Existe um ditado que diz
mais ou menos assim: " quem
conta um conto acrescenta um ponto".
Muitos livros fazem menção
a um fato, e, depois de certo tempo, outros livros passam a fazer referência
aquele fato, propagando a informação original. Encontro, vez por outra, casos
assim.
Desde que iniciei minhas
pesquisas sobre a cidade de Santa Cruz/RN que encontra-se ligada aos meus
ancestrais paternos, encontro sempre a mesma informação sobre a história da
cidade.
Tudo, mais tudo mesmo que
encontrei, é mera repetição . Livros, artigos, sites e todo material escrito
sobre a cidade não contém nenhuma informação nova.
Todos, sem exceção, "contam" a mesma
história.
Procurei a mais antiga
referência desta "história", e, descobri que vem de 1899, quando
Alfredo Moreira Pinto escreveu um verbete no seu livro sobre a cidade. Nele,
reproduz uma carta que teria recebido, em 1888, de um padre contando que " em 1831, Lourenço da Rocha e seu
irmão João da Rocha e José Rodrigues edificaram uma capela dedicada a Santa
Rita de Cássia... etc, etc...".
Verifiquei que tal
informação não tem nenhuma referência, ou seja, prova documental. Nada. Nada
mesmo que venha a confirmar que ela seja verdadeira. Muito pelo
contrário, acredito que seja tão falsa como uma nota de R$ 15,00.
Através de minhas
pesquisas descobri que na fundação da "freguezia de Coité"/PB,
consta no requerimento datado de 12.08.1801, vinte assinaturas, das quais
chamam atenção os sobrenomes OLIVEIRA,
COSTA e LIMA. ( ref. Dats e
Notas para a História da Parahyba - Irineu Ferreira Pinto - Volume I - 1908 -
paginas 223/225).
Consta ainda que seriam
paroquianos da dita freguezia " todos os abitantes, pella parte norte, da fazenda de caisara da Ribeira do Trairi , e os mais pella Ribeira a Sima, de hua, e
outra parte do rio"
Logo, é de se concluir que
a Ribeira do Trairi já era habitada naquela época (1801)
por muitas pessoas.
Havendo uma concentração significativa
na fazenda "de caisara".
Só á título de informação,
como Gilberto Freyre, sempre,
afirmou que a maioria das cidades do Nordeste nasceram da estrutura clássica :
o engenho, a casa-grande e a capela, no agreste, sendo que no sertão, o engenho
foi substituído pelas "fazendas" de criação de gado, chamadas de
malhadas, inicialmente ( ou mero curral de gado) e posteriormente de fazenda caiçara.
Assim, fácil concluir que
a povoação já existia no início do século XIX. Aliás, há referências da criação
de gado nos sertões do Trairí desde o final do século XVII.
Significando, que ao contrário do que encontrei em diversos comentários acerca
da região, ela já era habitada e não totalmente deserta como dizem.
Outro ponto que ninguém
discute é a existência, no requerimento da criação da paróquia de Santa Cruz (datado
de 1835) mais de 80 assinaturas - só homens - significando dizer que de
paroquianos deviam existir, no mínimo quatro vezes mais ( contando mulheres,
crianças e escravos). Resultando em, pelo menos 320 pessoas.
Concordo que grande parte
estava "espalhada" vivendo em sítios, pois a prática comum era esta.
Alguns possuíam casa " na rua" , para onde se dirigiam nos dias de
"feira".
Como todos nós sabemos, as
capelas eram erigidas nas fazendas. E, se doadas á Igreja, haveria de ter um
registro da doação. No caso de Santa Cruz não existe este registro. Pelo menos
que seja divulgado.
Significando,
infelizmente, que o padre que deu a informação a Moreira Pinto, simplesmente
utilizou-se de algum relato verbal, talvez, de membros da própria família dos
citados "fundadores", que na época do relato (1888) eram pessoas
influentes na cidade.
Mas, sem nenhuma
referência histórica.... nada que comprove esta história. Nada mesmo.
O pior que eu achei, foi
que tal história foi finalmente sacramentada pelo Monsenhor Severino Bezerra -
em 1975 (com o Livro sobre a cidade). Aí "virou" oficial....
Tenho alguns dados que me
permitem dizer que inicialmente o embrião da futura cidade era mesmo uma
"malhada" para criação de gado, depois uma pequena povoação onde
havia "ranchos" para a passagem de gado, levados para a Paraíba,
através da Serra de Cuité. A bem
da verdade, existe um relatório que diz que havia "uma indústria" no
Vale do Trairí em 1805 ( no caso seria a produção de
carne e couro)
Com a terrível seca de
1791/92, a povoação aumentou bastante. Retirantes vindos do sertão para a Borborema Potiguar, pois o local era passagem
obrigatória para outras povoações e vilas que surgiam.
O mais interessante, é que
segundo o Livro de Monsenhor Raimundo, a lista publicada em seu livro, não é
encabeçada pelos irmãos ROCHA, o que
seria mais natural, se realmente fossem os fundadores da cidade ( ou construído
mesmo a capela).
Não encontrei até agora,
referências as sesmarias da região. Não encontrei nenhum inventário, Não
encontrei nenhum documento que prove a versão apresentada. E, para falar a
verdade, duvido que exista. Já que, torno a dizer, foi uma criação imaginária.
Pode ser que esteja
realmente sendo drástica ao afirmar, com tanta veemência, tal assertiva. Mas, quero
provas. Não as tenho. As que tenho conduzem em sentido contrário, ou seja, que foram
os outros os fundadores da cidade, os quais, simplesmente, foram
"varridos" da história.
A bem da verdade existe
uma profusão de dados inconcretos.
Por exemplo, o Coronel Ezequiel, é citado muitas vezes como vindo de Araruna ainda jovem. Mas, a verdade é que seu
pai Antonio Justino de Souza, nascido antes de 1840, já
possuía terras naquela região desde 1860, bem antes do nascimento de Ezequiel,
que segundo as mesmas informações teria nascido em 1866.
Acredito que Antonio Justino era filho de Joaquim e Ignácia, sendo irmão de meu trisavô EMIGIDIO JOSÉ DE SOUZA PINTO.
Ainda não tenho a prova
documental do nome do meu pentavô,
nem o local onde vivia. Irei verificar nos livros da Cúria todos os dados sobre
as famílias que busco, e de seus sucessivos casamentos que deram origem aos atuais
descendentes.
Mas, o que me assusta é
realmente a falta de comprovação da história que é contada e recontada.
Não tenho a pretensão de
reescrever a história da cidade, ou derrubar o que considero apenas "um
mito". Quero "encontrar" os meus ancestrais, saber onde viviam,
quem eram.... nada mais.
Está sendo muito difícil.
Tentarei chegar até onde for possível, já que sequer conheço a cidade bem. Sou
uma "alienígena", como digo sempre, e, sei que poderei causar polêmica com minhas pesquisas. Não é esta minha
intenção.
Não sou historiadora, nem
genealogista, sou apenas uma pessoa que deseja reconstruir sua árvore
genealógica, para que futuras gerações dela tenha conhecimento. Só isto