quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

SOLÃNEA/PB - ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA

SOLÂNEA/PB (ANTIGA MORENO) e a ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA
Desde o início de minhas pesquisas venho, incessantemente, buscando informações sobre a exata localização da antiga ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA.
Segundo HORÁCIO DE ALMEIDA (História da Paraíba), por volta de 1746, os remanescentes dos tarairius, achavam aldeados junto a diversas missões religiosas, dentre as quais a ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA que estaria localizada em Bananeiras/PB.
 Ocorre que Bananeiras, no inicio do século XIX, compreendia várias localidades: Moreno (atual Solânea), Pilões, Borborema, Serra de Araruna, Serraria, dentre outras.
Os livros paroquiais de Bananeiras (a partir de 1836), indicam a existência de muitos moradores na “ALDEIA”, no ‘OLHO D’AGUA DA ALDEIA” e na “CRUZ DA ALDEIA”.  
Mas, tanto nos documentos antigos, como nos atuais, a única indicação de agrupamento humano com este nome encontra-se em SOLÃNEA. Não encontrei nada nos atuais municípios de Bananeiras e Borborema.
No mapa do município de SOLÃNEA  podemos ver que ainda hoje existe ALDEIA. Aliás, minha avó paterna ISABEL ALEXANDRINA BORGES, nasceu naquela localidade, em 1902.  ***** Mapa atual de Solânea – com a localidade chamada Aldeia (com a seta), próxima aos municípios de Bananeiras e Borborema. Fonte: Prefeitura de Solânea.
Segundo Ricardo Pinto de Medeiros no trabalho TRAJETÓRIAS POLÍTICAS DE POVOS INDÍGENAS E ÍNDIOS ALDEADOS NA CAPITANIA DA PARAÍBA DURANTE O SÉCULO XVIII (http://www.ifch.unicamp.br/ihb/Trabalhos/ST36Ricardo.pdf) em 1746, em Mamanguape (não esquecer que naquela época Bananeiras e Solânea pertenciam a Mamanguape) existia a aldeia Boa Vista.
Acrescenta que ... “o conhecimento sobre a relação das populações indígenas com os atuais municípios e a transformação de aldeias e povoados na capitania da Paraíba no período pombalino é um tema que apesar de ter sido explorado pela historiografia paraibana merece um aprofundamento ainda maior, por possibilitar uma visibilidade maior à presença e ressaltar a importância dos povos indígenas na história do Estado da Paraíba”
Já no site oficial da cidade de Bananeiras- PB http://www.bananeiras.pb.gov.br/bananeiras/historia.asp) encontramos  que.a seguinte história.. Coriolano de Medeiros diz que a colonização de Bananeiras iniciou na segunda ou terceira década do Século XVII. Entre seus pioneiros desbravadores, o historiador cita Zacarias de Melo e Domingos Vieira, procedentes da Vila de Monte-mor (a Mamanguape e atual). Eles obtiveram sesmarias na região em 1716, escolhendo glebas nas proximidades de uma lagoa, que corria no fundo de um vale. Ali, existiam ocorrências de pacoveiras, uma bananeira rústica, que produzia frutos inadequados para o consumo humano. Daí surgiu o nome Bananeiras, que passou a denominar o município. Esta é a versão histórica, até hoje aceita pelos estudiosos.
Novais Junior acrescenta um lance romântico à fundação de Bananeiras. Segundo ele, o caçador Gregório da Costa Soares saiu com alguns amigos de um acampamento  Sucurú da Serra do Cuité e conseguiu chegar a Bananeiras, na região do Brejo, a mais de 100 Km de distância. Corria o ano de 1762. Gregório perdeu-se dos companheiros, nos contrafortes da Serra da Cupaóba. Acabou aprisionado por índios da região.
Eram índios antropófagos... Nos rituais de guerra ou religiosos, costumavam devorar os inimigos aprisionados. E este seria o fim de Gregório, se mãos hábeis não desatassem os cipós que o amarravam a uma estaca. Ele ia ser sacrificado na manhã seguinte. O misterioso salvador correu madrugada adentro, com Gregório às costas. Ao amanhecer, o caçador notou que seu anjo benfeitor era uma formosa índia, que o levara a salvo até a aldeia de Santo Antônio da Boa Vista (seria o território que hoje forma Borborema ou Pirpirituba)
A confusão se explica vez que a Aldeia se situa próxima, como dito, a Bananeiras e a Borborema, mas  conforme comprovam os documentos paroquiais de Bananeiras da primeira metade do século XIX o local denominado ALDEIA, já era há muito habitada.
 A bem da verdade eu tentei localizar o mais antigo documento relativo a Aldeia e encontrei menção de MORENO (SOLÂNEA), em 1785, como comprova o registro paroquial de batismo de Mamanguape abaixo.
 Fonte: family search
Neste registro podemos ver que Simplício do Nascimento e Lourença Alvares, pais de Domingos, que foi batizado na capela de Bananeiras, são moradores no MORENO (SOLÂNEA/PB).
É bom esclarecer que há provas de que existiu uma capela de Santo Antonio em Bananeiras, o que me parece indicar que tal capela seja a mesma capela citada nos livros de Mamanguape (Batismos 1808-1816) como Capela de Santo Antonio, diferente da Capela de Santo Antonio dos Mulungus, também citada naqueles livros, que seria localizada na atual cidade de MULUNGÚ –PB.
Todavia, não consegui localizar a tal capela em Solânea, apesar de estranhamente, atualmente, em Solânea a Igreja Matriz é de invocação a Santo Antônio, mas, segundo informação (não confirmada em nenhum livro ou documento) tal igreja só foi construída no final do século XIX, por volta de 1886.
Tal fato é muito estranho, pois geralmente, a capela antecede a igreja.
Se em 1785, Moreno já era povoada fica difícil acreditar que  tenha demorado 100 anos para a construção de algum templo religioso, e que este templo fosse logo uma igreja e não uma capela. Acredito que esta capela antiga foi  abandonada no decorrer dos anos por algum motivo (falta de conservação ou diminuição do número de frequentadores) e, que durante algum tempo (cerca de  décadas) Solânea tenha ficado sem templo nenhum, e, por volta de 1868, tenha sido erguida nova capela, em local diferente,  mas com a mesma invocação (SANTO ANTONIO), a qual deve ter sido o embrião da igreja (maior e com melhor estrutura), que provavelmente foi erguida por volta de 1885-1890, que permanece até hoje (evidentemente após muitas reformas)..
Em relação à antiga capela, é estranho que exista até hoje uma localidade com o nome de ALDEIA no município de Solânea. A palavra aldeia, no Brasil, diferentemente de Portugal, remete aos índios. A dedução lógica é que aquela localidade é a ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA, citada nos livros, onde moravam os canidés e sucurus (ou xucurús),
Para confirmar, Olavo de Medeiros (Tarairus, extintos tapuias do Norteste) , afirma que a “vila de Ararambé”, no antigo sertão de Copoaba (citado por Elias Herckman – Descrição Geral da Capitania da Paraíba) se localizava, pelo Mapa de Marcgrave, na região hoje ocupada por Solânea e Bananeiras. 
Espero que em breve pesquisas venham a confirmar (e resgatar) a história da Aldeia de Santo Antonio da Boa Vista, provando que se localizava em Solânea, onde, com certeza, existem muitos sítios arqueológicos.
O antropólogo Estevão Palitot (www.indiosne.blogspot.com.br) elaborou o seguinte mapa


Um mapa muito interessante, que demonstra a distribuição das tribos indígenas nos séculos XVII e XVIII













 Fonte Gazeta do Sertão (Hemeroteca Digital)
Para quem deseja conhecer mais sugiro ler  MISCIGENAÇÃO NAS VILAS INDÍGENAS DO RIO GRANDE DO NORTE de  Fátima Martins Lopes ou assistir o vídeo postado por diário do brejo  http://www.youtube.com/watch?v=_lboMYqnto8

Um comentário:

Unknown disse...

Parabéns pelo belo texto e pelas explanações.