. Foi o maior conflito étnico no Brasil, denominada “Guerra dos Bárbaros”. Domingos Jorge Velho comandou a expedição que dizimou milhares de índios, sendo que os sobreviventes foram levados a trabalhar nas fazendas de gado.
O certo é que é difícil encontrar algum paraibano ou potiguar que não tenha DNA indígena. Daí concluir que também eu tenha algum ancestral tapuia/potiguar é consequência lógica. Não encontrei nenhum, como disse anteriormente.
Mas, como esta pesquisa só chegou até o início do século XIX, sobram três séculos para especulação.
A miscigenação das populações foi grande. Em alguns casos, predomina o “tipo europeu”, não sendo raro encontrar entre os sertanejos gente loira e de olhos azuis.
Já escutei muita gente dizer que tais pessoas eram descendentes dos holandeses que teriam deixado seu “DNA” por aqui, depois da chamada invasão holandesa.
Mas, isto não é verdade. A tal invasão holandesa durou tão pouco tempo (e com reduzido número de homens) que seria impossível haver tantos descendentes assim. Na verdade, o Nordeste foi colonizado por portugueses vindos do norte de Portugal (Douro e Minho), que ao contrário dos portugueses do sul, são louros e de olhos azuis.
Meus bisavós maternos eram do Minho, gente da pele clara e olhos claros.
Na região da Galícia (Norte de Portugal) predominam os louros. Os galegos são, em sua maioria, gente de tez e cabelos claros. O mais interessante, e serve como prova do que estou dizendo, é que no Nordeste, as pessoas loiras são chamadas de “GALEGAS”, uma reminiscência antiga da origem dos ancestrais.
Outra coisa interessante é que os portugueses, de um modo geral, trouxeram para o Brasil séculos de “mistura genética” com os povos europeus, inclusive com os celtas. E, embora os portugueses sejam considerados europeus, os mais de 700 anos de convivência com os mouros do norte da África e com os judeus deixaram suas marcas.
Um estudo recente aponta que 25% dos primeiros colonos portugueses no Brasil eram de fato de origem judaica, os chamados “morenos do mediterrâneo”.
Não precisa nem dizer, que tenho sérias suspeitas de que algum ancestral da minha família também era. Mas, esta é outra história... Tema para outro livro.
Só para constar, em 1819, o Rio Grande do Norte tinha 70.921 habitantes, a grande maioria (cerca de 70%) era formada de “brancos”. Em 2009, a população atingiu 3.200.000 habitantes, sendo que mais de 70% de “mestiços”. Duzentos anos foram suficientes para a miscigenação, fazendo-o um estado tipicamente brasileiro."
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