domingo, 3 de dezembro de 2017

OS SUCURUS E OS CANINDÉS (ALDEIA DE SANTO ANTONIO DA BOA VISTA)

Por mais que sejam feitas pesquisas sobre a história indígena no nosso país ainda persistem muitas lacunas. O conhecimento que temos é muito pouco, já que a dificuldade em resgatar o passado é grande.
Até hoje não sabemos com exatidão qual era a população do Brasil na época do descobrimento, quantas etnias eram, quantas línguas falavam e quais suas origens. Por isso, não podemos dizer quantas dessas tribos eram tapuias e tampouco os lugares que habitavam nos “sertões”.

O certo é que eles foram os indígenas com o maior número de línguas e dialetos, já que os povos que habitavam o litoral falavam, em sua maioria, o tupi.

Os tapuias eram nômades e suas palhoças não passavam de abrigos cobertos de palha, o que dificulta muito as pesquisas sobre eles.
É preciso lembrar que no Brasil as diversas etnias indígenas tinham culturas diferentes. Algumas, por exemplo, não dormiam em redes e sim no chão, e, não cultivavam lavouras, daí ser difícil estabelecer um padrão indígena com tantas variáveis. Todavia, mesmo com tal dificuldade é fácil constatar que todos os indígenas viviam da caça e da pesca e eram coletores. Todos utilizavam a pintura corporal ao invés de roupas.
As características físicas dos diversos grupos se diferenciavam. O tom da cor da pele, o formato dos lábios e do nariz, a altura e outras eram diferentes. 
Os sucurus e os canindés tinham muita coisa em comum: dormiam em redes, faziam suas roças, usavam arcos e flechas, não comiam a carne de caça crua. Ademais, ambos eram treinados para serem guerreiros, fato que contribuiu muito para que fossem recrutados para servir à coroa portuguesa.

É sempre bom lembrar que os canindés têm esse nome justamente em homenagem ao rei Canindé, que era o principal da tribo janduí que liderou uma resistência bem grande a colonização portuguesa que findou com um tratado de paz em 1692. O rei Canindé foi batizado como João Tomas. Era filho de Jandui. Dai seus seguidores e descendentes ficarem conhecidos como canindés, da mesma forma que os seguidores do seu pai ficaram conhecidos como Janduis.  
Foi esse tratado que estabeleceu que os canindés colocassem à disposição do exército português cinco mil guerreiros indígenas para combater qualquer invasor estrangeiro no Brasil em caso de guerra.
Nesse mesmo tratado ficou estabelecido que os canindés fossem livres, desde que fornecessem parte de seus indivíduos para trabalharem nas fazendas de gado sem qualquer remuneração e, com o compromisso que não as atacassem.
É interessante esse tipo de “trabalho” que mais uma vez possuía características de trabalho escravo, mas que foi fundamental para o povoamento nordestino, já que muitas índias foram trabalhar nestas fazendas de gado e se tornaram as matriarcas de muitas famílias.   Essa história de “pegada a laço” (sic) não faz sentido quando sabemos que os próprios índios iam trabalhar nas fazendas de uma forma quase que voluntária após o acordo.
Após esse tratado de paz, os canindés, que viviam livres ao longo dos grandes rios, ficaram segregados em algumas aldeias, sempre disponíveis para trabalhar nas lavouras dos fazendeiros e, eventualmente, como soldados.
Uma dessas aldeias foi a de Santo Antônio da Boa Vista, que já tratei em outra postagem do blog, na qual viviam também os Sucurús (Xucurús).
Algumas pesquisas apontam que tanto os canindés e sucurús falavam, originalmente, o tarairú, que seria afiliada ao tronco macro-gê, os quais estariam agrupados em 22 grandes tribos na época. Outros dizem que os sucurús eram cariris, sendo que me filio a primeira corrente por conta da língua que falavam e os laços de amizade que os uniam.
Não se sabe ao certo quando os canindés e os sucurus foram reunidos na Aldeia de Santo Antônio da Boa Vista, sendo que tudo leva a acreditar que os sucurus já estavam nas redondezas desde antes da Guerra dos Bárbaros. E, depois, de 1698, passaram a defender as fronteiras para a coroa portuguesa.  . Nesse aspecto, é bom lembrar que os sucurús conseguiram sesmaria em 1718 no mesmo lugar em que estavam aldeados, sendo que posteriormente se juntaram a eles os canindés.
Mesmo aldeados e com a proteção da Igreja Católica, representada pelos missionários, os índios sempre eram vítimas de assassinatos.
Em 1744, o Conselho Português escreveu uma carta ao rei sobre a devassa que se instaurou na Paraíba pelos ferimentos causados aos índios do distrito de Bananeiras (que pertencia na época a Mamanguape). Essa devassa se referia a oito mortes e três feridos, fato que teria acontecido em 14/11/1739 na aldeia de índios que existia naquele distrito.
O conselho sugeriu ao rei que mandasse o ouvidor geral da capitania que fosse ao “sítio e aldeia das Bananeiras” tirar a segunda devassa das mortes, mandando prender os culpados para que os crimes não ficassem impunes por tantas mortes dos “miseráveis” índios entre “aquelas gentes que parecem nenhum escrúpulo fazem de os matar”.
Enfim, embora a história tenha que quase apagado os rastros da aldeia de Santo Antônio da Boa Vista, não se pode negar a sua importância com a criação de muitos agrupamentos humanos nas suas redondezas, que foram embriões das futuras cidades de Bananeiras e Solânea (antiga Moreno).

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